JESUS VIDA E LUZ

Estamos no 3º domingo da quaresma. Tempo de oração, de conversão, de mudança de vida. A cor litúrgica é roxa, cor da penitencia, da busca de Deus e da fraternidade. A Campanha da Fraternidade ilumina de modo particular os gestos fundamentais desse tempo litúrgico: a oração, o jejum e a esmola. Neste ano, o tema da Campanha é “Fraternidade e superação da violência” e o lema: “Em Cristo somos todos irmãos” (Mt 23,8). Com este tema a Igreja convida os cristãos para a caminhada de conversão neste período de quaresma. Estamos num caminho rumo à Páscoa. Para viver a quaresma é preciso ter a vida e o olhar voltados para a Páscoa. Lembra-se o rosto sofrido de Jesus, mas também o rosto dos irmãos, neste ano, os que são vitimas da violência e da desorganização social.

A Palavra de Deus (Jo 2,13-15) nos remete para o valor e a dignidade das pessoas. Jesus expulsa os vendilhões do templo de Jerusalém. “Estava próxima a Páscoa dos Judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os negociantes de bois, ovelhas e pombas, e mesas dos trocadores de moedas. Fez ele um chicote de cordas, expulsou todos do templo, como também as ovelhas e os bois, espalhou pelo chão o dinheiro dos trocadores e derrubou as mesas. Disse aos que vendiam as pombas: “Tirai isto daqui e não façais da casa de meu pai uma casa de negociantes.” Lembraram-se então os seus discípulos do que está escrito: “O zelo da tua casa me consome” (Sl 68, 10). Perguntaram-lhe os judeus: “Que sinal nos apresentas tu, para proceder deste modo?  Respondeu-lhes Jesus: “Destrói vós este templo, e eu o reerguerei em três dias.” Os judeus replicaram: “Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu hás de levantá-lo em três dias”. Mas ele falava do templo do seu corpo.  Depois que ressurgiu dos mortos, os seus discípulos lembraram-se destas palavras, e creram na Escri­tura e na palavra de Jesus.  Enquanto Jesus celebrava em Jerusalém a festa da Páscoa, muitos creram no seu nome, à vista dos milagres que fazia. Mas Jesus mesmo não se fiava neles, porque os conhecia a todos. Ele não necessitava que alguém desse testemunho de nenhum homem, pois ele bem sabia o que havia no homem.

No tempo de Jesus o templo era o centro do mundo, o lugar onde o céu tocava na terra, era o “Santo dos Santos”. Lugar que regulava a vida cotidiana das pessoas. O judeu piedoso, não importava o lugar em que morava, deveria ir ao templo uma vez na vida. O templo era o lugar para onde iam as multidões de romeiros, por ocasião das grandes festas religiosas. Jesus segue a prática religiosa de seu povo. Por ser o primogênito de Ele foi apresentado a Deus no templo logo após o nascimento.  Aos 12 anos impressionou os escribas no templo pela sua sabedoria. Durante sua vida pública Jesus por vezes denuncia os desvios do culto. “O gesto de expulsar do templo os cambistas e os vendedores lembra e anuncia a superioridade da misericórdia sobre os sacrifícios”.

No inicio o cristianismo deslocou-se do templo, da sinagoga para a casa que passou a ser o lugar irradiador do evangelho. Sem as leis, normas, ritos, preceitos, a casa era espaço simples onde todos se sentavam como irmãos. Assim fez com que as comunidades começassem a perceber que a prática libertadora de Jesus tornava inúteis os sacrifícios apresentados pelos sacerdotes no templo. E isso gerou muitos conflitos e perseguições aos apóstolos.

No ano 70, com a destruição do templo em Jerusalém, as comunidades releram as palavras de Jesus e entenderam que Deus não morava num espaço, mas em todos os espaços e mais ainda, em cada pessoa. Com Jesus, a Palavra de Deus se fez carne e habitou no meio de nós (Jo 1,14). Jesus é o novo templo. O corpo de Jesus, a sua realidade humana é o local em que habita a plenitude da Divindade (Jo 2,21-22). Deus não se prende a nenhum santuário. O que o Deus-Pai quer são os verdadeiros adoradores, aquelas pessoas que amam a Deus em sua vida por meio do amor a Deus e ao próximo. O verdadeiro templo de Deus é a comunidade, onde as pessoas se reúnem, convivem, celebram, praticam a caridade e a solidariedade.

O Catecismo da Igreja Católica, nº1197 ensina: “Cristo é o verdadeiro templo de Deus, “o lugar em que reside a sua glória”; pela graça de Deus, também os cristãos se tornam templos do Espírito Santo, pedras vivas com as quais é construída a Igreja”. E ainda mais: “Justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus” (1Cor 5,11), “santificados… chamados a ser santos”, os cristãos se tornaram “templo do Espírito Santo” (nº 1695)

Papa Francisco ensina: “O Templo é um lugar sagrado no qual o que mais importa não são os ritos, mas adorar o Senhor. Há o templo de pedra, como local de celebração, de encontro das comunidades, de culto, mas também o corpo, a pessoa humana que é templo sagrado de Deus. A Igreja nunca seja um comércio, a redenção de Cristo é gratuita. Jesus vem trazer a gratuidade de Deus, a gratuidade total do amor de Deus”.

São Paulo (1Cor 22-25) nos exorta: “Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria; mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus, e loucura para os pagãos; mas para os eleitos – quer judeus, quer gregos – força de Deus e sabedoria de Deus. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que dos homens”.

Rezemos a oração da Campanha da Fraternidade:

Ó Deus e Pai, nós vos louvamos pelo vosso infinito amor e vos agradecemos por ter enviado Jesus, o Filho amado, nosso irmão.

– Ele veio trazer paz e fraternidade à terra e cheio de ternura e compaixão) sempre viveu relações repletas de perdão e misericórdia.

– Derrama sobre nós o Espírito Santo para que com o coração convertido acolhamos o projeto de Jesus e sejamos construtores de uma sociedade justa e sem violência para que no mundo inteiro cresça o vosso Reino de liberdade verdade e de paz. Amém!  

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga, derrame abundantes bênçãos sobre cada um de nós. Confortai com vossa bondade os que trabalham em favor da vida ajudando os sofredores e abandonados a reencontrarem a dignidade e o gosto de viver. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

Dom Juventino Kestering
Bispo de Rondonópolis-Guiratinga