Não tenhais medo

Estamos no 12º domingo do tempo comum. “Tempo comum” é o período que vai desde o dia da Santíssima Trindade até a festa de Cristo Rei em novembro. A cor dos paramentos e do espaço celebrativo é verde. Sinal de vida e de esperança.

Em decorrência do aumento do número de infectados pelo Covid 19, o Conselho Gestor de Crise do município de Rondonópolis, através do decreto de nº 9.570 novamente limitou de as missas presenciais. Este decreto tem validade de 18 de junho a 18 de julho de 2020. Diante desta realidade a diocese baixou normativa a respeito das celebrações. Acima de tudo o cuidado com a vida das pessoas e o fortalecimento da fé através da Igreja doméstica e evangelização através das redes sociais.

A Palavra de Deus (Mt 10,26-33) ajuda a refletir sobre o “medo e a confiança em Deus”. Jesus repete quatro vezes “não tenhais medo”. Quem adere ao Projeto de Jesus, o seu seguimento e anuncio de sua mensagem está sujeito a críticas e incompreensões, pois o seguidor de Jesus defende a vida, promove a justiça, a ética, a tolerância e a solidariedade com os que sofrem. Defende os pequenos e indefesos, cultiva valores como a fidelidade, a sinceridade, a pertença à comunidade. Estes valores por vezes são motivo de comentários e de deboches. Mas o cristão permanece firme naquilo que acredita e convicto no seguimento de Jesus Cristo.

Jesus está presente na comunidade. Ele é o Emanuel, Deus conosco, por isso os cristãos não temem e nem vivem no medo. São convidados a confiar naquele que prometeu estar com seu povo: “Eu estarei com vocês todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20). A confiança em Deus é uma companheira inseparável do “temor”. Quem ama não tem temor. Para o cristão o “temor” a Deus deve se transformar em “amor a Deus”, pois “Deus é amor e que ama permanece em Deus”. O profeta Jeremias (Jer 20,17) nos diz: “Mas o Senhor está ao seu lado”.  Pe. Zezinho, na música “Tua Palavra é assim” canta: “Tenho medo de ouvir teu chamado, virar do outro lado e fingir que não sei. Tenho medo de não responder e não ver teu amor passar Tenho medo de estar distraído magoado e ferido e então me fechar. Tenho medo de estar a gritar e negar-te meu coração tenho medo do Cristo que passa e oferece uma graça e eu lhe digo que não”. Na Palavra de Deus, na escuta, nos gestos concretos, no amor a Deus e cuidado aos irmãos, o medo se transforma em amor, em relação de confiança, em vida.

Quem de nós já não teve medo! Enfrentou momentos difíceis! Vontade de largar tudo! Parecia que a esperança estava cada vez mais distante! São tantos momentos de hostilidade e escuridão; tanto sangue derramado; tantas vidas despedaçadas; tantas esperanças sepultadas… Mas confiantes, as pessoas vão superando. Uns mais, outros menos. Mas quem descobre no caminho da vida a presença de Jesus, todo medo se transforma em esperança, em vida, em caminho, em libertação.

Por vezes procura-se resolver os conflitos, medos e incertezas com na força e até com agressões, com fake News, denegrindo a imagem do outro, ou pior, projetando no outro o que eu vivo no coração e nas intenções. Mas não se pode esquecer pessoas e comunidades que sofrem perseguições em várias partes do mundo. A cada dia vemos guerras, perseguições, crianças e jovens mutilados, mães desesperadas, perseguidos, mortos… uns por poderes dominadores, sistemas econômicos que excluem, outros pela defesa da fé. Quantos mártires por causa da fé doaram a sua vida. O Papa Francisco resume esta realidade do evangelho numa bela oração: “Agora, Senhor, ajudai-nos! Dai-nos vossa a paz, ensinai-nos vossa a paz, guiai-nos para a paz. Abri os nossos olhos e os nossos corações e dai-nos a coragem de dizer: “nunca mais a guerra”; “com a guerra, tudo fica destruído”. Infundi em nós a coragem de realizar gestos concretos para construir a paz. Senhor, Deus de Abraão e dos Profetas, Deus Amor que nos criastes e chamais a viver como irmãos, dai-nos a força para sermos cada dia artesãos da paz; dai-nos a capacidade de olhar com benevolência todos os irmãos que encontramos no nosso caminho”.

Rezemos: “Tornai-nos disponíveis para ouvir o grito dos nossos cidadãos que nos pedem para transformar as nossas armas em instrumentos de paz, os nossos medos em confiança e as nossas tensões em perdão. Mantende acesa em nós a chama da esperança para efetuar, com paciente perseverança, opções de diálogo e reconciliação, para que vença finalmente a paz. E que do coração de todo o homem e mulher sejam banidas estas palavras: divisão, ódio, guerra! Senhor, desarmai a língua e as mãos, renovai os corações e as mentes, para que a palavra que nos faz encontrar seja sempre “irmão”, e o estilo da nossa vida se torne: shalom, paz, Amém”

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo diocesano.