Sagrada Família

JESUS, MARIA E JOSÉ: A FAMÍLIA DE NAZARÉ

 

Neste domingo após o Natal (27/12) a Igreja celebra o dia da Sagrada Família de Nazaré. Jesus nasceu simples e pobre na gruta em Belém, mas sentiu o amor e carinho da família de Nazaré: Jesus, Maria e José.

Papa João Paulo II, na Carta às Famílias, chamou a família de “Santuário da vida” (CF, 11). Santuário quer dizer: lugar sagrado, espaço de respeito, de diálogo, de perdão, de mútuo crescimento humano, afetivo e espiritual. É neste espaço que a vida é gerada. Desde o berço as crianças aprendem o caminho do respeito, da fé, do amor a Deus e aos irmãos. “A salvação da pessoa e da sociedade humana estão intimamente ligadas à condição feliz da comunidade conjugal e familiar” (GS, 47). As Diretrizes da CNBB (2017-2022) insistem na família como casa, como espaço de encontro, de ternura, lugar de portas abertas.

A Palavra de Deus (Lc 2,22-40) adentra numa realidade concreta das famílias. Ao completarem os dias para a purificação levaram o Menino para apresentá-lo ao Senhor. O evangelho faz questão de lembrar dois nomes que estavam no templo: Simeão, homem justo e piedoso e esperava com ansiedade ver o Messias. Era avançado de idade. Ao ver a criança tomou-a nos braços e bendisse a Deus: “Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque os meus olhos viram a vossa salvação que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel”. Seu pai e sua mãe estavam admirados das coisas que dele se diziam. Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: “Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada transpassará”. Também havia uma senhora idosa chamada Ana, viúva, pobre, mas temente a Deus. “Louvava a Deus e falava de Jesus a todos aqueles que em Jerusalém esperavam a libertação.”

Neste dia a palavra de Deus nos interpela para olhar para as crianças: Uma criança é linda, mas frágil. Não consegue se defender sozinha. Para sobreviver, depende do cuidado, da ajuda dos pais. Muitas crianças são vítimas da própria incapacidade de se defenderem, do descuido da família e da sociedade. Milhares de crianças não chegam a nascer, são abortadas e trucidadas no seio da mãe; outras são jogadas no lixo; são maltratadas, vendidas, abandonadas. Quando a sociedade perde o amor e a defesa das crianças é porque ela está doente, sem valores e sem referencial de dignidade humana.

O menino Jesus, apesar de ter nascido numa gruta fria e longe da cidade, recebeu o carinho e a ternura de sua mãe Maria, de José e dos pastores vizinhos. Até os reis do Oriente o vieram visitar. Mas o coração de Herodes fervia de ódio. Fico pensando na dor e na lágrima das crianças que catam alimentos em lixões; da dor das crianças exploradas sexualmente, a dor das crianças que veem o pai ou a mãe abandonarem o lar, a dor da criança migrante, sem casa, sem residência fixa, a criança que acompanha seus pais de fazenda em fazenda a procura de sobrevivência; a dor da criança com câncer, com insuficiência renal, a criança presa em apartamento, a criança sem espaço para educação infantil, a criança que passa diante de lojas, sorveterias, mercados e restaurante, fixa o olhar nas guloseimas ou nos brinquedos, mas os pais carecem de recursos. Criança, simplesmente criança. E qual o coração humano que não se sensibiliza diante do sofrimento de uma criança!

Apesar dos desafios dos tempos atuais para educar uma família, o ideal deve sempre ser mantido: O relacionamento dialogal entre pais e filhos e o clima de harmonia na família. Tudo aquilo que uma criança vivencia, experimenta, percebe dentro de seu lar, marca para a vida em todas as suas etapas. É na família nascem os valores, a ética, a justiça, a honestidade, da fé e o amor aos irmãos.

O livro do Eclesiástico (3,3-14) traz belas palavras. “Deus honra o pai nos filhos e confirma sobre eles a autoridade da mãe. Quem respeita o seu pai terá vida longa e quem obedece ao seu pai é o consolo de sua mãe. Honrar pai e mãe além de ser um mandamento é caminho para a harmonia na vida dos filhos. O livro do Eclesiástico ainda continua: “Não humilhes os pais nos dias de sua velhice. A caridade feita com teu pai e tua mãe não será esquecida, mas servirá para reparar os teus pecados e na justiça será tua edificação”. Um exemplo edificante é quando os filhos, os netos e bisnetos cuidam com amor e carinho seus pais, avós e bisavós. O autor do Eclesiástico lembra o mandamento da lei mosaica que pede claramente para honrar o pai e a mãe e ainda esclarece que para isso é necessário que os pais amem os filhos. São Paulo ao colossenses (3,12-21) conclama os esposos a se amarem, se respeitarem mutuamente e que o amor esteja acima de tudo.

Neste dia em que a Igreja lembra a Sagrada Família de Nazaré, a Palavra de Deus faz refletir sobre o nosso modo de ser na família. Ela é o ninho sagrado, espaço de amor e de diálogo, ambiente de ternura e proximidade, o melhor lugar do mundo para viver. São Paulo (Col 3,14-17) aponta um caminho para as famílias: “Mas, acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Triunfe em vossos corações a paz de Cristo, para a qual fostes chamados a fim de formar um único corpo. E sede agradecidos. A palavra de Cristo permaneça entre vós em toda a sua riqueza, de sorte que com toda a sabedoria vos possais instruir e exortar mutuamente. Sob a inspiração da graça cantai a Deus de todo o coração salmos, hinos e cânticos espirituais. Tudo quanto fizerdes, por palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.”

Rezemos todos pelas famílias: Deus, nosso Pai, / vós quises­tes habitar numa família humana. / Abençoai os pais, as mães, os filhos e filhas. / Protegei nossas famílias dos males e perigos. / Ajudai-nos a pro­mover nas famílias, / em todos os la­res de nosso país, / os sentimentos e os propósitos / de união, amor gene­roso, fidelidade permanente / e per­severança constante na vossa graça.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo diocesano