NO CHÃO DA REALIDADE

Estamos no terceiro domingo da quaresma. É o tempo de caminhada em preparação da Páscoa de Jesus. Tempo de conversão, de misericórdia, de perdão e de fraternidade. A cor litúrgica dos paramentos e do espaço celebrativo continua com a cor roxa.

A Campanha da fraternidade com o tema: A Campanha da Fraternidade ilumina de modo particular os gestos fundamentais desse tempo litúrgico: a oração, o jejum e a esmola. Neste ano, o tema da Campanha é “Fraternidade e Políticas Públicas” e o lema “Serás libertado pelo direito e pela Justiça” (Is 1,27).

O texto de estudos da Campanha da Fraternidade 2019 no nº 82 ensina: “As Políticas Públicas são complexas e envolvem decisões e repartição do poder, dessa maneira, em todo cenário político e nos idos das Políticas Públicas diferentes atores se relacionam, seja sindicato, organizações da sociedade civil, Poder Legislativo, Executivo, Judiciário. Por meio da coalização e da negociação, auxiliam na implementem da Política Pública. A implementação da Política Pública envolve um amplo planejamento estratégico, levando em consideração os diferentes recursos envolvidos, tempo, causas e também processo político”. Já no nº 122 adverte “A sabedoria bíblica visa conduzir a vida mediante um saber capaz de orientar o comportamento, incluindo informações a respeito de fatos, valores, regras em vista da ação humana, processos sociais e políticos, ou seja, sábio é quem, a partir de sua reflexão advinda de Deus, direciona o seu modo de viver em sociedade”.

A Palavra de Deus (Lc 13,1-9) convida para a misericórdia e conversão. Jesus insiste: “Se não vos converterdes”. O tema da misericórdia e conversão permeia o espírito da quaresma. Conversão é uma atitude do coração que impulsiona para um novo rumo para a vida. Todos necessitam de conversão, de mudança de posturas de vida e da experiência da misericórdia. Jesus retoma a comparação da figueira. Ela é plantada para dar frutos. Cresceu, foi cuidada, os anos passam, mas a figueira não produziu frutos. Assim Jesus compara a ação de Deus a respeito de cada um de nós. Somos filhos e filhas amados de Deus para produzirmos frutos de vida, de alegria, de justiça, de honestidade, de fé, de amor aos irmãos e à comunidade. E tudo tem seu início com o batismo como fundamento de vida cristã. Nossa missão e vocação é dar frutos. Quando um pai de família, uma mãe, um jovem, um cristão, não produz frutos de vida na educação de seus filhos e na vivencia na comunidade é como uma figueira que foi plantada para produzir frutos, mas nem sequer deu um fruto para os pássaros se alimentarem.

Nesta mesma linha está a leitura do livro do Êxodo (3,1-15). É chamado fundante, pois marca o encontro de Deus com Moisés. Ele apascentava os rebanhos nas montanhas de Horeb quando viu uma chama ardendo no meio de um espinheiro. O fogo queimava, mas não se apagava. Moisés se aproximou deste fogo e a voz de Deus lhe disse: “Moisés”. E ele respondeu: “Aqui estou”. Então Deus lhe disse: “Tire as sandálias dos pés porque o lugar onde estás é uma terra santa”. Tirar as sandálias é um gesto de despojamento, de compromisso, de pisar no chão, na realidade. “É ir às periferias sociais e existenciais” como afirma o papa Francisco. E Moisés tirou as sandálias e pisou no chão. Então entendeu que algo de grandioso Deus lhe estava pedindo e revelando: “Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão. Eu vi a opressão de meu povo no Egito, ouvi o grito de aflição diante dos opressores e tomei conhecimento de seus sofrimentos. Desci para libertá-los das mãos dos egípcios e fazê-los sair desse país para uma terra boa e espaçosa, terra onde corre leite e mel”… O grito de aflição dos israelitas chegou até Deus. Ele viu, ouviu, sentiu a opressão que os egípcios fazem pesar sobre o povo de Israel. Por isso Deus diz: “E agora, vai! Eu te envio ao faraó para que faças sair o meu povo, os israelitas, do Egito”. Moisés disse a Deus: “Quem sou eu para ir ao faraó e fazer sair os israelitas do Egito?” Deus lhe disse: “Eu estarei contigo; e este será para ti o sinal de que eu te envio: quando tiver tirado do Egito o povo, vós servireis a Deus sobre esta montanha”.

Deus se revela ao lado do povo sofredor e envia Moisés para ajudar a libertar o povo da escravidão. Dois elementos estão unidos: Deus que se revela ao lado dos sofridos e a resposta de Moisés a este chamado.

Neste tempo de quaresma o tema da conversão é o chamado de Deus para a misericórdia, mudança de vida e o compromisso de transformar a mudança na sociedade, na família, nas relações entre as pessoas, no cuidado da Casa comum que é esse nosso planeta terra.

Rezemos com a Igreja: Pai misericordioso e compassivo, que governais o mundo com justiça e amor, dai-nos um coração sábio para reconhecer a presença do vosso Reino entre nós. Em sua grande misericórdia, Jesus, o Filho amado, habitando entre nós testemunhou o vosso infinito amor e anunciou o Evangelho da fraternidade e da paz. Seu exemplo nos ensine a acolher os pobres e marginalizados, nossos irmãos e irmãs com políticas públicas justas, e sejamos construtores de uma sociedade humana e solidária. O divino Espírito acenda em nossa Igreja a caridade sincera e o amor fraterno; a honestidade e o direito resplandeçam em nossa sociedade e sejamos verdadeiros cidadãos do “novo céu e da nova terra” Amém!

Dia 07 de abril, às 16:00hras no espaço da URAMB, próximo à Câmara de Vereadores, início da 28ª Romaria dos Mártires.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering
Bispo de Rondonópolis-Guiratinga