“TUA PALAVRA, SENHOR É LUZ E CAMINHO”

Estamos no 26º domingo do tempo comum. A cor litúrgica é verde, sinal de esperança, de vida renascida em Jesus Cristo. Hoje é dia da Bíblia, o livro da Palavra de Deus. É importante para a nossa experiência de fé o aprofundamento da Palavra de Deus. Mais do que conhecer a Bíblia, requer de nós uma experiência orante da Palavra que oriente a vida e os caminhos por onde andamos.

É edificante e comprometida a palavra de Isaias: “Tal como a chuva e a neve caem do céu e para lá não volvem sem ter regado a terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer, assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado minha vontade e cumprido sua missão”. (Is, 55,10-11). O Apóstolo Tiago insiste: “Tu, porém, permanece firme naquilo que aprendeste e creste. Sabes de quem aprendeste. E desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que elas têm o condão de te proporcionar a sabedoria que conduz à salvação, pela fé em Jesus Cristo. Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra” (IITm 3,14-17). E a carta aos Hebreus exorta: “Porque a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração” (Heb 4,12).

Neste domingo a Palavra de Deus (Mc 9,38-47) adentra em temas polêmicos como expulsar demônios, escandalizar crianças, as diversas formas de pecado, o afastamento de Deus e dos irmãos. No tempo de Jesus, a pessoa que possuía uma doença interna, ou seja, qualquer desequilíbrio psíquico, mental e que em decorrência deste limite as pessoas tinham atitudes não comuns, eram considerados endemoniados. Assim os que tinham ataque de convulsão, a língua amarada, não ouviam bem, tinham sinais de demência, outros desequilíbrios mentais ou psicológicos eram afastados da comunidade e rejeitados pela sociedade. Neste sentido, além das novas descobertas da medicina e das ciências psicológicas, a sociedade tem obrigação de acolher e de integrar na sociedade Um grupo destas pessoas sofridas e rejeitadas veio ao encontro de Jesus. Viam em Jesus um sinal de vida, de acolhimento e de esperança. E Jesus acolheu a todos com amor, carinho e compaixão. Curava, reintegrava na comunidade, devolvia a eles a dignidade, a cidadania e o sentido da vida.

E Jesus dizia: “Em verdade eu vos digo, quem de vós der de beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”. Nesta frase Jesus resume a grandiosidade de sua missão que se expressava no olhar, no atendimento e no acolhimento das pessoas em especial dos mais sofridos da sociedade. A qualidade de nossa fé, não é um sentimento, mas sim se expressa em gestos concretos: “dar de beber um copo de água”. Depois de falar sobre a importância do gesto concreto, Jesus entra em defesa das crianças. E foi duro nas palavras: “E, se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrado ao pescoço”. São palavras que chocam o coração, mas refletem uma realidade profunda na sociedade: “escandalizar, ferir, seduzir e explorar crianças”. Aí estão os crimes de pedofilia, a exploração sexual de menores, a iniciação no mundo das drogas, o trabalho infantil forçado, as crianças que vivem nas favelas, nos cortiços, sem rumo porque os pais não as assumem, filhos de relacionamentos irresponsáveis e tantas outras formas de sofrimento, de dor e de lágrima das crianças. Recordo com dor no coração o menino Aylan Kurdi deitado sem vida na praia. A família fugia dos horrores da guerra e o basco naufragou. Seu sonho de criança, seu futuro, sua vida foi ceifada vitima da guerra e da intolerância religiosa.

O Evangelho afirma que é preciso “arrancar”, “cortar pela raiz” toda forma de mal, de erro, de vícios e de pecado. Acontece a conversão quando se inicia um processo de mudança de vida, de “arrancar” os males, as agressões, o individualismo, o egoísmo e o pecado. O apostolo Tiago (5,1-6) alerta que não devemos ser um vaso enferrujado. “Vosso ouro e vossa prata estão enferrujados, a ferrugem deles vai servir de testemunho contra vós”. O apostolo ensina que não adianta amontoar tesouros, pagar mal os trabalhadores, viver na luxuria e não se importar com os irmãos que sofrem. Pois a vida passa… Os bens devem estar a serviço da promoção humana e não do egoísmo.

Ó Deus, que mostrais vosso poder sobretudo no perdão e na mi­sericórdia, derramai sempre em nós a vossa graça, para que, caminhando ao encontro das vossas

promessas, alcancemos os bens que nos reservais. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

Dom Juventino Kestering

Bispo de Rondonópolis-Guiratinga