CIMI-MT VISITA A ALDEIA BORORO DO PERIGARA NO PANTANAL.

aldeia perigara batismo

Esta visita à aldeia do Perigara era desejada há muito tempo. Única notícia que temos de presença do CIMI-MT nesta aldeia remonta a 1979 quando o então coordenador regional, Pe. Gonçalo Ochoa, esteve por lá. Raros contatos com as lideranças aconteceram quando estas passavam por Cuiabá. O acesso a esta aldeia do mês de novembro até maio só é possível de barco ou avião. Nos outros meses é possível pela estrada mas com um veículo adequado. Numa viagem a Cuiabá do cacique Benedito Tuaguebou no fim do ano passado, 2016, manifestou ao Mestre Mario Bordignon o desejo de uma visita do CIMI-MT à aldeia e da presença de um padre para administrar uns batizados. Há muitos anos que não aparece um padre por lá. Após várias conversas e com todo apoio do bispo de Rondonópolis-Guiratinga, Dom Juventino Kestering, e  tendo baixado as águas do Pantanal foi feita a tão desejada visita.

aldeia perigara comunidade

No dia 18 de agosto do corrente ano de 2017, o Pe. Eloir Inácio de Oliveira e eu, Mestre Mario,  saímos cedo de Rondonópolis rumo à aldeia bororo de Côrrego Grande onde o cacique Bruno Tawie colocou o guia bororo Abrão Amema à nossa disposição para mostrar o caminho. Chegamos no fim do dia após ter percorrido 300 Km. muitos deles em estradas difíceis com muita poeira e bancos de areia. O cacique Benedito e os Bororo nos receberam muito bem e ficaram contentes com a nossa presença. É uma aldeia composta por 21 famílias, 84 moradores mais 13 morando na cidade por motivos de estudos. Há bastante crianças e jovens e um pequeno grupo de anciões. Porém o número não aumenta há muitos anos porque todo ano famílias se mudam para outras aldeias bororo devido à situação geográfica desta aldeia. A língua bororo e portuguesa são faladas por todos. No momento não há o Baito, a casa central dos rituais bororo. Falaram para nós que futuramente vão refaze-lo. Antigamente a aldeia era redonda como manda a tradição bororo. Mas depois de mais uma enchente a aldeia se mudou num estirão levemente mais alto na planície pantaneira que era o antigo campo de avião.

aldeia Perigara

Nos hospedamos no posto de saúde, jantamos com eles, conversamos e procuramos programar o dia seguinte. No dia seguinte, sábado dia 20, após uma noite bem dormida num impressionante silêncio, começamos a conversar com as pessoas que iam chegando na escola aos poucos e com uma calma bem pantaneira. Conversamos com alguns professores e deixamos uma caixa de subsídios didáticos bilíngue e os três volumes da Enciclopédia Bororo elaborados e impressos pela Missão Salesiana de Mato Grosso. Grande foi a alegria deles pois não tinham mais estes subsídios tão desejados. Quando o grupo ficou completo fizemos uma preparação inculturada para o batismo. O Mestre Mario lembrou o belíssimo ritual bororo da nominação, o Boe Iedodo, que tem muitas afinidades de sentido em relação ao batismo católico. Ele é o começo, a inserção da pessoa na cosmologia bororo. Soubemos que nesta aldeia há uns anos que não mais se pratica por falta de chefes culturais, embora ele seja bem conhecido. O Pe. Eloir completou a reflexão no sentido católico destacando o aspecto de purificação simbolizado pela água, Boe kabi, que limpa, o aspecto de entrada na Igreja Católica, Boe Paru, o começo, e a unção do óleo que fortifica igual ao Kidoguro, a resina usada pelos Bororo. Pais e padrinhos apresentaram as oito crianças que foram registradas na Certidão de Batismo e renovaram suas promessas batismais. Em seguida teve o batizado cada qual recebendo o primeiro nome em português e o segundo em bororo. Uma foto geral do grupo concluiu a celebração. À tarde nos reunimos num barracão aberto com os adultos para tratar de assuntos ligados aos povos indígenas. O Mestre Mário entregou uma folha com os artigos da Constituição do Brasil que tratam dos índios e procurou traduzi-los numa linguagem acessível. Depois explicou como funciona o ICMS ecológico. O Pe. Eloir fez uma bonita análise da péssima conjuntura atual da política indigenista. Destacamos porém que muitos índios estão se organizando e reagindo em muitos estados e marcando presença constante em Brasília com apoio do CIMI. Os participantes prestavam muita atenção e intervinham com exposições e perguntas apropriadas num diálogo muito interessante. No fim do dia tomamos um banho refrescante nas águas um pouco barrentas do Rio São Lourenço. No domingo, dia 20, a pedido de um grupo deles, foi celebrada a santa Missa, sempre na escola, pedindo a ajuda do Bom Deus e a intercessão de Nossa Senhora da Assunção neste seu dia comemorativo. Foram lembrados também todos os Aroe mage, as almas dos finados, tão importantes na cultura e religiosidade bororo. Depois houve uma série de comunicações e recados para os parentes das outras aldeias. As lideranças manifestaram o desejo de participar mais dos eventos do CIMI e pediram apoio para eles especialmente quando estão em Cuiabá para resolverem seus problemas.

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     “Voltem mais vezes” foi a frase mais ouvida na nossa despedida. No retorno uma chuva torrencial nos acompanhou na viagem tirando a poeira e piorando a situação das estradas. Não tirou porém a nossa alegria por ter assessorado e participado um pouco da vida desta aldeia bororo mais distante e isolada das outras e mais tranquila e serena.

Rondonópolis 21 de agosto de 2017.

Mario Bordignon. SDB. CIMI-MT.