Natal do Senhor: “Nasceu o Salvador”

A graça de Deus se manifestou, trazendo a salvação para a humanidade”, escreve São Paulo a Tito. Essa graça de Deus ensina a abandonar a impiedade e todas as forças do mal, de exploração, de ganância e viver neste mundo com equilíbrio, justiça e caridade. O menino no presépio é a manifestação da graça salvadora de Deus (Tt 2,11-14). Por isso “alegremo-nos no Senhor: nasceu-nos o Salvador do mundo e do céu desceu a verdadeira paz” (Sl 2,7). Na fragilidade de uma criança a humanidade contempla a revelação de Deus que entra na história. O que era palavra, agora se fez gente e nasce no meio de nós. Assume a condição humana. A noite se iluminou. O mundo já não precisa caminhar na escuridão, pois Jesus, a Luz brilha no meio das trevas. “A noite nos arredores de Belém é iluminada pelo clarão do anjo do Senhor. A vida escura se ilumina. A luz de Deus brilha no meio de nós. É Natal”.

Cantam os anjos nos arredores da fruta de Belém: “Glória a Deus nas alturas e paz a toda humanidade. Eis que vos anuncio uma grande notícia que será alegria para todo povo: Hoje, em Belém nasceu o Salvador, o Cristo Senhor” (Lc 2,10). O nascimento de Jesus é fonte de alegria. Não deixa ninguém constrangido e temeroso. Dele todos podem se aproximar, tocar e comtemplar. Nos palácios e mansões, pastores, humildes e pobres não podem entrar, mas na gruta de Belém, onde nasceu o salvador, todos tiveram acesso e acolhimento.

Nas comunidades e na vida dos cristãos cresce a prática da solidariedade, da partilha, da construção de novos parâmetros para a sociedade. Há busca por ética na sociedade, na política, na administração dos bens públicos e no modo de vida. Estes pequenos-grandes gestos revelam que a mensagem de Natal adentra no coração humano e se transforma em atitudes de vida.

As lições do nascimento de Jesus são balizas para os dias atuais. Dois mil e dezoito anos já se passaram e a humanidade ainda teima em trilhar pelo caminho da violência, da exclusão, da divisão entre classes, raças e culturas. O ideal do Natal não faz parte de muitos projetos que conduzem os passos da história. Como conseqüência, a guerra, a fome, as injustiças e a falta de condições de vida digna. Ao lado dos autos banquetes permanece a mesa vazia de milhões de pessoas.

Papa Francisco ensina: Celebrar o Natal é fazer como Jesus, vindo para nós necessitados, e ir em direção a quem precisa de nós. É fazer como Maria: confiar, dóceis a Deus, mesmo sem entender o que Ele fará. Celebrar o Natal é fazer como José: levantar-se para realizar aquilo que Deus quer, mesmo se não é segundo os nossos planos. São José é surpreendente: no Evangelho, nunca fala: não há uma palavra, de José, no Evangelho; e o Senhor lhe fala no silêncio, lhe fala justamente no sono. Natal é preferir a voz silenciosa de Deus aos rumores do consumismo. Se soubermos estar em silêncio diante do presépio, Natal será também para nós uma surpresa, não uma coisa já vista. Estar em silêncio diante do presépio: este é o convite, para o Natal. Tire um pouco de tempo, vá diante do presépio e fique em silêncio. E ouvirás, verás a surpresa. Infelizmente, porém, pode-se errar a festa, e preferir às novidades do céu as coisas usuais da terra. Se o Natal permanece somente uma bela festa tradicional, onde no centro estamos nós e não Ele, será uma ocasião perdida. Por favor, não mundanizemos o Natal! Não coloquemos de lado o Festejado, como então, quando “veio entre os seus e os seus não o acolheram” (Jo 1, 11). Desde o primeiro Evangelho do Advento o Senhor nos chama a atenção, pedindo para não nos sobrecarregarmos com “dissipações” e “preocupações da vida” (Lc 21, 34). Nestes dias se corre, talvez como nunca durante o ano. Mas assim se faz o oposto daquilo que Jesus quer. Colocamos a culpa em tantas coisas que enchem os dias, no mundo que vai veloz. E Jesus não culpou o mundo, pediu para nós não nos deixarmos levar, para vigiar em todo momento rezando (cfr v. 36).

…. Desejo-vos um bom Natal, um Natal rico das surpresas de Jesus! Podem parecer surpresas incômodas, mas são os gostos de Deus. Se forem nossas, faremos a nós mesmos uma esplêndida surpresa. Cada um de nós tem escondida no coração a capacidade de se surpreender. Deixemo-nos surpreender por Jesus neste Natal”  (Francisco. Catequese sobre o Natal, 2018).

No tempo de Natal, sentimentos afloram no coração: o sonho de um mundo de paz, de harmonia, de pão nas mesas e de sorrisos. Cresce no coração a experiência do abraço de acolhida, de perdão, do encontro com as pessoas e da partilha de alimento. Mesmo que essas posturas de vida sejam mais evidentes neste tempo, É sinal que precisa ser alimentado, divulgado e transformado em práticas permanentes. O Natal lembra o espírito de família. Daí as longas viagens para rever familiares, encontrar-se com parentes que faz anos que não se vêem e o abraço entre pessoas que se fecharam para a amizade e o perdão. Esses sinais da lição de natal abrem luzes para o caminho da humanidade. “Vale a pena viajar mil quilômetros só para dar e receber um abraço”, canta o poeta.

Desejo a todos os leitores, aos padres, religiosas e religiosos, as lideranças cristãs, católicos e evangélicos, pais e mães de família, as autoridades dos treze municípios que integram a Diocese-Guiratinga; dos doentes e sofredores, povos indígenas, presos, abatidos, peregrinos e moradores de rua… Natal abençoado com abraço fraterno. Que no coração de cada pessoa brilhe a luz de Jesus que resplandece a cada dia na humanidade.

 

Dom Juventino Kestering
Bispo Diocesano