RELATÓRIO

RELATORIO

ENCONTRO DE EVANGELIZAÇÃO DE POVOS INDÍGENAS

CCM – Brasília, 28 e 29/03/2017

 

28/03/2017

8:10hs – Moderador – Dom Roque Paloschi – Abertura e Apresentação (Pe. Jaime Gusberti)

Saudação de Dom Cláudio Hummes

Nesse encontro, de fato, trata-se de um seminário, em vista do novo tempo trazido pelo Papa Francisco. Ele nos interpela e nos encoraja: “devemos ser ousados na evangelização”. O programa que ele nos apresenta está na Evangelii Gaudium, para uma “Igreja em saída”, que não tem medo do novo, para encontrar caminhos novos. Ele nos disse “não podemos deixar as coisas como estão”. A Igreja tem de ir para frente, e não pode ficar parada na história, não podemos ficar onde estamos.

O objetivo desse seminário é, em primeiro lugar, fazer um levantamento de como estão as coisas em relação a evangelização dos povos indígenas no Brasil. Em segundo, buscar caminhos para uma evangelização missionária, uma Igreja misericordiosa, pobre, com os pobres e para os pobres. Sair dos muros das estruturas que nos defendem, para ir ao encontro, acolhendo e integrando as diferenças. No caso, no respeito e acolhida dos povos indígenas. O terceiro ponto seria a inculturação da fé nas culturas indígenas, mas também nas culturas afro-americanas.

É um seminário que quer levar sugestões aos Bispos locais. Quer semear, ajudar os Bispos que tem povos indígenas em suas dioceses. Retomando as DGAE 2015-2019, elas nos interpelam sobre a evangelização dos povos indígenas (§75; 78; 80; 82; 117; 121). O Papa na Evangelii Gaudium insiste na importância da inculturação da fé (§115; 116; 118). Devemos nos perguntar o quanto fizemos em termos de inculturação da fé junto aos povos indígenas, e como ir no sentido de poder realiza-la.

Apresentação das respostas que chegaram a partir da consulta feita às Dioceses que possuem povos indígenas. ( Pe. Sidnei)

 

PAINEL COM TRÊS EXPERIÊNCIAS DE EVANGELIZAÇÃO INDÍGENA

Pe. Eloir (Diocese de Barra do Garças)

Narrou experiências de evangelização junto aos povos Bororo, na aldeia Meruri, que nasceu da implantação de uma missão salesiana. Os salesianos foram para essa região a pedido pelo governo (1902) para na época a pacificação dos povos indígenas, num conflito que gerou várias matanças, envolvendo bandeirantes, fazendeiros e indígenas. Foi em vista desse esforço de pacificação, que eles vieram a se instalar em 1912, agindo no meio dos indígenas sobretudo por meio da catequese. Durante 60 anos, vigorou um estilo de catequese feita de demonização das tradições indígenas, dos xamãs, numa épica salvacionista. Direcionada sobretudo para as crianças, essa forma de doutrinação trouxe muitos prejuízos à cultura indígena. Nessa época, os indígenas praticavam muitos dos seus rituais de forma clandestina, como o ritual fúnebre bororo, em que buscavam revitalizar a sua cultura. A partir dos anos 60, houve uma reviravolta, em que os salesianos procuraram outra postura, com mais sensibilidade pela sua cultura, defendendo seus direitos, promovendo a vida desses povos. É preciso admitir que existe, fruto dessa história, uma forma de inculturação que supõe conteúdos cristãos já assimilados. Esses elementos acabaram criando outras mitologias pelos povos Bororos, o que permitiu uma forma de aliança entre as tradições Bororos e a tradição cristã tal como foi implantada. Atualmente, eles praticam todas as festas cristãs, existe uma participação dos Bororos em todos os eventos, e são apoiados pelos missionários em nas lutas pelo reconhecimento de seus direitos. Existe também uma adaptação dos rituais Bororos, em diálogo com os rituais cristãos, buscando uma sintonia entre as duas cosmovisões. Nesse sentido, foi significativo como referencial o martírio do Pe. Rodolfo Lunkenbein, o qual entrou também no corpo das memórias dos povos Bororos. Constata-se na Aldeia Meruri uma releitura da tradição cristã e de sua história a partir do olhar dos anciãos Bororos, valorizando a figura de Jesus Cristo e de Maria, e a história da presença dos missionários. Nesse sentido, também existe uma mitologização da história de Simão Bororo.

Também tratou da história de andanças dos Xavantes, na busca de novos territórios, e entrando na terra dos Bororos. Ali, posteriormente, pode-se instalar uma reserva Xavante em Sangradouro. Em acordo com os Bororos, criou-se uma paróquia pessoal indígena Xavante, com sede na cidade de Nova Xavantina, de onde os missionários saem para atender as várias comunidades, visitar, celebrar e conversar. Foi relatada a experiência de implantação do catecumenato, interagindo com os processos de iniciação da cultura xavante com os jovens. A iniciação dos jovens indígenas, em sua cultura, abraçou as etapas da inserção do catecumenato, segundo o RICA. Existe assim um processo de anúncio cristão, em que os xavantes assumem o desejo de se batizarem e entrarem na comunidade. Nem todos entram nesse processo de iniciação, mas existe uma grande adesão a essa sintonia entre os processos de iniciação cristã e os ritos de iniciação xavantes. Os salesianos, que tiveram contato com os xavantes durante dez anos, num estilo de desobriga antes do Concílio, começaram a partir de então esse processo de intermediação por meio da catequese e da iniciação cristã, adaptando os rituais litúrgicos, numa sintonia com a cosmologia xavante.

No geral, existe a valorização dos missionários mais antigos, os primeiros que chegaram, pelo sacrifício que fizeram para se fazer próximos dos povos indígenas. Existe uma empatia e associação entre a história do Povo de Israel, sua andança até a terra prometida, com a própria história de lutas, sofrimento e expoliação dos povos indígenas. Nesse sentido, valorizam a dedicação dos missionários, sua humildade, e a Palavra de Deus como a tradição com o principal dos valores cristãos.

 

João Batista (catequista macuxi), da região da Raposa (RR)

Iniciou com a descrição da organização das comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol, em Roraima. Relembrou as lutas e o apoio da Igreja, na figura dos Bispos Aldo Mogiano e Dom Roque Paloschi. Lembrou também as histórias de massacres, de perseguições e de violências na longa luta pela criação e homologação da reserva. Mostrou a importância do processo de contato da Palavra de Deus, por meio dos catequistas e a ação dos padres missionários da Consolata. Antigamente, a presença dos padres era vista como garantia da defesa dos povos indígenas. Posteriormente, com as perseguições aos missionários, se procurou usar menos o nome dos missionários, e as lideranças dos indígenas procuraram assumir o protagonismo na caminhada. Relembrou assim a formulação do “Plano de Deus para nós”, pelos povos da Raposa Serra do Sol, a partir da catequese e da Palavra de Deus, assumido pela Assembleia dos Tuxauas na década de 70. Pela leitura da Palavra de Deus, relembrando as figuras importantes como Abraão, Moisés, perceberam que eles são personagens vividos hoje na caminhada do povo. Apesar dos sofrimentos, das lutas, as comunidades procuraram preservar sua alegria e sua animação na caminhada. Relembrou o processo de revalorização do trabalho dos catequistas, de sua autoestima, cuja “arma” e “força” é a sua cultura, a sua fé, seus rezadores, que ajudam a defender as pessoas do mal. Foi-se colocando a cultura no seio das celebrações, relembrando as orações com a ajuda da memória dos mais velhos, defendendo dos maus espíritos. Existe então a percepção de que o espírito está presente em toda a natureza, em toda a parte. Existe uma sintonia, com os Missionários da Consolata, vindos da África, na participação da reza que os anciãos deixaram, como também na oração cristão dos missionários, e mesmo naquela dos lugares de origem dos missionários, da África. Busca-se uma conciliação dos rituais originais do povo macuxi com os rituais cristãos, como por exemplo, nos casamentos. Assim, ao relembrar a história e os rituais originários, com a participação dos missionários e também dos bispos, busca-se trazer presente a cultura para as novas gerações. Nos encontros da escola e da catequese, envolvem-se as crianças e jovens, na lembrança da Palavra de Deus e das tradições macuxis como deixaram os mais antigos, em que os mais velhos trazem as histórias antigas. Nesse trabalho, procura-se interpretar os cânticos, na língua original, ouvindo a Palavra, como forma de catequizar as crianças e também os mais velhos. Assim, a tradição oral ainda tem muita força, permite a participação de todos, apesar na necessidade e penetração da escrita e de audiovisuais.

Existe um trabalho de planejamento conjunto entre as lideranças e catequistas indígenas e os missionários, na programação das visitas, encontros, celebrações. Busca-se acompanhar os missionários em suas visitas, dividindo o serviço e as visitas em todas as comunidades, algumas de difícil acesso, de forma que todos possam ser visitados e acompanhados. Todo ano essa programação é feita conjuntamente. O objetivo maior é o envolvimento os jovens, por meio dos grupos de jovens, e percebe-se que eles têm se mostrado mais atentos e animados. Contribuiu muito a passagem da cruz peregrina, na época da JMJ. A passagem da imagem peregrina de Nossa Senhora, incentivou a participação das senhoras. Cada região faz o seu encontro com os seus missionários, e durante o ano são feitos dois encontros gerais, de todas as comunidades da Raposa Serra do Sol. Citou também a presença das irmãs da Consolata, na região da Raposa.

 

Leonardo (catequista do povo tucano) de São Gabriel da Cachoeira, Paróquia São Miguel Arcanjo – Iauarete

Fez a descrição da localidade da Paróquia, conforme a língua indígena, e habitada por treze povos indígenas com línguas, culturas e tradições diferentes. Essa região foi marcada pela presença dos missionários salesianos. Apresentou sua exposição com por power point, visualizando: o retiro dos catequisandos (concentração de jovens, com atividades culturais que exprimem sua forma de se fazer catequese, pois transmitem os seus valores, por meio de seus rituais); a Cruz da Peregrinação da JMJ (chegada ao interior, a todas as comunidades, para tocar os jovens indígenas); o Dia Nacional de Catequese (atividades esportivas próprias dos indígenas, como a canoagem, trabalhos comunitários, festas culturais); a Gincana Bíblica Catequética (com uso de textos bíblicos, na forma de cantos, de poesia, de teatro, com a participação das comunidades); a Gincana Catequética Mariana (representação de cenas de Nossa Senhora); apresentação de danças culturais (dança do Acará – história mitológica); as brincadeiras culturais que fazem parte da catequese; a importância da Partilha comunitária (jantando com o povo, em que trazem sua comida, em que os pais ensinam os filhos a partilhar, e os padres partilham junto com o povo).

A seguir, expôs as experiências litúrgicas: o Domingo de Páscoa, com a inserção das danças culturais em diferentes momentos da celebração, estudando com critério o momento oportuno da celebração; o Rito das Ofertas (dança do japurutu na entrada; dança de cariçú, nos momentos de ofertório); a Missa do Crisma dos adultos (resultado do catecumenato dos adultos); as lembranças dos catequisandos adultos, dos quais alguns se tornaram também catequistas; a Ordenação Presbiteral do Pe. Gilson e Pe. Gaudêncio (cenas da celebração, com ritmo cultural, presença do pajé); a Missa do Ano Novo (recepção do ano novo pelas crianças; entrada da bandeirinha da paz); a coroação de Nossa Senhora Auxiliadora (comunidades prestam homenagem a N.Sra.); a Vigília do Pentecostes (acolhida dos jovens que vão receber o Crisma – noite de meditação sobre a Palavra de Deus; cerimônia da benção; brincadeiras) e o dia de Pentecostes.

Apresentou a seguir a dinâmica e momentos fortes da Evangelização dos Povos Indígenas: a preparação dos catequistas; os Cursos dos Catequistas por Diaconias (ajuntamento de comunidades, para facilitar a preparação de novos ministros e catequistas); a realização de diversas cerimônias (batismo, primeira comunhão, etc); a itinerância missionária (momentos de partilha); a Peregrinação da Cruz ; a chegada de Dom Edson em São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro; a missa de Crisma nas comunidades do interior (valorização do nome que o benzedor/pajé deu ao menino, na sua benção no rio, que significa sua identidade indígena, junto com o nome de batismo); a missão evangelizadora; a visita pastoral, em que o povo recebe os missionários (calha do Rio Papuri); os desafios naturais. Em sua mensagem final, agradeceu a Dom Bosco, pela presença dos missionários salesianos, e como os indígenas acolhem os missionários para uma evangelização que fortalece a cultura e a educação numa catequese inculturada.

 

Catequista Rose Medeiros

Fez a memória da organização dos Seminários de catequese indígena. Junto com os Bispos da Região Norte, se projetou a organização de um seminário sobre catequese indígena: o Seminário da Reconciliação. O primeiro encontro tratou da relação entre a catequese e a liturgia indígena, em diferentes povos. Assim se iniciaram os Seminários de Catequese Indígena, e emergiram as necessidades de partilha de experiências e de mapeamento do que vem acontecendo. Narrou-se brevemente como aconteceram essas experiências, com uma crescente participação de catequistas indígenas, de outros povos. Buscou-se dar continuidade ao processo, com a valorização da Iniciação à Vida Cristã, do Bem Viver, das tradições autóctones. Relato sobre o 3º Seminário em Manaus, contou com cerca de 100 participantes, e presença de vários Bispos, e assessores como Paulo Suess, Tea, Possidônio, etc. O quarto seminário ficou adiado, apesar de várias propostas de continuidade, que por fim não receberam uma definição clara de que do tipo de continuidade seria dado. Ainda existem muitas interrogações sobre como seria esse encontro, o que levou a ter uma atitude de cautela em relação ao planejamento do quarto Seminário. O sonho seria fazer um seminário em meio aos povos indígenas.

 

Fila do Povo

Orofino: qual é a proposta de usar a Bíblia na catequese indígena? Ele fez uma assessoria na Diocese de São Gabriel da Cachoeira usando elementos Bíblicos ao tratar a maneira de se criar uma catequese inculturada. São valores bíblicos que dialogam com os valores dos povos indígenas. Na palavra de Deus existe uma afirmação que diz que cada povo tem o direito de louvar a Deus em sua língua materna. Outra afirmação importante é não quebrar a lógica da partilha, e principalmente a partilha da comida. Existem muitos valores da vida cotidiana, de vínculo afetivo, numa leitura bíblica, que remetem a valores afetivos vividos na família, na partilha da comida, do trabalho. Essa associação afetiva se percebe na percepção de que os valores Bíblicos são encarnados nas figuras bíblicas: “Abraão somos nós hoje”.

Dom Mario Antônio: falou sobre como acessar o relatório do 3º Seminário sobre Catequese Indígena; motivos que emperraram na construção do quarto seminário;

Dom Juventino: na distribuição da Eucaristia, citou como nos jovens e crianças, a percepção da partilha ajuda a entender o sentido da comunhão, começando pelos menores. Nesses costumes, o importante é que ninguém de fora, diferente da cultura ocidental, em que sempre se começa pelos adultos, em que esse sentido da partilha não aparece com essa força.

Prof. Gilberto: inculturar seria um caminho para encarnar; é preciso pôr os pés no chão sagrado dos povos indígenas, assumindo as suas dores e lutas; ainda não mergulhamos realmente na vida cotidiana dessas comunidades;

Dom Claudio: existe uma questão de metodologia, sempre colocamos tudo no imperativo “devemos” fazer isso; dificilmente se diz do que se “quer” fazer isso. Segundo o Papa, na cultura ocidental, ressaltamos o “dever” e não o que se “quer”, e não se “conversa e decide juntos”, numa dinâmica do fazer juntos;

Leonardo: as bíblias vivas nas comunidades indígenas são os anciãos que mantém as histórias, e mantém viva a memória da cultura; a Bíblia hoje para os povos indígenas é a memória viva dos anciãos. É o modo como se lê a Bíblia na catequese.

João Batista: quanto ao uso da Bíblia na comunidade, na língua macuxi, ela é lida e colocada no chão, o que ela quer dizer na vida do povo macuxi. A Bíblia existe para lembrar a história, e também lembrar a história dos antepassados, e como ela aponta para a história como a vivemos hoje. Ela está renovando a história para a comunidade hoje, como lembrança dos antepassados da Bíblia e os antepassados do povo hoje. A Bíblia é o conselheiro que aconselha os nossos anciãos, na memória das histórias antigas dos avós, para compreender como acontece essa história hoje. A partilha é feita com a palavra, como acontece na partilha com a comida, com a vivência do dia a dia, do trabalho. A partilha se dá no alimento, na água, e por isso se dá também no sangue do Senhor. É assim que é vivida na Eucaristia, quando o padre vem.

Rose: os Seminários de catequese indígena tiveram o objetivo ajudar a estar melhor junto aos povos indígenas, também para aprender como se relacionar com a Bíblia, como usa-la na catequese, na cultura de cada povo. Os catequistas devem aprender a entrar na Palavra de Deus, para poder entrar na vida do povo indígena. O que se constata é que a maioria dos catequistas não tem essa compreensão da entrada na Palavra de Deus. O uso dos textos bíblicos geralmente é feito de maneira marginal, apenas para ilustrar uma temática. Seria preciso o conhecimento mais incorporado da Bíblia, para ajudar a partilhar no grupo a vivência dessa experiência bíblica, na vivência do povo.

Pe. Eloir: o uso da Bíblia com os povos Bororo e Xavante é feita nos cursos com agentes e catequistas bororos e xavantes, que acontecem duas vezes ao ano. Nela a Bíblia é apresentada, na tradução do povo. Existem problemas de tradução, que também acontece em outras línguas, como o português e francês. Mas, a tradução na língua do povo tradicional permite um maior acesso ao seu sentido. A questão da partilha também depende das regras de troca que rege a cultura de cada povo, em que essas relações de intercâmbio são bem marcadas e passam por prescrições bem determinadas, e, conforme o povo, possuem um caráter sagrado que precisa ser respeitado. Na mitologia, existem associações com o caráter sagrado da Eucaristia. Nesse sentido, os rituais e mitos pedem processos de preparação e iniciação que não podem ser desconhecidos quanto à participação na Eucaristia, enquanto “refeição sagrada”. Assim, a inculturação pede um conhecimento, sem dominação (interrogação: é possível isso na prática?). Trata-se de um processo muito delicado. Como então mergulhar nos povos indígenas, com que critérios, se temos a noção de que são sempre duas culturas em contato?

Frei Paolo Braghini: atua junto ao povo Ticuna, no Alto Solimões, e descreveu a dificuldade de relação com o ritual da “Moça nova”, de forte incidência no meio do povo. Possui sinais muito fortes, em comparação aos quais, os sinais cristãos se mostram muito fracos, levando a um questionamento quanto ao sentido da experiência religiosa. O diálogo entre os rituais é difícil. Também é preciso dizer que o trabalho de aproximação e inculturação não é bem recebido na Diocese, que não compreende esse processo. Quando os catequistas vão aos encontros da Diocese, voltam querendo reproduzir simplesmente junto ao seu povo os esquemas romanizados e convencionais de catequese.

Isabel: descreveu a realidade do norte do PR, em que os povos indígenas foram abandonados e não existe praticamente qualquer inserção da Igreja junto a eles. Percebe-se a intrusão dos evangélicos, penetrando num vazio deixado historicamente pela Igreja. As igrejas neo-pentecostais estão ligadas a processos de desconstrução da resistência social, de desvalorização das culturas tradicionais;

Pe. Justino: comentou sobre as diferentes culturas dos participantes desse encontro, em que os indígenas são minoria; e a tentativa de dialogar, com evangelizados de vários “escalões”; colocou a questão da iniciação dos povos indígenas na Bíblia, de forma a dialogar com a hierarquia, considerando que os indígenas também tem sua “revelação”, sua cosmovisão, seus valores salvíficos; como vamos aprofundar essa relação, uma vez que os indígenas também são reivindicadores de seus direitos, de sua terra, dos valores sagrados de sua cultura?

Dom Wilmar Santin: relatou um encontro em sua diocese, e as ideias que saíram: gravar os mitos dos anciãos e buscar os textos bíblicos que possam ajudar a ilumina-los; a dificuldade da tradução dos textos bíblicos disponíveis fez com que se tomasse a iniciativa de rever a tradução dos textos do NT, e aqueles usados na liturgia; iniciativa de instituir Ministros da Palavra de cada povo e comunidade. Existe uma instituição oficial para ministros da Palavra e da Eucaristia, do Batismo ou do matrimônio, entre os povos indígenas? Existem ritos próprios para batismo e para matrimônio?

Dom Claudio: ressaltou que a realidade dos povos indígenas do sul do Brasil precisa ser melhor conhecida e precisa ser trazida a discussão; colocou a questão sobre a residência do missionário no meio dos povos indígenas, como uma necessidade, porém relembrou a afirmação do Papa de que devem haver ministros indígenas, no meio do seu povo, para fazer o processo de inculturação no meio do seu povo;

Leonardo: citou a existência do rito de iniciação de jovens em São Gabriel da Cachoeira, mas mencionou que atualmente nenhuma das comunidades se utiliza desses rituais, e os jovens não são mais inseridos por eles. Muitos desses valores que nele estão inscritos não estão sendo usados. Em lugar desses processos de iniciação, estão sendo utilizados os processos de catecumenato. Trata-se de um processo amplo que precisaria de um denominador comum. Quanto ao diálogo das religiões, em sua região não existe a presença de evangélicos. É preciso de um tempo longo para chegar a consolidação do processo de iniciação;

João Batista: o indígena precisa de muito tempo para explicar bem a resposta das perguntas (risos). Mencionou o caráter sagrado da fumaça nos rituais recebidos dos antigos, e seu sentido está sendo trabalhado nos momentos de catequese, e nos rituais de cura empregados. Quanto à presença dos evangélicos na Raposa, denunciou que ela vem “adoecendo” o povo, pois não são mais católicos, nem crentes, se tornando “ateus”, sem referência a Deus e sem vínculos comunitários. Relatou um momento em que foi chamado a fazer uma “cura” de uma senhora que ficou nas mãos de evangélicos, alienada e cega, por meio de suas orações, a defumação, e seu testemunho de fé, para restabelecer sua saúde. Evangélicos são parentes e irmãos que estão levando uma evangelização falsa, e estão atrapalhando a sua própria vida. Na tradição dos macuxis, não existem ministros, mas rezadores e pajés, adoradores, que acompanham os parentes. Uma tradição de cura que encontra eco na prática dos milagres de Jesus, como os apóstolos fizeram.

Pe. Eloir: é preciso rever a liturgia, que é muito racional, e exemplificou a necessidade da criatividade ativada nos rituais da iniciação da vida cristã, e a busca de encontrar os elementos que possam facilita-la. Citou o caso dos evangélicos entre os xavantes, e como sua penetração se deveu aos limites e rigidez das normas católicas, que não aceitam, por exemplo, as “revelações” de sonhos que os xavantes costumam expressar. No caso dos povos bororo e xavante, existe a aplicação de ritos católicos, com o uso da criatividade para vivenciá-los com o olhar de sua cultura tradicional. Existem ministros da Palavra, mas não ainda instituídos. Eles preparam as celebrações e frequentemente fazem a tradução em língua tradicional, com a homilia em português. Mencionou o uso de audiovisuais de catequese, de CF, usando-se a língua xavante. Existem problemas de conflito entre os costumes tradicionais e as normas católicas no que diz o matrimônio católico.

 

14hs – moderador – Dom Juventino

Continuação de partilhas

Ir. Aurora – apresentou a realidade indígena de Dourados (MS), desafiadora, em que existe um projeto de evangelização com atenção às crianças e mulheres. Acentuou a presença dos evangélicos no meio das comunidades indígenas (mais de 60), e a dificuldade de diálogo, pois a atuação dos católicos são associadas por eles ao “diabo”. Existem entre as comunidades três casas de reza, em estado precário. Mencionou os problemas de alcoolismo, de abusos de crianças em casa, de violência, e a dificuldade de acompanhamento dos jovens nos projetos sociais, que muitas vezes são controlados pelos “pastores”. Existe a expectativa de haver um projeto de evangelização em nível diocesano, a partir dos documentos da Igreja e da palavra do Papa, aproveitando a simbologia que carregam consigo. Também traz expectativas sobre pistas de como trabalhar a Palavra de Deus junto aos povos indígenas.

Ir. Rosana – apresentação da organização da Pastoral Indigenista no Regional S2, no Paraná, com um mapa que situa as comunidades indígenas no estado. A missão que a Pastoral está se colocando, seria a de conscientização da Igreja Local: onde existem comunidades indígenas, as paróquias em que elas se situam possam assumir o trabalho de evangelização. Nesse sentido, procuram ser um elo entre as demandas das comunidades indígenas e as paróquias, com os seus padres e os fiéis que delas participam.

Antônio – Denunciou a multiplicação do número acampamentos de indígenas no Paraná, passando fome e por isso ficando vulneráveis à ação das igrejas evangélicas e partidos políticos. Por isso, o esforço é fazer com que o pároco e os fiéis da paróquia vejam a comunidade indígena como uma comunidade igual às outras, que passa necessidades e também precisa de atendimento religioso.

 

Paulo Suess: Que provocações surgiram a partir das experiências e da manifestação da fila do povo?

Desafios que aparecem fortemente:

– Comunhão nas diferenças, sinodalidade: espírito pentecostal;

– três Correntes de pastoral indigenista: pré-conciliar (necessidade de pacificação dos indígenas e de civiliza-los); impulsos pós-conciliar (pastoral martirial, com exemplos de evangelizadores que trabalharam pela causa indígena e foram assassinados, como Pe. Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororo, Pe. Ezequiel Ramin, Ir. Vicente Cañas); pastoral indigenista segundo a Evangelii Gaudium do Papa Francisco, procurando operacionalizar Aparecida;

– “palavra-chave” de Aparecida é transformação: novos desafios da Igreja em sua missão; conversão pastoral;

– Pastoral integral: missão salesiana integrando catequese, liturgia e promoção da cultura da comunidade indígena; organização da pastoral diocesana em RR, e empoderamento das lideranças macuxis na Raposa Serra do Sol;

– Integração da cultura, envolvimento da comunidade indígena na interpretação da Palavra de Deus; não só traduziram a Palavra em sua língua, mas participam na interpretação do que essa Palavra quer dizer para o hoje da comunidade;

– Exemplo de paróquia pessoal indígena em São Gabriel da Cachoeira: onde aparentemente não existe problema de território; exemplo de integração da catequese indígena na caminhada paroquial;

– Lembrou que é preciso retomar a proposta da catequese renovada, e sua proposta de uma catequese inculturada; a maioria das dioceses não assumiu uma catequese que dialogue com a cultura indígena; existem mais paróquias onde existem mais comunidades indígenas sem atendimento, do que aquelas em que existe uma pastoral indigenista;

– Dificuldade de inculturar a catequese: primeira finalidade da catequese não é preparar para os sacramentos, mas preparar para a vida em comunidade;

– Papa usa duas palavras: relançar a missão com fidelidade e audácia; uma Igreja que “saia das gaiolas”;

– A fé indígena nos desafia: as suas práticas de reza e rituais, e sua firmeza no compromisso, questionam a nossa própria fé;

– Necessidade de assumir outras maneiras de viver os ministérios da Igreja nos povos indígenas, com seus sacramentais, para não ficar preso e dependente com a hierarquia da Igreja, e ganhar em autonomia;

– Repensar o uso do tempo: diferentemente de outras épocas em que o missionário gastava dias junto a cada comunidade, hoje os missionários chegam correndo para fazer a celebração, e partem sem conviver e participar da vida da comunidade;

– a Igreja Local precisa assumir a pastoral indigenista específica e universal, e não deixa-la para segundo plano frente a outras prioridades; os problemas dos povos indígenas são universais, são problemas da humanidade; assumir a caminhada, reconhecendo o que a Igreja já aprendeu com outras experiências de evangelização, e se servir dessa experiência como referencial para o trabalho junto aos povos indígenas hoje; não precisamos reinventar a “roda” para iniciar uma pastoral indigenista, mas caminhando junto com eles, descobrir os caminhos para fazer uma evangelização inculturada.

 

 

Trabalho de Grupos (15hs)

Que caminhos a percorrer para a Evangelização dos Povos Indígenas?

 

Grupo 1

– A evangelização dos povos indígenas já tem uma história; não inventar um caminho;

– Não ser moralista, mas se encarnar com os olhos de Cristo, olhos do evangelho, valorizando os vários encontros com Aparecida, com o Vaticano II, etc.

– Os povos indígenas têm um verdadeiro senso da fé, todos precisamos de Cristo;

– Um mesmo Deus com nomes diferentes;

– Escutar as experiências de fé: ter um Deus como Pai, onde está a semelhança com Deus;

– Conhecer a natureza, a espiritualidade, os lugares sagrados, as atividades como a caça, pesca, a roça, a simbologia do cultivo da terra;

– A Igreja que ajudou os índios a se organizarem;

– Ver como acontece a catequese: a relação da Bíblia com as histórias dos povos;

– Os índios desaldeados mantem o seu jeito de ser com valores. Muitos buscam voltar às aldeias para se reabastecer. Muitos não se manifestam por buscar de imediato a sobrevivência

– Na catequese buscar passar os valores culturais para as futuras gerações, pois as novas tecnologias cativam os jovens;

– A religião está na cultura do povo;

– Existem conflitos interno, devido às músicas que se buscam apoderar;

– Na região sul, conflitos com os grandes produtores, muitos homicídios e ocorrências de suicídios;

– Terra é um problema quando é restrita e isso traz e isso traz a muitos problemas internos. Os valores da Bíblia para amar a sua cultura;

 

Grupo 2

 

Grupo 3

– Conhecer a real situação dos povos indígenas no território brasileiro.

– Investir mais na Pastoral Indígena nas Dioceses. O trabalho precisa ser mais missionário, dentro de uma perspectiva de Pastoral de Conjunto. Há ainda muitas ações espontâneas.

– Estudar mais sobre a cultura e a vida dos povos indígenas. Dar oportunidade para que eles mesmos transmitam seus conhecimentos e experiências de vida às outras pessoas. Investir no caminho de proximidade – cultura do encontro.

– Incentivar a troca de experiências que enriquece a todos.

– Perguntar ao outro: como posso me aproximar de você? A aproximação do povo quilombola inspirou os indígenas a procurarem também a reaproximação. (Diocese de Óbidos – PA).

– Há reclamação de povos indígenas do abandono por parte da Igreja Católica. Repropor a proximidade da Igreja aos povos indígenas.

– Levar a sério o princípio da Sinodalidade – abrir-se ao diálogo. Propor e apoiar o diálogo entre as etnias indígenas que têm sua cosmovisão própria. Como evangelizar sem matar a força dos povos indígenas?

– Com a juventude indígena, buscar conhecer bem a fé, num processo – não é de uma hora para outra. É preciso conhecer a fé para que se tenha fé. Conviver, celebrar junto com os povos indígenas. Tradição indígena e tradição da religião católica, é preciso que se juntem, caminhem de mãos dadas.

– Colocar-se a caminho para a vivência da Sinodalidade. Estar juntos! Permanecer presente ou na presença. Aprender a não se sentir fora de casa. Ser irmão!

– Como olhamos a terra? Aprender da relação dos indígenas com a terra. Apoiar as iniciativas para promover entendimento das diferentes perspectivas de ser e estar no mundo.

– Preservar a comunhão no seio da comunidade e fortalecer a organização social dos povos indígenas.

– Trabalho do CIMI: o que é que as comunidades indígenas esperam da Igreja?

– Qual a impostação da Pastoral Vocacional hoje?

– Superar a pressa na ação pastoral.

– A importância da espiritualidade na vida do indígena. A espiritualidade é fundamento concreto de sua vida.

– Vazio interior que gera vícios. Como a Pastoral Indigenista pode enfrentar essa questão?

 

Grupo 4

Que caminhos percorrer para a evangelização dos povos indígenas?

  1. É impossível fazer uma proposta única. Conhecer as experiências existentes. Circular materiais.
  2. É preciso estar presente entre os povos indígenas, ser acolhedor, respeitar.
  3. O que nos deve levar aos indígenas não podem ser as instituições católicas, mas o que eles demandam, o que eles necessitam. Escutar os povos indígenas. Construir aos poucos. A partir da realidade que grita. Temos que ter esta coragem.
  4. Eles têm o direito de ter uma Igreja Indígena. Os evangélicos dão mais valor aos líderes indígenas do que nos da Igreja Católica. Os leigos precisam ter mais poder. Uma liderança religiosa tem prestígio na aldeia. É preciso jogar tarefas nas mãos deles.
  5. A Igreja precisa assumir uma evangelização integral. As sociedades indígenas têm uma religião integral, que ilumina todas as dimensões: economia, política, educação, ética.
  6. Formação dos seminaristas, futuros padres e bispos da Igreja.
  7. Proporcionar formação atualizada dos líderes indígenas levando em conta os seus métodos educativos culturais.
  8. Considerar como fundamental a questão da terra, garantia de vida cultural e material.
  9. O trabalho evangelizador precisa ser feito em comunhão pastoral.
  10. Construir poder popular, indígena, local, como enfrentamento ao poder do capital.
  11. Ter a coragem de avaliar o trabalho missionário.
  12. Algumas questões devem ser comuns na Igreja.
  13. Identificar o grau de vivência cultural atual do povo indígena para apresentar propostas. O processo evangelizador é eficaz quando é assumido por uma cultura forte.

 

Plenário

– Ir. Custódia: comunicou que na região de Grajaú, no Maranhão, existem muitos conflitos com os grupos de evangélicos, e ataque à ação da pastoral católica; denúncia da penetração do projeto Matopiba;

– Ir. Aurora: acentuou a necessidade da proximidade e a qualidade do contato com a Palavra de Deus nas comunidades indígenas;

– Isabel: lembrou a importância da presença solidária, profética e que considere sobretudo a perspectiva do protagonismo dos povos indígenas;

– Dom Claudio: é preciso devolver aos povos indígenas o seu direito de serem os sujeitos de sua história, e daí a necessidade de uma Igreja indígena com seus próprios ministros; necessidade do profetismo da Igreja, na defesa dos DDHH dos povos indígenas, de seus territórios; exigência da consulta prévia dos povos indígenas sobre os projetos que impactam suas próprias terras, e dar segurança na demarcação de suas terras, e para isso a Igreja deve se posicionar;

– Paulo Suess: é um caso único que depois de 500 anos não se tenha criado uma Igreja nas bases, com seus ministros, e é um desafio que possam emergir ministérios a partir da realidade concreta dos povos indígenas; devido à história de matança, temos apenas pequenos povos indígenas, que vivem na dependência da Igreja para qualquer serviço religioso. É a oportunidade de retomar a proposta do “viri probati”, colocando como prioridade que se tenha um ministro indígena no meio de seu próprio povo;

– Dom Erwin: a Igreja como um todo deve assumir a questão indígena, pois ela ainda é vista como um apêndice; não é um assunto que perpassa a agenda da CNBB; o CIMI, apesar do seu reconhecimento, ainda é um organismo setorizado no conjunto da pastoral. A questão do clero autóctone só entra quando o candidato se conforma com a cultura do clero, relegando elementos de sua cultura. Como ter uma Igreja com ritos apropriados à cultura dos povos indígenas? Necessidade de aprofundar a teologia índia;

– Pe. Justino: nós os povos indígenas devemos gostar de sermos povos indígenas; existem pessoas cristãs indígenas que não gostam de ser indígenas; se existem pessoas que lutam pelos seus direitos, é porque gostam de ser o que são; o ser padre deve ser ensinado pelos não índios, pois não são os povos indígenas que podem ensinar o que vão comunicar o que significa o ministério; hoje, ainda não conseguimos nos libertar da ideologia clerical;

– Gilberto: relembrou a espiritualidade de Charles de Foucauld, das Irmãzinhas que viveram por tanto tempo entre os Tapirapés, e revitalizaram a vida de todo o povo; é outro exemplo de como ser um sinal do Evangelho no meio dos povos indígenas; relembrou a proposta profética do CIMI, que necessariamente convive com os conflitos que são inerentes à condição vivida pelos povos indígenas;

– Ir. Rosana: é preciso saber se inserir no tempo dos povos indígenas, que não é o nosso tempo, do relógio e da produção da sociedade ocidental;

– Pe. Martins: precisamos ser ousados, e estarmos juntos com o povo;

– Pe. Patrick: precisamos saber nos evangelizar pelos povos indígenas, que é uma sociedade muito mais evangélica do que a em que nós vivemos;

– Dom Giuliano: relatou o caso de uma escola agrícola, e da experiência sobre o contato de jovens indígenas com ela, que apesar de ter sido construída pela Igreja, hoje é administrada pelo Estado, e que se mostra muito resistente em se encontrar um modo alternativo de se ver a educação, que integre os conhecimentos e as tradições da cultura local;

Paulo Suess: Jesus se inculturou no mundo do seu povo, e o cristianismo também cresceu inculturado na cultura europeia, e é esse cristianismo que chegou até às Américas. Não é possível que o cristianismo se liberte dessa raiz, e é com ela que se pode pensar numa postura de diálogo inter-religioso e intercultural, e se livrar de uma atitude colonialista: convivência de dois projetos de vida, que são diferentes e irredutíveis; diminuir a atitude colonialista em todos os níveis de relacionamento com as outras culturas, as muitas culturas indígenas. Em cada cultura nova, se deveria experimentar de novo essa postura. Estamos no caminho de menos colonialismo, e mais respeito e aproximação;

Conclusão de Dom Claudio: o Dia foi muito proveitoso, pela escuta mútua, com respeito pelas diferenças, e por ouvir pessoas que ajudam a encontrar caminhos. Lembrou a frase do Papa: não deixar de sonhar, pois é sonhando que se descobrem novos caminhos.

 

Eucaristia (18hs15min)

Testemunhos – 20hs

– Pe. Justino Rezende

– Frei Paolo Braghini (Belém do Solimões)

– Jair Batista Garcia (Diocese de Óbidos)

 

29/03

8:15hs – Moderador – Dom Wilmar Santin

 

Apresentação da síntese dos trabalhos feitos no dia anterior

– Transformação, como conversão, a luz de Aparecida, com audácia e fidelidade;

– Audácia que nos faz olhar com esperança para o futuro, e fidelidade à memória da caminhada feita, passado e história;

– Nós vamos à realidade indígena para se encontrar com o outro, conviver com ele: cultura do encontro e da proximidade;

– sinodalidade, como caminhar juntos;

– Desafio: caminhar juntos, união na diversidade;

– Desafio: construir uma Igreja com rosto indígena;

– inculturação: imagem do enxerto, não como uma mescla, mas como um fruto próprio do encontro de duas culturas distintas;

Complementações

– Diálogo em torno da imagem do “enxerto” para entender o processo de inculturação;

– Peso do clericalismo, que dificulta na criação de uma disposição para o diálogo, o que é comprovado por inúmeros fatos do passado, e permanece ainda hoje: com os leigos, nos campos de missão, no diálogo com as culturas;

– Em torno da audácia: apelo para confiar nos leigos e indígenas, investindo na sua formação e na criação de ministérios que lhes dê verdadeiro protagonismo;

– Avanços na recuperação dos valores indígenas que foram negados no passado, e busca de iluminá-los com a Palavra de Deus;

– Críticas ao modelo de formação inicial dos presbíteros, e sua inadequação para o acolhimento de vocações vindas da pastoral indígena;

– Diáconos permanentes, e pergunta sobre presbíteros casados em consideração ao meio cultural dos povos indígenas.

 

Grupos: definição de ações e passos em vista da Evangelização dos Povos Indígenas.

 

Plenário:

– Criar projetos pilotos em algumas regiões, ou áreas indígenas, em vista da preparação de sacramentos, e que um desses projetos vise a valorização da cultura autóctone;

– Maior divulgação da Palavra de Deus entre os povos indígenas, valorizando a Bíblia;

– Preparação de agentes de pastoral com formação específica, antropológica e bíblica, e próxima aos povos indígenas, com pessoas comprometidas e dedicadas;

– Trazer sempre os povos indígenas para os momentos de formação;

– CNBB deve colocar em pauta os ministérios indígenas;

– Arquidioceses e Dioceses com indígenas, devem enviar seus agentes para formação específica, antes de iniciar o trabalho junto aos povos indígenas, e que cada Diocese e Arquidiocese assuma seus indígenas numa comunidade em sinodalidade;

– Contemplar a pastoral indigenista nos planos pastorais da Diocese;

– Valorizar ecumenismo, de diálogo com as outras igrejas, numa proximidade com os povos indígenas, valorizando sua cultura comunitária;

– Integrar as comunidades indígenas na dinâmica pastoral da Igreja Local, Diocese e paróquia, respeitando sua especificidade, mas como parte integrante da comunidade eclesial, como forma de combater os preconceitos e a exclusão;

– Reaproximar o CIMI da pastoral indígena;

– Dar continuidade aos trabalhos aqui realizados com novo encontro, mais amplo, para mais partilha de experiências.

– Que esse grupo, aqui reunido, possa assumir a realização do 4º Seminário de Catequese e Povos Indígenas, com abrangência nacional, envolvendo todos os Regionais da CNBB. Nesse Seminário, poderia ser dado espaço para discutir questões específicas, tais como: catequese, mística, organização social, ministério, etc.

– Seduzir os bispos pela causa, para que comprometam os padres nas ações evangelizadoras junto aos povos indígenas.

– Mais atenção aos grupos e pessoas indígenas no meio urbano.

– Apoiar os catequistas com materiais e presença de padre-missionário especificamente para formação de catequistas e outros agentes.

– Promover apoio às ações já existentes nas comunidades indígenas.

– Em 2018, Óbidos promoverá o 1º Seminário Indígena Diocesano. Esse evento terá a participação dos Quilombolas na articulação.

– Apontar assessorias para as primeiras formações nas Dioceses.

– Atenção aos estudantes indígenas no 3º grau, com projetos que incentivem sua formação superior.

– Incentivar a Pastoral Indígena a disponibilizar apoio à pessoa indígena.

– Ouvir os indígenas. Pensar formas de abertura ao diálogo;

– Disponibilizar a participação dos indígenas nos processos de formação;

– Elaborar de ritos apropriados à cultura dos povos indígenas;

– Formação básica do CIMI e curso CIMI / UNILA;

– Instituição de ministérios, ministros do batismo e futuramente, diáconos;

– Uma missão que não fique apenas na dimensão religiosa, mas que toca a vida toda, aberta à defesa dos povos indígenas, principalmente quando existem ataques aos seus direitos;

– Uma formação em nível Regional, para atender as demandas que existem;

– Envolvimento na integralidade da vida dos povos;

 

Outras intervenções:

 

– Dom Claudio: é importante “seduzir os bispos”, pois eles são fundamentais nesses encaminhamentos, pois são eles que podem mobilizar os padres e outros agentes de pastoral; é preciso que eles abracem a causa, se aproximem das comunidades indígenas, e lhe deem prioridade nas diretrizes da pastoral diocesana; importância da abordagem nas reuniões e assembleias em que se reúnem, que se possa visita-los, fazer um “corpo a corpo”, e cativá-los;

– Liturgia: questão sobre as missas motivadas pelas Dioceses com povos indígenas na Assembleia Geral;

– Importância de que se tenha projetos piloto a partir de uma experiência bem vivida, como experiências exemplares, seja na Amazônia ou em outras regiões do país;

– Não se deve jogar para a CNBB a responsabilidade de se pronunciar e se posicionar, para a instituição de ministérios, pois os Bispos já têm autonomia para isso, para criar determinados ministérios para atender as necessidades específicas dos indígenas de sua diocese;

– Passar de uma pastoral indigenista (para os indígenas, feita por especialistas vindos de fora) para um pastoral indígena (dos indígenas, com formação diferenciada para que eles mesmos se tornem os protagonistas das ações de evangelização em sua realidade e cultura): isso faria um caminho para que tivessem catequistas próprios, e ministros da palavra próprios, etc;

– Ainda o projeto piloto, em algumas regiões ou áreas indígenas, para criar propostas tendo em vista os ministérios e sacramentos; um destes projetos pilotos deveria incluir os valores indígenas e os valores presentes na Bíblia;

– Lembrando o diretório da catequese: passar de uma catequese meramente doutrinal para uma catequese vivencial; iniciativa do Pe. Justino, tem como meta a reconstrução das relações dentro da casa, as relações humanas na comunidade, e não apenas o conhecimento da doutrina e a recepção dos sacramentos; esse material do Pe. Justino (de São Gabriel Cachoeira), tem um uso da palavra de Deus, sobretudo das parábolas, como forma de ter um olhar bíblico sobre a vivência dos povos indígenas e a convivência dentro da casa indígena, para que as pessoas possam viver melhor;

– Projeto piloto: conhecimento dos valores indígenas e deixar que os indígenas falem, e que nos ajudem a celebrar a vida; relembrar como Jesus se aproximou das pessoas;

– O que os povos indígenas querem é que se batizem as crianças o quanto antes, o que significa que eles desejam receber o sacramento, mas que não fique dependente apenas da figura do padre;

– Existem exemplos na Panamazônia de comunidades indígenas que desenvolveram rituais próprios para o ministério de sacramentos, oficializados por Roma, respeitando suas culturas autóctones;

– Fazer um encontro específico para socializar o que já existe como ritos específicos que estão sendo vividos em muitos povos indígenas, como inspiração para que sejam criados em outros locais;

– Assumir a realização de um IV Seminário de Catequese Indígena, em nível nacional, que possa incorporar as contribuições de outras regiões fora da Amazônia, e abordar todas as temáticas ligadas à catequese, rituais e liturgia e sua relação com as culturas dos povos originários;

– Faustino: carta do Encontro Latino-americano sobre Liturgia inculturada, realizado em Chiapas, fev/2017: cuidado pela piedade popular e sua inserção na liturgia;

– Considerando a proposta dos projetos pilotos, não esquecer que cada povo tem sua especificidade cultural, e problemáticas próprias de cada realidade;

– Realidade gritante de suicídios e alcoolismo entre os jovens indígenas;

– Ir. Irene: relembrou o eixo da REPAM sobre a espiritualidade dos povos indígenas e sua evangelização, e considera-lo quando se colocar em pauta a possibilidade de criação de um projeto piloto;

– ao levantar tantas propostas, como a criação de um projeto piloto, que na perspectiva do Bom Samaritano, não se pode esquecer a situação gritante de tantos grupos indígenas que passam necessidade “a beira do caminho”, precisando uma ação de solidariedade imediata.

14hs – Moderador – Dom Erwin Krautler

 

 

Orofino

A convite de Dom Edson Damian, faço aqui uma comunicação sobre a proposta dialógica entre leitura popular da Bíblia e catequese indígena, a partir de um estudo sobre o material de catequese preparado pelo Pe. Justino, em São Gabriel da Cachoeira. No universo religioso indígena existe uma força, que o Pe. Justino testemunhou no material por ele preparado para auxiliar na catequese. Esse material me ajudou a entender esse universo próprio do povo tucano. Eu mesmo pude consultar e a maioria dos indígenas expressaram problemas para o entendimento da língua portuguesa. E como nas cartas e relatos do apóstolo São Paulo, que também tinha problemas na comunicação com os povos pagãos de seu tempo, o material proposto pelo Pe. Justino tem como objetivo a reconstrução da casa, das relações humanas com sua espiritualidade original, e recobrar a sua força perdida. Os povos indígenas estão vivendo um exílio desde que o homem branco invadiu seus espaços sagrados de vivência. Conscientes de que não poderão recuperar o tempo perdido, procuram na Bíblia que é também uma história de um povo desterrado e exilado, uma palavra que os possa ajudar a reconstruir as relações humanas em suas casas e no meio de seu povo. A catequese procura assim construir novas relações, mantê-las e refazê-las. Entre os valores presentes dentro do material produzido, que dialogam com a leitura da Bíblia, está o valor da partilha e das relações das pessoas dentro da casa.

 

Moderador: Dom Erwin Krautler

Encaminhamentos: o que é possível fazer até o próximo encontro? Quem? O que diz respeito à ação missionária? À Amazônia, à liturgia, à catequese?

– precisamos muito mais ouvir;

– procurar priorizar o que serão os encaminhamentos;

– distinção entre: projetos apresentadas pelos grupos a serem encaminhados  e recomendações a serem levadas aos Bispos das Dioceses que possuem povos indígenas.

 

Plenário: Definição de ações e passos em vista da Evangelização dos Povos Indígenas

 

Questões Prioritárias – Urgentes (o que nós podemos fazer?)

  1. Criar projetos pilotos em algumas regiões, ou áreas indígenas, em vista da preparação dos sacramentos e mistérios (Jesus Cristo), que visem a valorização da cultura autóctone;
  2. Preparar agentes de pastoral com formação específica, antropológica e bíblica, e próxima aos povos indígenas, com pessoas comprometidas e dedicadas;
  3. Ouvir os indígenas. Pensar formas de abertura ao diálogo (Pastoral Indígena);
  4. Elaborar ritos apropriados à cultura dos povos indígenas;
  5. Formação básica do CIMI e curso CIMI / UNILA;
  6. Instituir ministérios (da Palavra, Batismo, Casamento…) diáconos;

 

Recomendações – Conselhos (sugestões para os Bispos)

  1. Maior divulgação da Bíblia entre os povos indígenas, traduzida em sua língua;
  2. Trazer sempre os povos indígenas para os momentos de formação;
  3. CNBB precisa colocar em pauta os ministérios indígenas;
  4. Arquidioceses, Dioceses e Prelazias com  indígenas, enviar seus agentes para formação específica, antes de iniciar o trabalho junto aos povos indígenas e que a Igreja Local assuma seus indígenas num processo de sinodalidade;
  5. Contemplar a pastoral indígena nos planos pastorais da Igreja Local;
  6. Valorizar o ecumenismo, diálogo com as outras igrejas, numa proximidade com os povos indígenas, valorizando sua cultura comunitária;
  7. Integrar as comunidades indígenas na dinâmica pastoral da Igreja Local, Diocese e paróquia, respeitando sua especificidade, mas como parte integrante da comunidade eclesial, como forma de combater os preconceitos e a exclusão;
  8. Reaproximar o CIMI da pastoral indígena;
  9. Dar continuidade aos trabalhos aqui realizados com novo encontro, mais amplo, para mais partilha de experiências;
  10. Que o grupo, aqui reunido, possa participar da realização do 4º Seminário de Catequese e Povos Indígenas, com abrangência nacional, envolvendo todos os Regionais da CNBB. Nesse Seminário, poderia ser dado espaço para discutir questões específicas, tais como: catequese, liturgia, mística, organização social, ministério, etc.;
  11. Convencer (seduzir) os bispos pela causa, para que comprometam os padres nas ações evangelizadoras junto aos povos indígenas;
  12. Mais atenção aos grupos e pessoas indígenas no meio urbano;
  13. Apoiar os catequistas com materiais e presença de padre-missionário especificamente para formação de catequistas e outros agentes;
  14. Promover apoio às ações já existentes nas comunidades indígenas;
  15. Indicar assessorias para as primeiras formações nas Dioceses;
  16. Atenção aos estudantes indígenas no 3º grau, com projetos que incentivem sua formação superior;
  17. Incentivar a Pastoral Indígena a disponibilizar apoio à pessoa indígena;
  18. Motivar a participação dos indígenas nos processos de formação;
  19. Uma missão que toca a vida toda, aberta à defesa dos povos indígenas, principalmente quando existem ataques aos seus direitos;
  20. Uma formação em nível Regional, para atender as demandas que existem;
  21. Envolvimento na integralidade da vida dos povos.

 

 

– Proposta de uma comissão que retrabalhe as propostas e as recomendações, e as apresente para aprovação posterior. Indicados para apresentar uma proposta: Dom Wilmar Santin; Sr. Leonardo; Fr. Paolo; Ir. Aurora; Sr. João Batista e Sr. Gilberto do CIMI.

– Avaliação: planejar melhor a metodologia dos trabalhos de grupos em vista da apresentação em torno de três prioridades;

 

Encerramento de Dom Claudio Hummes

 

Após o Encontro, a comissão encarregada de sintetizar as propostas e recomendações apresentou a seguinte síntese provisória:

 

PROPOSTAS OPERATIVAS PARA A EVANGELIZAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL

 1 – FORMAÇÃO ESPECÍFICA DE MISSIONÁRIOS/AS PARA A PASTORAL INDIGENISTA

 

  1. Formação em nível Local, Regional e Nacional:

 

  • Local: incluir a pastoral indigenista no plano pastoral da diocese como parte integrante da ação evangelizadora; dar no âmbito da diocese a devida formação ao (à) missionário(a) sobre o povo indígena com o qual irá trabalhar: história, costumes, cultura, religiosidade tradicional, características;
  • Regional: juntar missionários(as) de dioceses próximas para formação pastoral-bíblico-catequética e antropológica.
  • Nacional: valorizar os cursos do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (CIMI/UNILA) e do Centro Cultural Missionário (CCM).
  1. b) Formação do (da) missionário(a) para a escuta, para a inserção e

inculturação a fim de garantir uma caminhada respeitosa junto povo indígena;

  1. c) Aprendizagem da língua do povo indígena;
  2. d) Formação numa perspectiva de diálogo ecumênico;
  3. d) Partilha de experiências bem-sucedidas na dimensão bíblico-catequética e litúrgica.

 

2 – FORMAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DOS INDÍGENAS PARA QUE SE TORNEM DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS DE JESUS CRISTO

 

  • Dialogar sobre os valores contidos nos mitos e na Bíblia;
  • Encorajar os indígenas para serem protagonistas da formação;
  • Colocar no centro da catequese a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo;
  • Levar em conta os ritos de iniciação próprios do povo;
  • Providenciar a tradução da Bíblia;
  • Compor cantos litúrgicos levando em conta a musicalidade indígena.

 

 

3 – INSTITUIÇÃO DE MINISTÉRIOS DE ACORDO COM AS NECESSIDADES LOCAIS E DE RITOS PRÓPRIOS PARA OS   SACRAMENTOS E BÊNÇÃOS

 

  1. Preparar e instituir indígenas para os ministérios da Palavra, Comunhão, Batismo, Matrimônio, Exéquias;
  2. Preparar indígenas para o Diaconato Permanente (atendendo a recomendação do Papa Francisco;
  3. Adaptar às culturas indígenas os ritos de Batismo, Matrimônio, Exéquias, e não apenas traduzir Ritual Romano;
  4. Trocar experiências sobre a realização dos ritos próprios e estabelecer critérios.

 

3 – DEFESA DOS DIREITOS CONSTITUCIONAIS DOS POVOS INDÍGENAS.

 

  1. Defender em aliança com os povos indígenas seus “direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens” (Const. Federal Art. 231)
  2. Exigir do Governo Federal a demarcação e desintrusão de terras indígenas.
  3. Reclamar do Governo Federal a consulta prévia dos povos originários prevista na Constituição Federal em caso de implementação de projetos que impactam áreas indígenas
  4. Denunciar a criminalização de lideranças indígenas e defensores dos direitos indígenas, perseguidos e ameaçados por causa de sua luta em favor da causa indígena.