“VIU, SENTIU COMPAIXÃO E CUIDOU DELE” (Lc 10,33)

Texto Base- CNBB pag 7 a 9

O olhar que se eleva para Deus, no mais profundo espírito quaresmal, volta-se também para os irmãos e irmãs, contempla o planeta, identificando a criação como presente amoroso do Senhor. Percebe-se também que não estamos cuidando como deveríamos desse amoroso presente divino. Constata-se que chegamos a um ponto em que até mesmo a nossa condição humana mais profunda esbarra em uma série de angustiantes indagações. O que aconteceu conosco? O que vem ocorrendo com a humanidade, que, embora percebendo o aumento dos números de sofrimentos, parece não mais sensibilizar-se com eles? Teríamos deixado se perder o sentido mais profundo da vida? Diante, por exemplo, de concepções de felicidade individualista e consumista, não estaríamos nos esquecendo do significado maior da existência? Por que vemos crescer tantas formas de violência, agressividade e destruição? Perdemos, de fato, o valor da fraternidade?

 

  1. Em meio aos inúmeros e ricos textos bíblicos que podem iluminar a nossa Quaresma, um deles é destacado pela Campanha da Fraternidade deste ano, tornando-se referência para tudo o que viermos a rezar, refletir e agir: “Um doutor da Lei se levantou e, para experimentar Jesus, perguntou: “Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” Jesus lhe disse: “Que está escrito na Lei? Como lês?” Ele respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento j e a teu próximo como a ti mesmo!” Jesus lhe disse: “Respondeste corretamente. Faze isso e viverás”. Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?” Jesus retomou: “Certo homem descia dg Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de assaltantes, que lhe arrancaram tudo, espancaram-no e foram embora, deixando-o meio morto. Por acaso descia por aquele caminho um sacerdote, mas ao ver o homem, passou longe. Assim também um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante pelo outro lado. Um samaritano, porém, que estava viajando, chegou perto dele e, ao vê-lo, moveu-se de compaixão. Aproximou-se dele e tratou-lhe as feridas, derramando nelas azeite e vinho. Depois, colocou-o sobre seu próprio animal e o levou a uma hospedaria, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou dois denários e deu-os ao dono da hospedaria, recomendando: ‘Cuida dele, e o que gastares a mais, eu o pagarei quando eu voltar’. No teu parecer, qual dos três fez-se o próximo do homem que caiu nas mãos d assaltantes?” Ele respondeu: ”Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze o mesmo” (Lc 10,25-37).
  2. Essa parábola, proposta por Jesus em seu caminho de subida a Jerusalém (Lc 9,51-19,27), é parte da explicação do que seria necessário fazer para entrar na vida eterna. Esse tipo de questionamento era muito comum naquele tempo já que existiam mais de 613l eis e outras prescrições pontuais a serem cumpridas para se chegar a esse fim. Por essa razão, vendo a impossibilidade de cumprir fielmente todos os mandamentos, o doutor da lei questiona Jesus sobre o que realmente não poderia deixar de ser feito para herdar a vida eterna.
  3. “Que devo fazer?’: A busca pelo cumprimento exato das prescrições da lei deveria ser seguida do esforço pessoal para colocá-las em prática. Diante da questão, Jesus responde com uma nova pergunta com a qual indaga sobre o conteúdo das Escrituras. O que elas dizem sobre o que fazer para herdar a vida eterna? A resposta oferecida pelo doutor da lei a Jesus conecta Dt 6,5 a Lv 19,18 criando um mandamento único composto de duas partes: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento, e a teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10,27).
  4. A Jesus não interessava inserir um novo ensino teórico sobre os deveres em relação ao mandamento do amor a Deus e ao próximo. Diante da segunda pergunta do doutor da lei, “Quem é meu próximo?”, Jesus propõe uma nova perspectiva e uma nova possibilidade de realizar tal mandamento, divergindo do que havia sido proposto. Os mestres fariseus já haviam ensaiado muitas vezes respostas sobre quem seria o próximo citado em Lv 19,18. No entanto, suas respostas oscilavam sempre entre as ligações nacionais, étnicas, afetivas, sociais e religiosas. No texto do Antigo Testamento, o próximo era o compatriota, membro do povo de Deus e também aquele que tinha sido inserido no povo na medida em que assumia sua religião e seus costumes (Lv 19,33-34).
  5. A parábola é composta por cinco personagens anônimos, indicados apenas por suas etnias ou funções, e ocorre em um local de fácil compreensão para alguém daquele tempo. Por isso, embora seja uma parábola, a história narrada possui grande possibilidade de ter sido, ao menos em parte, um fato que realmente aconteceu na estrada que ligava Jericó a Jerusalém. Um homem, vítima de salteadores, é deixado quase morto, à beira da estrada. O fato de ter sido agredido leva a pensar na possibilidade de t r resistido ao assalto, o que lhe teria ocasionado a agressão quase fatal e o abandono à beira da estrada, não sendo mais capaz de fazer algo por si mesmo.
  6. Dois transeuntes oriundos do templo o sacerdote responsável pelos sacrifícios e o levita responsável pela animação da liturgia retornam de Jerusalém após concluírem seus turnos de trabalho e agem com indiferença diante daquele que jaz sofrendo à beira da estrada. Não se descreve o motivo da indiferença. Poderia ser por motivos culturais religiosos (se fossem contaminados com o sangue ou o homem viesse a morrer) ficariam impuros (Lv 15; 21,11) ou simplesmente por não desejarem interromper a viagem, não mudarem seus planos, não terem seu trajeto e horário prejudicados por esse acontecimento. De qualquer forma dito que viram o homem e se distanciaram dele seguindo o trajeto anteriormente proposto.
  7. Um samaritano que passava ao ver o homem sentiu compaixão. Essa compaixão nasceu do seu modo diferente de olhar, do seu modo diferente de perceber aquela realidade. Essa compaixão o levou a se aproximar do homem, gastar tempo modificar parcialmente sua viagem, tudo para não ser indiferente com aquele que sofria diante dele. Os cuidados práticos descritos na parábola são emergenciais: desinfeta as feridas com vinho e alivia a dor com o óleo, costumes daquele tempo: transporta o homem até a hospedaria e paga as despesas de sua estada.
  8. A postura inesperada do samaritano contém o centro do ensinamento de Jesus: o próximo não é apenas alguém com quem possuímos vínculos, mas todo aquele de quem nos aproximamos. É todo aquele que sofre diante de nós. Não é a lei que estabelece prioridades, mas a compaixão que impulsiona a fazer pelo outro aquilo que é possível, rompendo dessa forma, com a indiferença. A fé leva necessariamente à ação, à fraternidade e à caridade.
  9. A vida nos traz oportunidades de concretizar a fé em atitudes bem específicas. Para perceber os outros, principalmente em suas necessidades, não bastam os conceitos, mas sim, a compaixão e a proximidade. Não se deve questionar quem é o destinatário do amor. Importa identificar quem deve amar e não tanto quem deve ser amado, pois todos devem ser amados, sem distinção. Não importa quem é o próximo. Importa quem, por compaixão, se torna próximo do outro (Lc l0,36). A medida do amor para com o próximo não é estabelecida com base em pertença religiosa, grupo social ou visão de mundo. Ela é estabelecida pela necessidade do outro, acolhendo como próximo qualquer pessoa de quem se possa acercar com amor generoso e operativo. Isso abre uma nova perspectiva nos relacionamento, excluindo a indiferença diante da dor alheia.
  10. No final da narrativa, Jesus se dirige novamente ao doutor da lei com uma nova pergunta: “No teu parecer, qual dos três fez-se próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” (Lc 10,36). Desse modo, afirma Papa Francisco, Jesus inverte a pergunta do seu interlocutor e também a lógica de todos nós. Cristo nos faz entender que não somos nós, com base em nossos critérios, que definimos quem é o próximo e quem não é, mas é a pessoa em situação de necessidade a quem devemos reconhecer como próximo, isto é, usar de misericórdia para com ela.
  11. “Ser capazes de sentir compaixão: essa é a chave”. Essa é nossa chave. Se, diante de uma pessoa necessitada, você não sente compaixão, o seu coração não se comove, significa que algo não funciona. Fique atento, estejamos atentos. Não nos deixemos levar pela insensibilidade egoística. A capacidade de compaixão se tornou a medida do cristão, ou melhor, do ensinamento de Jesus.

  1. Discursando aos párocos da diocese de Roma sobre o significado da misericórdia para um presbítero, Papa Francisco apresenta a proximidade, a afinidade e o serviço com critérios para a ação pastoral. Atitudes que nascem de uma autêntica escuta nos questionam sobre a compaixão que habita em nossos corações e é expressa em nossas atitudes. Interpela-nos o Santo Padre:
  1. “Tu choras? Ou perdemos as lágrimas. Recordo os missais antigos continham uma oração extremamente bonita para pedir o dom das lágrimas. A oração começava assim: ‘Senhor, vós confiastes a Moisés o mandato de bater na pedra para que dela brotasse água, batei na pedra do meu coração, para que eu verta lágrimas. (…) quantos de nós choram diante do sofrimento, de uma desgraça, perante a destruição de uma família, diante de tantas pessoas que não encontram o seu caminho’?

  1. Recordo o exemplo de moradores de rua e de como nos comportamos diante de alguém caído no chão, Papa Francisco mais uma vez nos provoca: “Pergunte a si mesmo se o seu coração não endureceu, se não se tornou gelo ( … ). A misericórdia, diante de uma vida humana em situação de necessidade, é a verdadeira face do amor. Que a Virgem Maria nos ajude a compreender e, sobretudo, a viver sempre mais o elo indissolúvel que existe entre o amor a Deus, nosso Pai, e o amor concreto e generoso pelos nossos irmãos e nos dê a graça de ter e crescer na compaixão”! O Bom Samaritano nos inspira e ensina como vencer a globalização da indiferença.
  2. O rompimento da indiferença torna o samaritano mais humano. A compaixão expressa o zelo aos moldes de Deus: aproximar-se e fazer-se útil ao outro. Servi-lo! Ver, sentir compaixão e cuidar apresentam-se como um autêntico PROGRAMA QUARESMAL: 1) escuta da Palavra que converte o coração: 2) verdadeira atenção pelos outros, 3) romper com a indiferença frente ao sofrimento: 4) disponibilidade para o serviço. Torna-se, assim, visível a corresponsabilidade da vida humana, pois somos todos irmãos e irmãs (Mt 23,8) e, por isso, responsáveis uns pelos outros. Assim se define a vida!
  3. Quaresma é tempo favorável para sairmos de nossa alienação existe existencial causada pelo pecado, Tempo de abertura ao mistério da dor e morte e da cruz, do Crucificado, Vencedor da morte. Nele somos conduzidos à graça da vida plena, que é o encontro com Deus e a aceitação vontade salifica. Por essa razão, o Evangelho abre nossos olhos para vermos a grandeza e a profundidade do viver em Cristo. Graças à escuta da Palavra percorremos um itinerário que que nos deixa intuir a preciosidade da existência cristã e vivermos na liberdade e na verdade de ser filhas e filhos de Deus. A escuta também é profecia: escutar a voz de Deus em sua Palavra e ouvir a palavra daqueles que já não conseguem nada!
  4. A Igreja nosrecorde esse caminho de vida nova em Cristo e com Cristo pede jejum, oração e esmola. O jejum ajuda a esvaziar-se, abrir-se ao outro. No vazio de nós mesmos somos fecundados pela gratuidade da vida de Jesus crucificado, vazio de si, é entrega suave-sofrida ao Pai: “em tuas mãos entrego o meu espírito (Lc 23,45). No jejum somos reintegrados! A oração, diálogo de amor, de amizade, é aproximação, nova relação, exposição, ocasião em que somos tocados pela amorosidade de Deus. Uma súplica de afeto e amor: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (Mt 27,46). Esmola: partilha de vida, cuidado amoroso liberdade de entrega. A esmola é encontro com o próximo, é exercício de compromisso com o dom da vida, pois, “para o outro, o próximo é você” (CP 1969).
  5. “Se, por meio das obras corporais, tocamos a carne de Cristo nos irmãos e irmãs necessitados de serem nutridos, vestidos, alojados, visitados, as obras espirituais tocam mais diretamente o nosso ser de pecadores: aconselhar, ensinar, perdoar, admoestar, rezar. Por isso, as obras corporais e as espirituais nunca devem ser separadas. Com efeito, é precisamente tocando, no miserável, a carne de Jesus crucificado que o pecador pode receber, em dom, a consciência de ser ele próprio um pobre mendigo. Por essa estrada, também os soberbos, os poderosos e os ricos, de que fala o Magnificat, têm a possibilidade de aperceber-se que são, imerecidamente, amados pelo Crucificado, morto e ressuscitado que o pecador pode receber, em dom a consciência de ser ele próprio um pobre mendigo. Por esta estrada, também os soberbos, os poderosos e os ricos, de que fala o Magnificat, tem a possibilidade de aperceber-se que são, imerecidamente amados pelo Crucificado, morto, ressuscitado também por eles
  6. Jesus é o verdadeiro bom samaritano que se aproxima dos homens e das mulheres que sofrem e, por compaixão, lhes restitui a dignidade perdida. A encarnação é sinal concreto da proximidade de Deus que salva aqueles que jazem nos sofrimentos. A perspectiva do Paraíso eterno orienta a vida ainda no momento presente e convida os homens e as mulheres a terem em si os mesmos sentimentos que estão no coração misericordioso de Cristo, apresentando, assim, o anúncio do reino de Deus e ressignificando a vida humana como dom e compromisso.
  7. “O próprio Jesus é o modelo dessa opção evangelizadora que nos introduz no coração do povo. Como nos faz bem vê-lo perto de todos! Se falava com alguém, fitava os seus olhos com uma profunda solicitude cheia de amor: Jesus, fitando-o, com amor’ (Mc 10,21. Vemo-lo disponível ao encontro, quando manda aproximar-se o cego do caminho (Mc 10,46-52) e quando come e bebe com os pecadores (Mc 2,16), sem se importar que o chamem de comilão e beberrão (Mt 11,19). Vemo-lo disponível quando deixa uma prostituta ungir-lhes os pés (Lc 7,36-50) ou quando recebe, de noite, Nicodemos (Jo 3,1-15). A entrega de Jesus na cruz é apenas o culminar desse estilo que mareou toda a sua vida. Fascinados por esse modelo, queremos inserir-nos a fundo na sociedade, partilhamos a vida com todos, ouvimos as suas preocupações, colaboramos material e espiritualmente nas suas necessidades, alegramo-nos com os que estão alegres, choramos com os que choram e comprometemo-nos na construção de um mundo novo, lado a lado com os outros. Mas não como uma obrigação, nem como um peso que nos desgasta, mas como uma opção pessoal que nos enche de alegria e nos dá uma identidade” (EG, n. 269.6
  8. Na busca de transformação e santificação a Igreja no Brasil oferece às Comunidades no tempo da Quaresma uma realidade para ser refletida, meditada e rezada. É a Campanha da Fraternidade que neste ano tem como tema: “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso” e como Lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10, 33-34).
  9. Fraternidade e Vida! Pelo Verbo de Deus tudo foi criado e no faça-se! (Gn 1)3)) quando tudo passou a existir) a vida divina foi irresistivelmente comunicada como um transbordamento do amor Trinitário.’ Todos os seres animados e inanimados como efusão do amor de Deus foram criados por amor. Nada escapa ou está fora desse amor. Assim Deus vem ao nosso encontro, pois quer ( … ) comunicar a sua própria vida divina aos homens criados livremente por ele para fazer deles no seu Filho único, filhos adotivos” (CIgC) n. 52). Essa comunicação de Deus nos permite conhecê-lo e amá-lo e assim participamos da glória amorosa da Trindade Santa.
  1. VIDA23. Dom e Compromisso! A vida é um dom que recebemos de Deus e que somos chamados a partilhar em busca da plenitude: “De tal modo Deus amou o mundo, que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”. Deus tudo disse no seu Verbo encarnado: “Cristo o Filho de Deus feito homem é a Palavra única perfeita e insuperável do Pai” (CIgC n. 6S). Eis o nosso compromisso para com essa vida dom de Deus: levá-la à plenitude de Cristo. Criados à sua imagem e semelhança somos filhos no Filho e os seus gestos de fraternidade nos ensinam este caminho: “Viu sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34).
  2. Vida é Dom de Deus! “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Jesus Cristo não apenas anunciou mas Ele mesmo é a plenitude) a consumação de toda a vida. O seu viver sua pregação sua morte e Ressurreição despertam para o sentido da vida e assim Ele mesmo se revela para nós como o Caminho a Verdade e a Vida! (Jo 14,6). Ele anuncia o ano da graça do Senhor, pois, na unção, proclama a liberdade aos presos no corpo e na alma, oferece visão aos cegos sem horizontes, liberta e alivia os oprimidos pela ganância e egoísmo; é a Boa-nova da solidariedade e da gratuidade para os pobres e desamparados (Lc 4,16-19).
  1. da é compromisso fraterno. A vida como dom nos conduz a um compromisso. Despertamos para a responsabilidade de nos a existência e de todas as criaturas. Compromisso como promessa de permanecer junto de, comprometer-se com. É o que lemos e vemos na parábola do bom samaritano. Ele permanece junto ao assaltado e garante-lhe acolhimento e cuidado: VER, SENTIR COMPAIXÃO e CUIDAR serão os verbos de ação que nos conduzirão no tempo quaresmal. Que possamos nos dispor a uma profunda conversão da cultura da morte para a cultura da vida.

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2020

 

 Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34).