Desapegar-se

OS ENSINAMENTOS DE JESUS 

 

Estamos no 23º domingo do tempo comum. A cor litúrgica dos paramentos e do espaço litúrgica é verde. Setembro é mês da Bíblia, por isso as celebrações enfatizam o Livro da Palavra de Deus.

Neste final de semana a Palavra de Deus nos desafia: Ou seguimos o projeto de Jesus Cristo ou construímos os nossos projetos de vida que nem sempre são os projetos de Deus. No Evangelho (Lc 14,25-33) Jesus adentra no âmago de sua missão: Seguir o Mestre. Jesus percebia que multidões o procuravam para escutá-lo, ver seus milagres e buscar algo para a sua vida. Jesus quer dar um passo adiante: o seguimento, a adesão, a conversão, a experiência de segui-lo. E propõe caminhos. “Desapegar-se”. Deixar de olhar somente para si, para seus interesses, para suas vantagens e abrir a vida para um projeto amplo que requer o “desapegar’. Desapegar-se das coisas secundários para dedicar a vida no essencial, no seguimento, na participação na comunidade, na missão, no esforço pela justiça, pela ética, pelos valores do evangelho, pela harmonia na família e na sociedade.

Papa Francisco (EG.13) adverte que “a alegria evangelizadora refulge sempre sobre o horizonte da memória agradecida: é uma graça que precisamos de pedir. Os Apóstolos nunca mais esqueceram o momento em que Jesus lhes tocou o coração: “Eram as quatro horas da tarde” (Jo 1,39). A memória faz-nos presente, juntamente com Jesus, uma verdadeira “nuvem de testemunhas” (Heb 12,1). De entre elas, distinguem-se algumas pessoas que incidiram de maneira especial para fazer germinar a nossa alegria de quem crê: “Recordai-vos dos vossos guias, que vos pregaram a palavra de Deus” (Heb 13,7). Às vezes, trata-se de pessoas simples e próximas de nós, que nos iniciaram na vida da fé: “Trago à memória a tua fé sem fingimento, que se encontrava já na tua avó Lóide e na tua mãe Eunice” (2Tm 1,5). O crente é, fundamentalmente, uma pessoa que faz memória”.

Segundo é “carregar a cruz e seguir”. Jesus não é um masoquista que quer a dor e o sofrimento para os seus seguidores. O cristianismo não é uma religião da dor, da culpa, do sofrimento. É religião da vida, da alegria, da partilha. Mas o seguimento exige renuncia. A cruz fez parte na vida de Jesus e também acompanha a vida dos seguidores. Nossa missão é passar da dor, do sofrimento, para a ressurreição, para a vida. Muitos cristãos e não cristãos carregam histórias de cruzes pesadas na vida. São as guerras, a violência, a fome, as mutilações, a pobreza, a doença, o abandono. E o que mais dói é o sofrimento de crianças e idosos indefesos. “Planejar”. O seguidor de Jesus Cristo não anda perdido, sem rumo, sem comunidade, sem, horizonte. A ação evangelizadora dos seguidores de Jesus caracteriza-se como ação planejada, capaz de produzir frutos. Planejar é colocar fundamentos sólidos na vida. É pensar no hoje e no amanhã da comunidade, da família e da sociedade. “Renunciar”. Essa palavra está hoje fora de moda. Prevalece a busca dos próprios interesses, aquilo que traz resultados imediatos, satisfação, ser diferente, ter visibilidade, realizar a individualidade. Não resta dúvida de que estas atitudes acima citadas têm valor na vida do cristão, mas não podem fechar a pessoa em si e se esquecer do outro. Renunciar é mais do que se abster de algo. Renunciar é buscar o que nos leva em direção ao irmão, que ajuda construir o Reino de Deus, que promove a paz e a harmonia. Renunciar é deixar de lado o que amarra a pessoa em seu egoísmo e libertar-se em direção do outro, na família, casamento, comunidade, nas relações pessoais, sociais e na sociedade.

Papa Francisco insiste numa Igreja em saída. Afirma que “na Palavra de Deus, aparece constantemente este dinamismo de saída, que Deus quer provocar nos crentes. Abraão aceitou a chamada para partir rumo a uma nova terra ( Gn 12,1-3). Moisés ouviu a chamada de Deus: “Vai; Eu te envio” (Ex 3, 10), e fez sair o povo para a terra prometida (Ex 3, 17). A Jeremias disse: “Irás aonde Eu te enviar” (Jr 1, 7). Naquele “ide” de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados a esta nova saída missionária. Cada cristão e cada comunidade há-de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho”. A alegria do Evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos, é uma alegria missionária. Experimentam-na os setenta e dois discípulos, que voltam da missão cheios de alegria.

Para que estes caminhos sejam construídos em cada pessoa e nas comunidades o livro da Sabedoria (9,13-18) clareia. “Qual é o homem que pode conhecer os desígnios de Deus? Ou quem pode imaginar o desígnio do Senhor”. É Deus que inspira nossas boas ações e abre para nós os caminhos na vida. Ele nos faz entender o que é “desapegar, carregar a cruz e seguir, planejar e renunciar”. É a luz do Espírito Santo que nos faz compreender os caminhos de Deus. Papa Francisco usa as palavras: Primeirear, tomar iniciativa. Envolver-se, tomar parte com alegria. Acompanhar, estar presente, visitar, revisitar. Frutificar, a ação missionária deve produzir frutos e festejar, celebrar, alegrar-se, agradecer.

Um exemplo é dado na carta a Filemon (9,12-17). São Paulo, na prisão, doente e idoso, por meio da pregação do evangelho, o escravo Onésimo adere a Jesus Cristo.  São Paulo o trata não como escravo, mas como irmão na fé. Esse é o efeito de quem segue o caminho de Jesus; começa a ver a vida, a história, as pessoas, a missão, a caridade com outros olhos: O olhar da fé.

Rezar com a Igreja: Ó Deus, Pai de bondade que nos redimistes e adotastes como filhos e filhas, concedei aos que creem, no Cristo a verdadeira liberdade e a herança eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho na unidade do Espírito Santo.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo diocesano