I Domingo da Quaresma

“Eís o Tempo de Conversão”

Neste primeiro Domingo do Tempo da Quaresma acompanhamos, no Evangelho de Lucas, Jesus que vai para o deserto e lá sofre as tentações. Um Evangelho repleto de simbolismo e significados para a nossa caminhada de fé como Igreja.

O primeiro gesto do Evangelho é muito revelador. Nos mostra que Jesus vai para o deserto cheio do Espirito Santo e lá era guiado pelo Espírito. Como isso se mostra importante para a vida da Igreja, pois, como nos fala a Tradição da Igreja, o deserto é um lugar que representa um período de transição para grandes transformações na história da Salvação. Assim foi com o povo libertado do Egito que andou pelo deserto durante quarenta anos até alcançar a terra prometida. Jesus nos mostra que precisamos atravessar o deserto da provação para podermos alcançar a graça da salvação. E como bem sabemos, o deserto é um lugar difícil e complicado de se atravessar. Prova maior disso são as tentações que o próprio Jesus sofre enquanto está no deserto. Como é importante estarmos cheios do Espírito Santo para podermos lidar com as tentações em nossa vida, para podermos vencer as dificuldades e tribulações do dia a dia.

Uma vida orientada conforme os valores do Espírito Santo de Deus. Trazermos em nosso proceder aquilo que nos aproxima de Deus e de sua vontade é imprescindível para conseguirmos superar o tentador.

É interessante perceber como satanás tenta Jesus. Se servindo de trechos da Escritura o tentador provoca Jesus a desviar o seu coração de Deus e voltar seu olhar para valores puramente terrenos. Eis a necessidade desta vida no Espírito, pois conhecendo a Vontade de Deus temos a condição de superar aquilo que não é o caminho que Deus quer para nós.

As três tentações apresentam propostas que amarram o coração humano e o aprisionam em uma espécie de egoísmo cruel. A primeira delas – transformar as pedras em pães – aponta para uma necessidade de buscar satisfazer e saciar as nossas vontades, os nossos desejos. A segunda – os reinos do mundo todo – mostra a sede de poder e domínio sobre os outros. E a terceira – pular da parte mais alta do Templo de Jerusalém – revela a ilusão do sucesso imediato e o reconhecimento das pessoas.

Mas é claro que estas tentações são apenas um indicativo de tantas outras realidades que o Maligno lança sobre o coração humano, todas as forças do mal, ódio, violência, vida desregrada e miserável, consumismo, maus tratos, falta de amor.

Todas essas realidades precisam ser superadas pela força libertadora de Jesus. É Ele que, com a sua saberia divina, nos mostra como superar todos esses caminhos. Não podemos nos render diante das forças do mal. Não podemos nos submeter aos caprichos daquele que desde o paraíso vem tentando arruinar a relação do homem com Deus. Jesus nos mostra que podemos sim resistir. Basta a nossa disposição em acolher o Espírito de Deus em nossas vidas. Ouvir a voz de Deus através dos seus ensinamentos e mandamentos que são capazes de conduzir a nossa vida de uma forma digna e plena.

Precisamos nos questionar sempre sobre como a influência do maligno está presente em nós. Muitas das nossas escolhas, de nossas atitudes, de nossas palavras e até mesmo de nossos pensamentos podem ser reveladores dessa presença do mal em nossa vida. Pela fidelidade a palavra de Deus podemos sair vitoriosos desse embate contra as forças do mal.

E vale sempre recordar o final deste Evangelho que diz que terminada a tentação, o diabo se retirou para retornar no tempo oportuno. Precisamos da vivermos toda a nossa vida na presença do Espírito Santo, pois a qualquer momento podemos nos ver cercados pelas amarras do inimigo de Deus. Ele se afasta, mas nós jamais podemos nos afastar de Deus e de seus desígnios sobre a nossa vida. A vigilância faz parte da vida do cristão. Não podemos nos acomodar diante da realidade do mal. Precisamos estar prontos para o momento em que a tentação bate a nossa porta.

Que nossa Igreja possa caminhar junto com Jesus no deserto nesta quaresma, para que com Ele possamos também nós vencermos o demônio tentador.

 

Pe. Jefferson Klayton Vilhame de Aragão

Pároco da Paróquia São Francisco de Assis /Jaciara -MT