Se queres, tens o poder de curar-me

INCLUIR OS EXCLUÍDOS

 

Estamos no 6º domingo do tempo comum. Cor verde predomina o ambiente celebrativo. Esperança, vida. Domingo é o dia do Senhor. Dia em que a comunidade cristã se reúne para se encontrar como irmãos, ouvir a Palavra de Deus, celebrar a eucaristia, praticar a caridade com os sofredores,  visitar os doentes, ajudar aos pobres e necessitados.

A pandemia ainda impede a participação ativa de crianças, idosos e pessoas de risco. Diante disso a comunidade transmite as celebrações para o ambiente familiar através das redes sociais.

 A palavra de Deus revela a triste situação das pessoas que sofrem com doenças contagiosas. (Mc 1,40-45). Jesus caminhava anunciando o Reino de Deus. Seguia de cidade em cidade. Multidões o acompanhavam. Eis que um leproso chegou perto, se ajoelhou e pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Jesus cheio de compaixão estendeu a mão, tocou nele e disse “Eu quero: fica curado” e a lepra desaparece e ficou curado. No tempo de Jesus a lepra era uma doença terrível, sem cura.

Os portadores de lepra deviam ficar afastados da família, da comunidade e se escondiam nas montanhas e grutas para não contagiarem os demais. Era uma situação de exclusão, de sofrimento, de isolamento, de solidão. Era a pandemia temida da época.

 Jesus quebra essa barreira e dá atenção ao leproso. Ele queria que aquela pessoa se reintegrasse na sociedade, na família e pudesse viver com condições dignas. Certamente a multidão ficou espantada e se afastou. Mas Jesus se aproximou, tocou e curou. A lepra, nos tempos atuais é uma doença sob controle da medicina, mas a realidade continua com outras formas de doenças e abandonos: São os dependentes químicos, a covid19, os portadores de HIV, alcoólatras, moradores de rua, povos indígenas, os pobres, famintos e tantas outras situações que afligem a sociedade e segregam as pessoas.

Papa Francisco ensina: “Compadecido, Jesus, estendeu a mão, tocou-o e disse: “Quero, fica purificado”. A compaixão de Jesus! Aquele padecer com levava-o a aproximar-se de cada pessoa atribulada! Jesus não Se retrai, antes, pelo contrário, deixa-Se comover pelo sofrimento e as necessidades do povo, simplesmente porque Ele sabe e quer padecer com, porque possui um coração que não se envergonha de ter compaixão. Ele “já não podia entrar abertamente numa cidade; ficava fora, em lugares despovoados”. (Mc 1, 45). Isto significa que, além de curar o leproso, Jesus tomou sobre Si também a marginalização que impunha a Lei de Moisés. Não teme o risco de assumir o sofrimento alheio, mas paga por inteiro o seu preço. A compaixão leva Jesus a agir de forma concreta: a reintegrar o marginalizado. Temos aqui os três conceitos-chave que a Igreja nos propõe na liturgia da palavra hodierna: a compaixão de Jesus perante a marginalização e a sua vontade de integração”.

O cristianismo trouxe a humanidade nova forma de ver as pessoas. Todo ser humano é filho e filha amada de Deus e merece dignidade, respeito e condições de vida. O sistema econômico e social atuais criam novas formas de abandono. São aqueles que não conseguem entrar na lei do mercado e não tem condições de serem consumidores. A concorrência, a competitividade, o estilo de vida, as exigências sociais, os parâmetros de estética e beleza corporal, a cor, o lugar social são modernos meios de exclusão. A fé cristã prima pela caridade, pela promoção humana e acima de tudo pela dignidade da pessoa seja qual for a sua situação existencial.

Papa Francisco alerta: “Quase sem nos dar conta, tornam-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma” (EG 54).

São Paulo ajuda a refletir sobre o agir do cristão na comunidade; “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória do Senhor” (1Cor 10,31). O agir do cristão segue o caminho da justiça, da solidariedade segundo os valores do Evangelho. A atividade humana e o comportamento do cristão iluminam-se em Jesus Cristo. Esse é o lado maravilhoso da vida do cristão. Ele está inserido na comunidade e seu agir está em conformidade com o Evangelho. Nisto consiste uma vida marcada pela alegria, pelo serviço, pelo amor a Deus e aos irmãos. São Paulo insiste que devemos ser imitadores de Jesus Cristo, pois Ele é o modelo de vida.

Um princípio importante para os pais, educadores e sociedade: O modelo de vida das crianças e dos jovens não é um artista, um jogador de futebol, um cantor, mas Jesus Cristo, único capaz de dar sentido para a vida. É por causa de Jesus que amamos os menos favorecidos e os sofredores, pois no rosto de cada pessoa sofredora está presente o rosto de Jesus Cristo.

Rezemos com a Igreja: Ó Deus, que prometestes permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos, por vossa graça, viver de tal modo, que possais habitar em nós. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho na unidade do Espírito Santo. Amém.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes bênçãos sobre cada um de nós. Confortai com vossa bondade os que trabalham em favor da vida ajudando os sofredores e abandonados a reencontrarem a dignidade e o gosto de viver. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo de Rondonópolis-Guiratinga