O DEUS DA MISERICÓRDIA

Estamos no 2º domingo da Páscoa, o Ressuscitado, vivo e presente na comunidade cristã. Os cânticos, as leituras, o clima celebrativo ressoa com Aleluia. Cristo ressuscitou. Tudo é revestido de cor branca. Um pano branco pendurado na cruz simboliza a vitória da ressurreição sobre a morte. Agora ele está vivo e presente na comunidade.

No relato do Evangelho, (Jo 20,19-31) situa a presença de Jesus na comunidade reunida. Os apóstolos tinham escutado notícias da ressurreição. Alguns viram o túmulo aberto. Com a prisão e morte de Jesus os discípulos se dispersaram. Agora os onze estão reunidos novamente. E Tomé junto com eles. Portas fechadas. Medo, incertezas, mas reunidos em comunidade. Eles perceberam que dispersos não conseguiam superar a experiência da morte de Jesus. Reunidos em comunidade, juntos em oração, em diálogo em partilha de experiência de vida. É nesse clima que Jesus se apresenta e diz: “A Paz esteja convosco”. Ele é o príncipe da paz. Ele veio trazer harmonia, vida, esperança ao coração humano. Ele quer unir povos, raças, culturas na harmonia da convivência, na justiça e na dignidade humana.

E soprou sobre eles e disse: “Como o Pai me enviou eu vos envio. Recebei o Espirito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles serão perdoados; a que não o perdoardes, eles lhes serão retidos”. Jesus envia os apóstolos em missão. Agora à luz do Espírito Santo, os Apóstolos e os que acreditam no resuscitados tem a missão de anunciar o Evangelho. Envia com uma linda missão: perdoar, recriar os corações machucados, levar esperança, alegria da fé, a vida de comunidade.

Nesse primeiro momento Tomé não estava com eles. Cheio de dúvidas, interrogações e com o coração fechado Tomé diz publicamente: “Eu não acredito. Eu tenho que tocar nele para ter certeza”. E Jesus novamente se manifestou diante deles. Jesus usou de bondade e de misericórdia. Tomé prostrou-se diante de Jesus e disse: “Meu Senhor e meu Deus”. Mas Jesus responde: “Acreditaste porque viste! Bem-aventurados os que creem sem terem visto”. E esses bem-aventurados somos nós que cremos sem termos visto a Jesus. Hoje fazemos a experiência da presença de Jesus na Eucaristia, na comunidade reunida, na Palavra de Deus proclamada; em cada pessoa, nos doentes, nos pobres e desvalidos; nos gestos de justiça e de partilha.

Jesus dá a autoridade de perdoar os pecados. Levar a misericórdia de Deus aos corações humanos. Cada pessoa sente a misericórdia de Deus em sua vida. O Evangelho ensina que Deus não quer nenhum de seus filhos e filhas inclinadas, humilhados, mas quer seus filhos e filhas de pé, cabeça erguida como homens e mulheres livres para fazer o bem e anunciar as maravilhas do Reino de Deus.

Nossa missão vai além de invocar a misericórdia de Deus, mas sermos pessoas de misericórdia na família, no trânsito, na profissão, no diálogo com os filhos, na convivência fraterna, na escola, entre a juventude, no acolhimento dos povos indígenas, dos moradores de rua.

A misericórdia é algo que vem do coração de Deus e entra no nosso coração e se expressa nas atitudes de vida. Deus quer que se vá alem da misericórdia pessoal, mas a misericórdia social, da justiça, da ética, da dignidade humana, do direito dos povos, das culturas, das minorias. Por vezes ficamos numa atitude egoísta. A misericórdia não é uma propriedade pessoal. É de todos e para todos.

O Papa Francisco ensina que os preceitos assumidos pela Igreja “devem exigir com moderação, “para não tornar pesada a vida aos fiéis”, nem transformar a nossa religião numa escravidão quando a misericórdia de Deus quis que fossemos livres” (Cf EG 43). E o Papa ensina ainda mais: “Poderão existir cristãos que não sejam misericordiosos? Não! A misericórdia está na gênese do ser cristão, é o núcleo central do Evangelho”. “Quanto desejo que as nossas paróquias e as nossas comunidades, cheguem a ser ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença”. “A mensagem da Divina Misericórdia constitui um programa de vida muito concreto e exigente, pois implica as obras” (Quaresma 2015)

Rezemos com a Igreja: “Ó Deus de eterna misericórdia, que reacendeis a fé do vosso povo na renovação da festa pascal aumentai a graça que nos destes. E fazei que compreendamos melhor o batismo que nos lavou, o Espírito que nos deu nova vida e o sangue que nos redimiu. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes bênçãos sobre cada um de nós. Confortai com vossa bondade os que trabalham em favor da vida ajudando os sofredores e abandonados a reencontrarem a dignidade e o gosto de viver. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering
Bispo de Rondonópolis-Guiratinga