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 Estamos no 9º domingo do tempo comum. As cores litúrgicas e o espaço celebrativo adornam-se com cor verde. Esperança, reflorescimento, vida.

A Palavra de Deus (Dt 5,12-15) nos remete para a Aliança no Sinai. O Povo de Deus assume o terceiro mandamento da Lei: Santificar um dia para o Senhor Deus. “Guarda o dia de sábado, para o santificares, como o Senhor teu Deus te mandou. Trabalharás seis dias e neles farás todas as tuas obras. O sétimo dia é o do sábado, o dia do descanso dedicado ao Senhor teu Deus”. “Lembra-te de que foste escravo no Egito e que de lá o Senhor teu Deus te fez sair com mão forte e braço estendido. É por isso que o Senhor teu Deus te mandou guardar o sábado”. Segundo a tradição do Antigo Testamento o dia de descanso, o dia do Senhor Deus era o sábado.

O Catecismo da Igreja Católica nº 1166 ensina: “Por tradição apostólica, que remonta ao próprio dia da ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal todos os oito dias, no dia que bem se denomina dia do Senhor ou Domingo”. O dia da ressurreição de Cristo é, ao mesmo tempo, o “primeiro dia da semana”, memorial do primeiro dia da criação, e o “oitavo dia” em que Cristo, após o seu “repouso” do grande sábado, inaugura o “dia que o Senhor fez”, o “dia que não conhece ocaso”. A “Ceia do Senhor” é o seu centro, porque é nela que toda a comunidade dos fiéis encontra o Senhor ressuscitado, que os convida para o seu banquete”. E continua o Catecismo: “O dia do Senhor, o dia da ressurreição, o dia dos cristãos é o nosso dia. Chama-se dia do Senhor por isso mesmo: porque foi nesse dia que o Senhor subiu vitorioso para junto do Pai. Se os pagãos lhe chamam dia do Sol, também nós, de bom grado o confessamos: porque hoje se ergueu a luz do mundo, hoje apareceu o sol da justiça, cujos raios nos trazem a salvação”.

O domingo é o dia da assembleia litúrgica, em que os fiéis se reúnem para ouvir a Palavra de Deus e participar na Eucaristia, fazer memória da paixão, ressurreição e glória do Senhor Jesus, e dar graças a Deus, que os “regenerou para uma esperança viva pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos” (cf CIC). O domingo, dia do Senhor, é o dia principal da celebração da Eucaristia, porque é o dia da ressurreição. É o dia da assembleia litúrgica, da família cristã, da alegria e do descanso do trabalho. O domingo distingue-se do sábado, ao qual sucede cronologicamente, cada semana, e cuja prescrição ritual substitui, para os cristãos. Leva à plenitude, na Páscoa de Cristo, a verdade espiritual do Sábado judaico e anuncia o repouso eterno do homem em Deus. Com efeito, o culto da lei preparava o mistério de Cristo, e o que nele se praticava prefigurava, de alguma forma, algum aspecto de Cristo” (CIC 2175). Os Apóstolos celebravam a Missa “no primeiro dia da semana” como ensina At 20,7: “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para a fração do pão”. Em Mt 28,1 lemos: “Após o sábado, ao raiar o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria vieram ao Sepulcro”. Em Ap 1,10, São João fala que “no dia do Senhor, fui movido pelo Espírito”.

O Evangelho (Mc 2,28,28 e 3,1-6) abre duas perspectivas. Na primeira parte Jesus se defronta com grupos de fariseus que questionavam a atitude de Jesus diante dos discípulos, que, estando com fome num dia de sábado, foram apanham grãos à beira da estrada para saciar a fome. Jesus leu o intimo do coração das pessoas que o questionaram. Esse grupo de questionadores cumpria a exterioridade da lei, para se apresentarem como puros, diferentes, perfeitos e cumpridores da lei. Mas por dentro, dentro do coração reinava a maldade, a injustiça, o desamor, o desprezo pelo pobre, pelo faminto. A atitude de Jesus pôs a pessoa humana e primeiro lugar e não a lei ao afirmar: “0 sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. Portanto, o Filho do homem é senhor também do sábado” (Mc 2, 27).

Na segunda parte do Evangelho (Mc 3,1-6), Jesus estava no interior da Sinagoga. Entrou um homem conhecido, pobre, com a mão seca, entrevada. Certamente era alguém que permanecia junto à Sinagoga para angariar alguma esmola. É claro que onde tem pobre sempre tem gente nervosa, inquieta, com vontade de excluir, porque os pobre aleijados incomodam.  E não foi muito diferente a atitude de algumas pessoas que estavam na sinagoga. Não eram pessoas que estavam fora, na praça. Essas pessoas dentro da Sinagoga começaram a olhar para Jesus para ver o que ele iria fazer, pois queriam acusa-lo caso houvesse algum descumprimento da Lei. Novamente, defendiam a lei, mas não a pessoa. E para surpresa e desconforto de muitos, Jesus inova, recria o sábado. Coloca a pessoa no centro. Jesus não podia deixar aquele homem sofrendo, sem poder trabalhar, uma vez que suas mãos eram secas. Alguns o observavam para ver se haveria de curar em dia de sábado, para poderem acusá-lo. Jesus disse ao homem da mão seca: “Levanta-te e fica aqui no meio!” E perguntou-lhes: “É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?” Mas eles nada disseram.  Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: “Estende a mão”. Ele a estendeu e a mão ficou curada. Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo”.

Profunda a atitude de Jesus: Levanta-te. Tu tens dignidade. Aqui também é teu lugar. Vem para o meio. Não fiques excluído. És irmão, vem junto com os outros. Para Deus não importa se és pobre ou se tens abundancia. Para Deus, todos somos filhos e filhas amados e irmãos. E Jesus, com olhar de tristeza ao ver a dureza de coração, rompe todas as barreiras e diz ao homem: “Estende sua mão. Ele estendeu e ficou curado”. Assim revela-se a missão de Jesus. Salvar, reintegrar, resgatar a dignidade humana, dar um rumo para a vida, propor o seguimento, olhar para Deus e para os irmãos e irmãs.

Rezar com a Igreja: Ó Deus, cuja providência jamais falha, nós vos suplicamos humildemente: afastai de nós o que é nocivo e concedei-nos tudo o que for útil. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese abençoe e proteja a família e as comunidades. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança as desanimados. Vamos irradiar alegria e fé e fazer somente coisas boas.

 

Dom Juventino Kestering
Bispo da diocese de Rondonópolis-Guiratinga