PREPARAI O CAMINHO DO SENHOR

Estamos no segundo domingo do advento. A cor litúrgica é roxa. Tempo de expectativas, de esperança e de preparação para o Natal. Esse tempo indica a espiritualidade que brota da esperança e da certeza de que somos amados por Deus. Somos merecedores do amor de Deus que enviou seu Filho Jesus ao mundo para ser o salvador. Ele se encarnou no seio da Virgem Maria e se fez homem, nascendo no meio de nós.

A Palavra de Deus (Lc 3,1-6) “…Foi dirigida a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto. E ele percorreu toda a zona do rio Jordão, pregando um batismo de penitência para a remissão dos pecados, como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas; e toda a criatura verá a salvação de Deus”. Lucas apresenta a mensagem do profeta João Batista: A voz que grita no deserto. Há simbolismos lindos na bíblia que falam da aridez, do deserto, de realidade que aparentemente para nada mais serve. Ezequiel (Ez 37, 1-14) o relata a realidade como ossos secos, sem carne, sem vida. Mas Deus faz reviver, ter carne, ter vida.  O profeta Isaias (Is 11, 1-11) apresenta o simbolismo do tronco seco. E deste tronco brota um ramo e este ramo traz vida nova. Este ramo é Jesus Cristo, vida nova para todos.

João Batista se apresenta como voz que clama no deserto. Deserto é lugar de solidão, de secura, de aparente vazio, de silencio, de sol quente. Dessa realidade de “deserto” brota uma vida nova. Mas para surgir vida nova é necessário posturas de conversão: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas, todo vale será aterrado, toda montanha arrasada, os caminhos tortuosos ficarão retos e aplainados”. João Batista se utiliza do simbolismo compreensível como deserto, montanha, caminhos esburacados… para atingir uma realidade interior em cada pessoa. É dentro de nós que por vezes os caminhos estão tortuosos pelo egoísmo, pela injustiça, pela falta de amor, pela arrogância. Então é preciso arrasar a montanha do orgulho, da prepotência, do pisar sobre os outros. A voz de Deus que clama no mundo não pode se perder na imensidão do deserto dos famintos, dos refugiados, dos violentados, dos pobres, mas a voz de Deus quer estar em cada coração humano. Quando o coração humano estiver povoado de justiça, amor, vida, fé, caridade, bondade, solidariedade… “então todas as pessoas verão a salvação de Deus”

O Profeta Baruc (Bar 5,1-9) insiste: “deixa a tua veste de luto e aflição e reveste para sempre a beleza da glória que vem de Deus. Cobre-te com o manto da justiça que vem de Deus e coloca sobre a cabeça o diadema da glória do Eterno. Deus vai mostrar o teu esplendor a toda a criatura que há debaixo do céu; Deus te dará para sempre este nome: Paz da justiça e glória da piedade”. O Natal será uma experiência do encontro de cada um de nós com Jesus Cristo se ficar imbuídos dos sentimentos que brotam do mistério da encarnação. Deus se humaniza para que nós possamos estar bem perto dele e Ele nos conduzir pelo caminho da salvação.

São Paulo aos Filipenses (Fp 1,1-11) aconselha: “Tenho certeza de que aquele que começou em vós uma boa obra há de levá-los até o dia do Cristo Jesus”. Tudo teve início no dia do batismo. Através do cultivo de uma iniciação à vida cristã como um processo de vida fomos descobrindo o Jesus em nossa vida. São Paulo ainda nos aconselha: “Que o vosso amor cresça sempre mais em todo o conhecimento e experiência para discernirdes o que é melhor”. Esse é o sentido do advento. Tempo de fazer o amor crescer em nós, tempo de perdoar e reconciliar com o irmão, tempo de buscar a profundidade da fé, de praticarmos a justiça e discernir o que é melhor para a caminhada como cristãos, rumo ao mistério do Natal.

O núcleo central do Natal que é a celebração do Mistério do nascimento de Jesus, mas este acontecimento vai se escorregando para um materialismo com marca de egoísmo e consumismo. No coração, na mente e no desejo das novas gerações já não está o menino Deus que nasce na gruta, mas sim a festa, o presente, a música. E assim o deserto vai crescendo no conjunto da sociedade e nos corações. O chamado é ser uma “voz que grita no deserto” do mundo moderno que se afasta de Deus, dos valores da ética, da solidariedade e da vida cristã.

Rezemos com a Igreja: Ó Deus todo-poderoso e cheio de misericórdia, nós vos pedimos que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho, mas, instruídos pela vossa sabedoria, participemos da plenitude de sua vida. Por nosso Senhor Jesus Cristo.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering
Bispo diocesano