Catedral realiza ‘iniciação de adultos a moda antiga’ na Vigília Pascal

Uma cerimônia a ‘moda antiga’ marcou o Sábado de Aleluia na liturgia da Vigília Pascal na Catedral Santa Cruz. Sete catecúmenos adultos foram batizados, receberam a primeira eucaristia e o sacramento do Crisma, pelas mãos do bispo diocesano Dom Maurício da Silva Jardim. “Como antigo costume e tradição na igreja, os batizados de adultos eram feitos pelo bispo, na missa da Páscoa, na Vigília Pascal”, explicou, antes do ato.

FOGO POR ATRITO – Quando falou a extensa liturgia, própria da Vigília de Páscoa, Dom Maurício recordou que nos três anos e meio que – ainda padre – viveu em Moçambique na África, entre 2008 a 2012, viveu uma “experiência inesquecível”. É que lá, o acendimento do Fogo Novo da Vigília não se dava com fósforo ou isqueiro, mas com calor e faíscas produzidos por pelo atrito entre dois pedações de madeira. “As vezes levava 40 minutos, até uma hora para as primeiras fagulhas acenderem o fogo e ninguém ia embora e nem achava ruim”. Pelo contrário, segundo ele, as mulheres “festejavam” o fogo com um canto em forma de ruído produzido pela boca (próprio dos povos africanos e também de alguns indígenas). Dom Maurício pediu as mulheres presentes a celebração repetiram a manifestação, sendo aplaudidas por ele.

O bispo diocesano de Rondonópolis-Guiratinga também recordou que a fé cristã não permite aos católicos parar no “choro do túmulo da sexta-feira da paixão, porque nós católicos cremos em um Deus vivo e ressuscitado hoje na vida do povo. A palavra é Esperança.  A morte não tem a última palavra”, repetiu.

SEXTA-FEIRA SANTA – Na Sexta-feira da Paixão, Dom Maurício também lembrou que a condenação de Jesus não foi um fato isolada. Na prática, as dificuldades da encarnação de Deus no meio do povo, começaram com as dúvidas sobre a gravidez de Maria (que José corrigiu ao ouvir o anjo do Senhor em um sonho). O parto incomum que aconteceu em uma estribaria, por não acharem acolhimento nas hospedarias em Belém. E depois, o exílio de Jesus, ainda bebê, para o Egito (novamente graças a escuta de São José) para fugir da fúria Herodes, que mandou matar todas as crianças abaixo de dois anos. E depois em seu ministério adulto, citou Dom Maurício, Jesus lembra “que o filho do homem não tem onde reclinar a cabeça, porque quando ele sai da casa de seus pais, vive como um andarilho, podemos dizer”.

ATRITOS – Dificuldades que se intensificaram no exercício do ministério de Jesus, lembrou Dom Maurício, com atritos diários das autoridades e costumes da época, entre outras coisas, nas discussões sobre “fazer o bem ou não no dia de sábado”, na passagem do templo corrompido em Jerusalém, quando Jesus expulsa os cambistas e comerciantes e, mais constantemente em relação aos prodígios e milagres que o Senhor operava em favor do povo.

Em Jerusalém, salientou Dom Maurício, as autoridades judaicas, com aval do poder romano, já tinham a decisão tomada de matar Jesus. Ele tinha consciência de sua missão – de que Deus Pai o enviou para salvar o mundo. “Já estava tudo tramado. E ele tomou a firme decisão de entrar em Jerusalém; O que direi? Pai, salva-me desta hora? Se foi precisamente para esta hora que eu vim”, citou o bispo texto do Evangelho de São João, capítulo 12; e lembrou também João 10: “Ninguém tira a minha vida; eu a dou por mim mesmo”.

O PAI QUE SOFRE – Dom Maurício também enfatizou que “é perigoso” achar que Deus tinha planejado tudo e apenas esperava sentado o sacrifício acontecer. “Deus pai enviou sim o seu filho para salvar o mundo, mas o Pai não se diverte com o filho na cruz. O pai sofre vendo o filho na Cruz”, mesmo tendo sido o autor do plano da entrega em favor da humanidade.

“Devemos olhar a sexta-feira Santa não como um dia de luto, mas como um gesto extremo de despojamento de um Deus que se faz homem, que se esvazia por amor a humanidade; se faz pequeno, para entender a todos que sofrem – os doentes, dependentes, foragidos da guerra, que vivem nas ruas, que passam forme, que estão nus e presos”, refletiu Dom Maurício, que encerrou citando João 15, onde está escrito que prova de amor maior não há do que aquele que dá a vida pelos seus.

NILTON MENDONÇA

PASCOM DIOCESANA