Preparai o Caminho do Senhor

Estamos no segundo domingo do advento. A cor litúrgica é roxa. Tempo de expectativa, de esperança e de preparação para o Natal. Esse tempo litúrgico indica a espiritualidade que brota da esperança e da certeza de que somos amados por Deus. Somos merecedores do amor de Deus que enviou seu Filho Jesus ao mundo para ser o Salvador. Ele se encarnou no seio da Virgem Maria e se fez homem, nascendo no meio de nós.

 

 

A Palavra de Deus (Mt 3,1-8) nos ensina: “Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no deserto da Judéia. Dizia ele: Fazei penitência porque está próximo o Reino dos céus. Este é aquele de quem falou o profeta Isaías, quando disse: Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”. Pregar no deserto, pregar em regiões áridas e secas é o símbolo do coração humano que se torna deserto pelo egoísmo, pelo pecado, pela falta de fé, pela corrupção, pela falta de amor e solidariedade com os que sofrem. Há simbolismos lindos na bíblia que falam da aridez, do deserto, da montanha, da estrada cheia de curvas que aparentemente não servem para nada. O profeta Ezequiel (37, 1-14), o relata essa realidade comparando com ossos secos, sem carne, sem vida. Mas Deus faz reviver, ter carne, ter vida. A terra seca transforma-se em vida quando caem gotas de água.  O profeta Isaias (Is 11, 1-11) apresenta o simbolismo do tronco seco. E deste tronco brota um ramo e este ramo traz vida nova. Este ramo é Jesus Cristo, vida nova.

E o Evangelho continua “João usava uma vestimenta de pelos de camelo e um cinto de couro em volta dos rins. Alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Pessoas de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda a circunvizinhança do Jordão vinham a ele. Confessavam seus pecados e eram batizados por ele nas águas do Jordão, O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo. João Batista apresentou-se como o profeta da verdade. Dele brotava um sinal de esperança, uma alegria para o povo. Por isso as multidões acorriam a ele. Porém ele tinha clareza da sua missão. Falava em machado para cortar árvores que não produzem frutos. As pessoas confessavam seus pecados e se dispunham a mudar de vida para produzir frutos. “Eu vos batizo com água, em sinal de penitência, mas aquele que virá depois de mim é mais poderoso do que eu e nem sou digno de carregar seus calçados. Ele vos batizará no Espírito Santo e em fogo. Tem na mão a pá, limpará sua eira e recolherá o trigo ao celeiro. As palhas, porém, queimá-las-á num fogo inextinguível”. 

Quando o coração humano estiver povoado de justiça, amor, vida, fé, caridade, bondade, solidariedade… “então todas as pessoas verão a salvação de Deus”. O Profeta Isaias insiste: “Um ramo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor ao Senhor. Ele não julgará pelas aparências, e não decidirá pelo que ouvir dizer; mas julgará os fracos com equidade, fará justiça aos pobres da terra…, A justiça será como o cinto de seus rins, e a lealdade circundará seus flancos. Então o lobo será hóspede do cordeiro, a pantera se deitará ao pé do cabrito, o touro e o leão comerão juntos, e um menino pequeno os conduzirá”. Sobre este ramo, que é Jesus, repousa o Espírito do Senhor. Ele vem para salvar e não para julgar pelas aparências. Ele vem parta implantar a justiça, a solidariedade, a proximidade, o perdão, a salvação. E neste mundo novo propõe uma mudança radical na sociedade. “o lobo será hospede do cordeiro”. É o sonho de mundo novo, sem divisões e guerras, sem fome e exploração, sem domínio dos poderosos em detrimentos dos fracos.  O Natal será uma experiência do encontro de cada um de nós com Jesus Cristo se ficar imbuídos dos sentimentos que brotam do mistério da encarnação. Deus se humaniza para que nós pudéssemos estar bem perto Dele e Ele nos conduzir pelo caminho da salvação.

Na carta de São Paulo (Rm 15,4-9) encontra-se a instrução: “O Deus da perseverança e da consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Jesus Cristo, para que, com um só coração e uma só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, acolhei-vos uns aos outros, como Cristo nos acolheu para a glória de Deus”. Paulo ensina que Deus em quem confiamos é “Deus da perseverança e da consolação”. Deus próximo, que ama, cuida, perdoa e salva. Mas para que a salvação esteja em nosso meio “acolhei-vos uns aos outros, como Cristo nos acolheu”. O acolhimento, a solidariedade, a fraternidade, a fé, a caridade, a justiça são luzes que nos aproximam de Deus e dos irmãos. Esse é o sentido do advento. Tempo de fazer o amor crescer em nós, tempo de perdoar e reconciliar com o irmão, tempo de buscar a profundidade da fé, de praticarmos a justiça e discernir o que é melhor para a caminhada como cristãos, rumo ao mistério do Natal.

O núcleo central do Natal que é a celebração do Mistério do nascimento de Jesus, mas este acontecimento vai se escorregando para um materialismo com marcas de egoísmo e consumismo. No coração, na mente e no desejo das novas gerações por vezes já não está o menino Deus que nasce na gruta, mas sim a festa, o presente, a música. E assim o deserto vai crescendo no conjunto da sociedade e nos corações humanos. O chamado é ser uma “voz que grita no deserto” do mundo moderno que se afasta de Deus, dos valores da ética, da solidariedade e da vida cristã.

E São Pedro (II Pd 3,8-14) nos exorta: “Deus está usando de paciência para convosco, pois não deseja que alguém se perca” e ainda “vivendo nessa esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre numa vida pura e sem mancha e em paz”.

Rezemos com a Igreja: Ó Deus todo-poderoso e cheio de misericórdia, nós vos pedimos que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso filho, mas, instruídos pela vossa sabedoria, partici8emos da plenitude de sua vida. Por Cristo Senhor nosso, amém.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo de Rondonópolis-Guiratinga