CAMINHAR PARA TERRA DA FRATERNIDADE 

Quaresma. “Eis o tempo de conversão. Buscai o Senhor Deus”. Estamos no 1º domingo da quaresma, tempo de fraternidade e reconciliação com Deus e com os irmãos. A quaresma lembra os quarenta anos do Povo de Deus no deserto e nos convida a reviver os quarenta dias que Jesus passou no deserto, preparando-se para a missão. Quaresma é um tempo de conversão e renovação em preparação à Páscoa. Tempo de abrir o coração e voltar a Deus, aos irmãos, à comunidade, à família, tempo para retomar o caminho e de se abrir à graça de Deus nos ama, acolhe e perdoa.

A Campanha da Fraternidade ilumina de modo particular os gestos fundamentais desse tempo litúrgico: a oração, o jejum e a esmola. Neste ano, o tema da Campanha é Fraternidade e superação da violência” e o lema: “Em Cristo somos todos irmãos” (Mt 23,8). 

A Palavra de Deus (Mc 1,12-15) situa Jesus durante quarenta dias no deserto em contato com o Pai e se preparando para a missão. Estava em Jejum. No deserto. Em silencio. Deserto é espaço do silencio, do despojamento, do sobreviver com o mínimo. E nesta realidade foi tentado pelo demônio. Também somos convidados pelo Espírito Santo para ir ao deserto da quaresma para nos fortalecer contra as tentações, do desanimo, da falta de fé, do abandono da comunidade, da injustiça e de toda forma de violência. Superar as tentações da corrupção, dos roubos, das infidelidades, da violência, da exploração, da destruição da natureza. Precisamos sair do deserto e caminhar para terras da fraternidade, da Palavra de Deus, da vida nova em Jesus Cristo.

Somos amados, queridos e salvos por Jesus Cristo. A graça de Deus está dentro de nós. Porem sente-se a tentação do poder, da última palavra, da ganância, do esquecimento dos pobres, dos povos indígenas, dos maltrapilhos. Por vezes o orgulho ocupa nossa vida. Abandona-se a comunidade. Advém o desleixo com a família, cruzamos a linha dos valores, da ética e adentra-se na corrupção. Deixarmo-nos vencer pela tentação que desfigura o homem e a mulher criados à imagem e semelhança de Deus. Nossa vida é fruto do sopro divino do Criador. Por vezes, somos tentados a abandonar o projeto de Deus, o caminho de Jesus, a vida da comunidade eclesial para deixamos nos envolver com quem tem suas bases na corrupção, no poder, na dominação e no egoísmo. Esse não é o caminho do cristão.

A Palavra de Deus reflete em torno das tentações de Jesus e das nossas tentações. É o início de sua missão. Jesus retirou-se para o deserto. Espaço para ler a realidade e perceber no coração o que Deus está falando. Há certos momentos na vida em que o ser humano necessite de deserto dar um tempo para si, para rever a vida, olhar para seu interior e colocar-se no caminho de conversão. No deserto precisa-se perceber a vontade de Deus. “É lugar de passagem e não de permanência. E Jesus foi ao deserto. Durante 40 dias se colocou em jejum, oração, em penitência e em contato com Deus para sentir a abrangência de sua missão. O deserto é lugar de fortalecer as decisões e tornar as convicções mais sólidas. Deserto é lugar de descobrir as atitudes que marcam a vida”.

Depois de quarenta dias no deserto Jesus enfrentou a tentação entre ser fiel ao projeto do Pai, ou realizar o seu próprio projeto por caminhos mais fáceis. Jesus venceu as tentações e através de sua morte e ressurreição, torna-se para nós aquele que nos livra das tentações, do erro e do pecado. A quaresma é tempo para olhar dentro de nós e reconhecer quais as tentações que desalinham a nossa vida e que necessitam de conversão.

São Pedro (1Pd 3,18-22) nos reanima dizendo que “Cristo morreu afim de nos conduzir a Deus”. Jesus é a fonte da vida e nele encontramos forças para viver com alegria e superar as tentações que por vezes assolam a vida.

O Papa Francisco nos recorda: “Não é um bom cristão quem não faz justiça com as pessoas que dependem dele”. E não é um bom cristão aquele que não se despoja de algo necessário para dar ao próximo, que precisa. É necessário olhar para a Quaresma como o tempo de abrir o coração “para quem errou”. “O que posso fazer pelas crianças, pelos idosos que não têm possibilidade de ter uma consulta com um médico; que esperam horas e horas e depois têm que voltar uma semana depois”?

Nesta perspectiva a Igreja Católica no Brasil iniciou a 54º Campanha da fraternidade com o tema “Fraternidade e superação da violência”, tendo como lema “Em Cristo somos todos irmãos (Mt 23,8). E o povo canta o hino CF 2018:

  1. Neste tempo quaresmal, ó Deus da vida, o tua Igreja se propõe o superar a violência que está nas mãos do mundo, e sai do íntimo de quem não sobe amar.

Fraternidade é superar a violência! É derramar, em vez de sangue, mais perdão! É fermentar na humanidade o amor fraterno!  Pois Jesus disse que “somos todos irmãos”

  1. Quem plantar a paz e o bem pelo cominho, e cultivá-los com carinho e proteção, não mais verá o violência em sua terra, levar o paz é compromisso do cristão!

Rezemos a Oração da Campanha da Fraternidade:

Ó Deus e Pai, nós vos louvamos pelo vosso infinito amor e vos agradecemos por ter enviado Jesus, o Filho amado, nosso irmão.

– Ele veio trazer paz e fraternidade à terra e cheio de ternura e compaixão) sempre viveu relações repletas de perdão e misericórdia.

– Derrama sobre nós o Espírito Santo para que com o coração convertido acolhamos o projeto de Jesus e sejamos construtores de uma sociedade justa e sem violência para que no mundo inteiro cresça o vosso Reino de liberdade verdade e de paz. Amém!

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes bênçãos sobre cada um de nós. Confortai com vossa bondade os que trabalham em favor da vida ajudando os sofredores e abandonados a reencontrarem a dignidade e o gosto de viver. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering
Bispo de Rondonópolis-Guiratinga