Em primeiro de Julho de 1938, durante o verão europeu, nasceu o pequeno Lothar Bauchrowitz em Königsberg, que em português traduzimos como Montanha do Rei, n reino da Prússia na Alemanha. Lothar que nasceu com 5 kg e sufocado pelo cordão umbilical já teve ai sua primeira batalha de sobrevivência. Segundo filho do Casal Hildergard e Hugo Bauchrowitz, viveu com suas irmãs Edith e Mechthild os primeiros anos na cidade de Bartenstein, até que em 1944 seu que era Juiz, foi convocado para servir na segunda guerra mundial, na qual Hugo Bauchrowitz foi massacrado pelo exercito russo debaixo de muita neve daquele inverno, e sua família não teve mais notícias do pai. Em Janeiro de 1945, com a chegada do exercito russo, Hildergard e seus três filhos fugiram atravessando parte do mar báltico a pé e no final de carona em uma carroça até a casa de parentes em Lauenberg. Novamente tiveram de fugir, pois no final da guerra suas cidades ficaram parte para Russia e parte para a Polonia. Aos 10 anos Lothar e sua mãe fugiram do comunismo da Alemenha-Oriental e chegaram até o amigo Pe. Josef Süss, o qual acolheu a família e colaborou para a formação escolar dos filhos. Passou por uma fase de querer somente jogar futebol, colecionar selos e passear, com isso teve baixas notas escolares e sua mãe então lhe chamou a atenção e o fez estudar. Terminando o segundo grau, tinha de escolher uma profissão, talvez ser juiz como foi o pai ou professor como era a mãe. Chegou então a uma decisão e a externou com as seguintes palavras: “Vou seguir o maior patrão que é Cristo!” Assim entrou no seminário diocesano de Mainz.
Sempre admirou os missionários que trabalhavam em outros países, principalmente os que iam para a África, e no quarto ano de seminário participou de uma palestra para seminaristas com o bispo Franciscano e alemão, Dom Vunibald Talleur, que falou sobre a região de Mato Grosso, a falta de padres e suas dificuldades no trabalho na então prelazia de Rondonópolis. Sentiu aí um novo chamado de Cristo, o de vir trabalhar nesta região. Em julho de 1963 foi ordenado padre pela imposição das mãos do Cardeal Hermann Volk e em abril de 1964, em Genova na Itália, embarcou em um navio rumo ao Brasil. Depois de mais de 20 dias de viagem, desembarcou no porto de Santos e foi recebido por Dom Vunibald e Frei Servácio. Ficou três meses na cidade de Guaratinguetá estudando a língua portuguesa.
Em Agosto do mesmo ano iniciou então, a tão esperada missão em terras estrangeiras, celebrando no dia 15 de agosto a sua primeira missa na vila operária com Dom Vunibald, que deu a missão de cuidar desta comunidade dizendo: Daqui para frente você cuida desta comunidade. Esta missão Pe. Lothar assumiu com muito carinho e fez da vila operária o seu segundo lar. Passou então a vir de bicicleta da casa do bispo, todos os dias até a Vila Operária, Mata grande, Lageadinho e Macaco, onde dava catequese, celebrava e dispensava os sacramentos. Neste percurso diário levou por várias vezes, grandes tombos de bicicleta nas valas que tinham. Mesmo com a dificuldade do povo em entender o que o jovem padre alemão dizia, Pe. Lothar fez grandes amizades e recebeu ajuda do povo em seu trabalho pastoral.
Em 1966 dom Vunibald construiu a escola São José Operário. Em 1967 a comunidade da vila operária à Paróquia São José Operário, mesmo ano em que chegou as irmãs Catequistas Franciscanas para dirigir a escola e ajudar na paróquia. Com o crescimento do distrito da vila operária, chegaram também as dificuldades e problemas sociais. Em 1969 com uma verba do governo alemão, construiu e fundou o Centro Social João XXIII, onde ofereceu cursos de alfabetização e profissionalizantes. E assim, buscando a união dos lideres comunitários e do povo, conseguiam juntos as melhorias para o distrito. Fundou também o Conselho distrital da vila operária. Em 1979 vendo o programa 24 horas em prol da criança, pensou que a igreja católica de Rondonópolis, deveria fazer algo permanente pelas crianças carentes. Apresentou a ideia das creches ao bispo Dom Osório, que acolheu e colaborou com este trabalho. Iniciou também o projeto de construção de casas depois de visitar desabrigados pela enchente que estavam alojados na feira da vila aurora. Buscou ajuda na Alemanha e encontrou vários amigos dispostos em colaborar e manter estes projetos. Veio então a associação Dom Helder câmara de Nieder-Olm, a manutenção das creches, natal sem fome e construção de casas, também a associação dos amigos do Brasil e KoBra. Muito chegou e ajudou o povo de vila operária, Rondonópolis e região. Recanto dos Idosos, projetos dos adolescentes, afilhados da Alemanha, KOBRA, clube de mães, Incentivo total a Pastoral da Criança.
Hoje celebramos com muita alegria e gratidão a vida de Pe. Lothar, que desceu a montanha do rei lá na antiga Alemanha, abandonando regalias, deixando sua família e amigos, para chegar aqui embaixo para mostrar o Rosto e amor do Rei e encontrar com o Rei nos irmãos que sofrem espiritualmente, socialmente, financeiramente… Nos ensinou e ensina a Amar sobre tudo, independente do raça, religião, ideologias, somente amar e ajudar o próximo. Uma música infantil popular de natal que era a preferida de seu pai e também sua: Oh Tannenbaum, wie grün sind deine Blätter… que diz “Oh Pinheiro quão verdes são suas folhas, que permanecem verdes não somente no verão, mas também no inverno e quando neva”… Assim vemos o senhor, que mesmo com todas as dificuldades que passou e hoje com as limitações físicas, continua expressando o Amor e a vitalidade de Jesus e Seu Evangelho. Agradecemos ao Rei, Nosso Senhor Jesus Cristo, por nos ter presenteado com a vida do Pe. Lothar e obrigado Pe. Lothar por tanto nos ensinar com seu testemunho de vida, com suas ações e ensinamentos o caminho da Salvação e do Amor.
Otávio Simioni
