TERRA, A SEMENTE E O SEMEADOR

Estamos no 11º domingo do tempo comum. O espaço celebrativo e os paramentos litúrgicos sinalizam para o verde, sinal de vida, de esperança.

A Palavra de Deus (Mc 4,26-34) encaminha à dinâmica da vida. Jesus faz seu ensino através de parábolas e pequenas comparações: semente, trigo, crescimento, grão de mostarda. Eis o núcleo do Evangelho: “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. A terra, por si mesma, produz o fruto: primeiro aparecem as folhas, depois vem a espiga e, por fim, os grãos que enchem a espiga”. “O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra. Quando é semeado, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra”. “Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece”.

O Catecismo da Igreja Católica, nº 546 ensina: “Jesus convida a entrar no Reino por meio das parábolas, traço típico de seu ensinamento. Por elas, convida ao festim do Reino, mas exige também uma opção radical: para adquirir o Reino é preciso dar tudo; as palavras não bastam, são necessários atos. Jesus e a presença do Reino neste mundo estão no coração das parábolas. É preciso entrar no Reino, isto é, tornar-se discípulo de Cristo para “conhecer os mistérios do Reino dos Céus” (Mt 13,11). Para os que ficam “de fora” (Mc 4,11), tudo permanece enigmático”.

Cresce o cultivo da vida, da beleza, da corporeidade. É o desejo de permanecer no auge da juventude e prolongar o máximo o tempo de vida. Isso requer esforço, cultivo, perseverança e até renúncias. A tecnologia do campo faz as sementes germinarem e produzirem cada vez mais. Cultivar uma semente exige cuidado e perseverança. Plantar uma árvore necessita de paciência. Anos de cultivo e de cuidados até dar frutos. Enquanto vem a noite, a semente vai realizando no seu interior o mistério da germinação. Donde vem esta força da semente? Como uma semente pequena pode tornar-se árvore frondosa e alta? Quem ensinou às arvores produzirem frutos?

Jesus falou a linguagem compreensível: Compara o Reino de Deus com o plantio da semente, a germinação e o cultivo. Tudo produz e dá fruto, mas exige tempo, paciência, cultivo e dedicação. Através das parábolas Jesus ensina a paciência, o cuidado, a dedicação e a tolerância de Deus para conosco. Daí o cuidado com a terra, que é o coração humano, que é a pessoa humana espaço onde Deus se faz presente e doa continuamente a vida, os valores, a sensibilidade, as emoções, a fé. Uma boa terra para produzir frutos requer a semente. Mas não jogada de qualquer maneira, mas com cuidado, assim como cada semente exige. A semente é a Palavra de Deus, a revelação, o dom precioso da vida, a salvação trazia em Jesus Cristo. E o semeador. Esse merece o máximo de cuidado. Todos, independente de raças, culturas, credos e nações são os semeadores ou do trigo, da boa semente, ou do joio e da má semente.

Os bispos da América Latina, reunidos em Aparecida, alertam: “Vivemos tempo de mudanças. Dissolve-se a concepção integral do ser humano, sua relação com o mundo e com Deus. Excluem Deus de seu horizonte, falsificam o conceito da realidade e só podem terminar em caminhos equivocados e com receitas destrutivas. Surge a sobrevalorização da subjetividade individual. O individualismo enfraquece os vínculos comunitários e propõe a transformação do tempo e do espaço, dando um papel importante à imaginação. Deixa-se de lado a preocupação pelo bem comum para dar lugar à realização imediata dos desejos dos indivíduos” (Cf DAp 44).

Há no ser humano uma inclinação para a visibilidade, ostentação, superioridade, orgulho, ser vencedor. Por vezes valores como paciência, esperança, perseverança passam esquecidos. Vivemos num mundo inquieto e confuso, onde prevalece o descartável e tudo tem que ser feito às pressas. A parábola de Jesus ensina o continuo crescimento para tornar-se árvore, dar sombras, produzir frutos, ser abrigo aos pássaros.

Papa Francisco nos ensina: “A Palavra de Deus faz um caminho dentro de nós. Nós a escutamos com os ouvidos e passa ao coração; não permanece nos ouvidos, deve ir ao coração; e do coração passa às mãos, às boas obras. Este é o percurso que faz a Palavra de Deus: dos ouvidos ao coração e às mãos. Aprendamos essas coisas”. “É Deus que, por meio da pessoa que lê, nos fala e interpela a nós que escutamos com fé. Mas é preciso também abrir o coração para receber a palavra. Deus fala e nós nos colocamos à escuta, para depois colocar em prática o que ouvimos. É muito importante ouvir”.

A comunidade, a família e o coração humano são terrenos onde a semente de Deus é plantada. É dever cuidar e cultivar com paciência e misericórdia, pois as sementes germinam e crescem de maneira diferente. Nem todas as plantas são iguais e crescem ao mesmo tempo. Nem todas as árvores crescem com a mesma rapidez e dão imediatamente frutos. Fazer a semente crescer e dar fruto é nossa missão. Daí a importância de nos fortalecer com a oração, caridade, reunir-se em grupo de família, participar da comunidade. “Como o pequeno grão de mostarda, quando se desenvolve, torna-se uma árvore frondosa que oferece hospitalidade aos pássaros do céu, assim também as vossas Igrejas podem oferecer acolhimento àqueles que buscam motivações válidas para a sua vida e para as próprias opções existenciais” (Bento XVI).

Rezemos coma Igreja: Ó Deus, força daqueles que esperam em vós, sede favorável ao nosso apelo e, como nada podemos em nossa fraqueza, dai-nos sempre o socorro da vossa graça, para que possamos querer e agir conforme vossa vontade, seguindo os vossos mandamentos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese abençoe e proteja nossa família. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados. Vamos irradiar alegria e fé e fazer coisas boas.

 

Dom Juventino Kestering
Bispo da diocese de Rondonópolis-Guiratinga