DOCUMENTO FINAL DA 42ª. ASSEMBLEIA DO REGIONAL MATO GROSSO

cimi-logo-marron2-354x230Órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

Regional Mato Grosso

Nós, missionários e missionárias do Cimi Regional Mato Grosso, realizamos a 42ª. Assembleia após a Romaria dos Mártires da Caminhada, de Ribeirão Cascalheira. Nesta Romaria fomos convocados a sermos Profetas e Profetizas do Reino. Inspirados por este apelo, refletimos sobre o tema “Indígenas em Contextos Urbanos e a Urbanização nas Aldeias”. Esta problemática constitui-se em um processo histórico que remonta ao início da colonização portuguesa. Vilas e cidades se formaram em locais de aldeias, sobrepondo-se à presença indígena. Com o decorrer do tempo, territórios indígenas foram cortados por ferrovias e estradas e importantes áreas de ocupação imemorial ficaram fora das demarcações físicas. Terras indígenas demarcadas desde o período colonial foram reduzidas por invasões de pecuaristas, madeireiros, garimpeiros, produtores de soja. Territórios indígenas já garantidos foram titulados pelo Estado para terceiros. Grandes projetos financiados com dinheiro público como hidrelétricas, hidrovias e mineração impactam o meio ambiente e ameaçam a vida dos povos indígenas, tal como ocorre com a usina de Belo Monte.

P1050121Em Mato Grosso, a partir da década de setenta, o fluxo migratório se intensificou e as aldeias passaram a ser cada vez mais cercadas por extensas fazendas de gado e, mais recentemente, de monocultura de soja, milho, cana e algodão e pelo surgimento de inúmeras cidades. Esse processo desencadeia violência que atinge os povos originários. Sua história é “apagada” pela superposição de uma cultura que se julga superior. Entretanto, a cidade continua sendo seu território, hoje invadido. Nesse espaço, porém, sofrem toda sorte de discriminação. O acesso aos direitos básicos como saúde, educação e moradia é dificultado.
No atual momento político, essas adversidades estão passando por um recrudescimento, com o aumento do preconceito e discriminação. Os direitos indígenas arduamente conquistados na Constituição de 1988 estão seriamente ameaçados. A criminalização de lideranças indígenas, os despejos e expulsões violentos, os massacres, promovidos por ruralistas e outros grupos econômicos, têm provocado muita dor, com um grande número de mortos e feridos, inclusive crianças. Famílias são desalojadas de suas terras tradicionais, causando mais sofrimento e desolação. O Estado se mostra omisso e conivente com esta gritante situação.

No Congresso Nacional tramitam vários projetos de lei e propostas de emendas constitucionais que visam transformar em legalidade esta situação de opressão imposta por uma economia de morte que destrói as pessoas, a natureza e põe em risco a vida.

Neste ano da Misericórdia para o qual fomos convocados pelo Papa Francisco e no espírito da Laudato Si, não podemos ficar indiferentes a este clamor. Por isso, denunciamos esta situação e conclamamos os cristãos e todos os que estão comprometidos com a construção de uma sociedade justa e solidária a se unirem à luta dos povos indígenas, visto que essa ameaça que pesa sobre eles, pesa também sobre nós e sobre a vida em nosso planeta.

Neste momento em que sistemas econômicos e políticos ameaçam a humanidade, o modo de vida dos povos indígenas aponta para uma convivência respeitosa com a Mãe Terra e com todos os seres vivos. Precisamos estar atentos e dispostos a aprender com a sabedoria deles e, assim, restaurar a harmonia, a esperança e a alegria de viver, de acordo com o projeto de Deus Pai Criador.

 

Nova Xavantina, 20 de julho de 2016.