NA ESCUTA DA PALAVRA E NA PARTIHA DO PÃO – ENCONTRAR JESUS

Estamos no 3º domingo da Páscoa. A cor do espaço e dos paramentos litúrgicos é branca. Sinal de vida e presença do ressuscitado na comunidade. A luz do Círio Pascal, continua iluminando os caminhos dos que acreditam em Cristo Ressuscitado.

A Palavra de Deus (Lc 24,35-48) nos faz refletir sobre o retorno dos discípulos de Emaús. Eles reconheceram Jesus ao partir o pão. Imediatamente retornaram para Jerusalém para partilharem a experiência do encontro com o Ressuscitado. A certeza da ressurreição já não era um conhecimento, mas uma experiência vivida. Importante que os discípulos retornavam não conversando coisas fúteis, mas a experiência do ressuscitado, como o tinham reconhecido ao ouvir suas palavras e ao partir o pão. No caminho Jesus se aproxima e os saúda: “A paz esteja convosco”. Os discípulos tiveram três reações “ficaram assustados e com medo… e pensavam ver fantasmas. Pois ainda estavam com dúvidas no coração”.

Essas são também reações do cristão no mundo moderno. Viver assustado diante das mudanças, da violência e de tantos desafios na família, na sociedade, nas pessoas, nos comportamentos, no contratestemunho da fé. O cristão é chamado a fortalecer sua convicção e fortaleza no seguimento de Jesus Cristo para superar o medo, o susto e os fantasmas. A fé cristã, a mensagem de Jesus Cristo, a experiência de viver como cristão católico é ter a alegria de fazer a experiência de fé na família, na comunidade, no serviço aos irmãos. Na medida em que o cristão se encontra com Jesus Cristo, na Palavra, no partir do pão, no amor aos irmãos, na prática da justiça, na ética de vida, no respeito aos irmãos vai se libertando dos medos, da insegurança, das dúvidas e das preocupações.

A fé é para libertar a pessoa. A religião cristã não é para oprimir, nem para despertar medo e condenação. No mundo moderno e urbanizado cresce uma onda que espalha a religião como opressora, como estraga prazer, como algo que impede a felicidade. Isso não é verdade, tanto assim que as pessoas mais livres, alegres, servidoras são justamente as que têm fé profunda, que vivem a religião como resposta ao chamado de Deus. A fé é dom de Deus que preenche a vida, acalenta o coração humano, desperta esperança, acende luz na escuridão. É seta que indica caminho.

Mesmo que no dia a dia enfrentamos medos, fantasmas, inseguranças… a certeza da presença de Jesus Ressuscitado no cominho da vida é segurança que nos faz caminhar. É Jesus ressuscitado que nos diz: “No seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém; vós sereis testemunhas de tudo isso”.

Milhões de pessoas seguem o caminho de Jesus e testemunham a fé com coragem, alegria, doação e partilha. Hoje estamos reunidos na comunidade, participamos das celebrações, praticamos a caridade, a justiça, a boa conduta; cuidamos da família, das crianças, dos idosos, dos pobres e doentes porque temos a certeza de que o bem que fizermos a um dos nossos irmãos é a Jesus ressuscitado que fizemos.

O autor da vida, (At 3,13-19) morreu pregado na cruz, “mas Deus o ressuscitou dos mortos e disso nós somos testemunhas”. Jesus reconstrói as pessoas e as comunidades. Mesmo que se tenha um coração ferido e machucado pela dor, pelo peso da vida, pela pressão do sistema econômico, pelo pecado, pela doença, Jesus, o autor da vida nos reanima e nos dá esperança. Porem um esforço é necessário: “Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam perdoados”. Deus quer o nosso esforço e nossa participação.

Papa Francisco ensina: “Por que estais preocupados? Jesus ressuscitou, venceu as barreiras da morte e vai ao encontro de seus discípulos. Como os encontra? Trancados no salão, com medo dos judeus. Jesus percebe neles o susto e o medo. Duas maneiras de permanecerem paralisados e não anunciarem a Boa Nova que lhes foi confiada. Parece que ainda há discípulos na mesma situação… Em Evangelii Gaudium (83), o Papa Francisco se refere a uma “psicologia do túmulo, que pouco a pouco transforma os cristãos em múmias de museu. Desiludidos com a realidade, com a Igreja ou consigo mesmos, vivem constantemente tentados a apegar-se a uma tristeza melosa, sem esperança, que se apodera do coração… Chamados para iluminar e comunicar vida, acabam por se deixar cativar por coisas que só geram escuridão e cansaço interior e corroem o dinamismo apostólico. Por tudo isto, permiti que insista: não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização”.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes bênçãos sobre cada um de nós. Confortai com vossa bondade os que trabalham em favor da vida ajudando os sofredores e abandonados a reencontrarem a dignidade e o gosto de viver. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering
Bispo de Rondonópolis-Guiratinga