E VOLTOU A ENXERGAR

Estamos no 4º domingo da quaresma, tempo de preparação para a celebração da Páscoa, de conversão a Deus e aos irmãos. A Campanha da Fraternidade adentra num tema que toca profundamente as pessoas com o tema: “FRATERNIDADE: BIOMAS BRASILEIROS E DEFESA DA VIDA” e com o lema: “Cultivar e guardar a Criação” (Gn 2,15). “A Igreja no Brasil ao propor o tema da Campanha da Fraternidade sobre os biomas Brasileiros ensina que o Evangelho é nossa vida, nossa existência. Cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho”. (Texto Base p. 9). A Campanha da Fraternidade tem por que tem por objetivo o debate de questões relativas aos seis biomas brasileiros (Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampas, Pantanal). Essa diversidade de floresta, água, animais, clima, ventos, peixes, chuvas, rios, pássaros… são fundamentais para o equilíbrio da natureza e a sobrevivência do ser humano.

O Evangelho de hoje (Jo 9,1-41) mostra a misericórdia de Jesus para com os sofredores. Ele se depara com um cego de nascença. Cego, pobre, excluído, separado da sociedade, do convívio social. Era dependente. Estava se arrastando pelo chão pois não podia andar. Sozinho. Abandonado.seminaristas 2017

Jesus chega perto de um cego e ordena que ele se levante. Ele se levantou e começou ver e a andar. O cego estava curado e muitas pessoas ficaram admirados e louvavam a Deus por tamanha maravilha. Mas outros, sim, outros e muitos outros começaram a criticar Jesus. Queriam que o cego ficasse aí à margem da vida e da sociedade. Irritaram-se porque Jesus curou um cego, um pobre, um desvalido.

Ainda hoje há muita gente que acha que os bens do mundo, as riquezas, as benesses da vida são privilégios de poucos. E estes poucos ficaram irritados quando índios, sem terra, sem teto, nativos e ribeirinhos, moradores de rua, pequenos agricultores, a multidão dos desempregados reclamam seus direitos e levantam a voz. Logo há as forças beneficiadas gritam, protestam e querem eliminar as maiorias pobres, doentes, sem assistência, sem perspectivas de trabalho. É comum escutar expressões: “Os índios só atrapalham, não ajudam em nada. Os pobres deviam desaparecer, os presos executados, os desvalidos excluídos para que a cidade fique limpa”.

Jesus nunca relativizou a dor e a aflição humana. Foi ao encontro das pessoas acolhendo a miséria alheia”. Jesus era atento ao clamor dos sofredores: “tem compaixão de nós”. Não permaneceu indiferente ao sofrimento do outro; curou o cego de nascença, a sogra de Pedro; ao homem da mão seca disse; “Levanta-te! Vem para o meio; à mulher doente assim falou: “Mulher, estás livre da tua doença”; percebendo a comoção que se seguiu à morte de Lázaro, “Jesus teve lágrimas”.

Indignou-se com a indiferença e dureza de coração daqueles que ignoravam o sofrimento alheio: “Passando sobre eles um olhar irado, e entristecido pela dureza de seus corações, disse ao homem: ‘Estende a mão”. Jesus age movido pela compaixão: “Encheu-se de compaixão por eles curou os que estavam doentes”. Sentiu compaixão do leproso, dos cegos, dos famintos, dos abandonados como ovelhas sem pastor.

Jesus ensina que a compaixão implica em um sofrer a dor do outro, com o outro: Tive fome, tive sede, estive preso, estava nu. Deus, em Jesus, se expõe à dor das criaturas, se deixa afetar: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único”. Deus se doa e se esvazia para estar junto da humanidade sofredora. Jesus é a experiência definitiva da com paixão de Deus pelos sofredores.

No trato das pessoas em seus sofrimentos e necessidades, Jesus é movido pela compaixão. Nele vemos que a compaixão não é mero sentimento, mas reação firme e eficaz diante da dor alheia. São atitudes e estilo de vida. O samaritano age tomado de compaixão. O pai, cheio de compaixão, acolhe o filho pródigo. Compaixão e misericórdia, expressões maiores da nossa imagem e semelhança com Deus: “Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso”.

A supressão da miséria humana, da dor, da exploração e de todo tipo de desumanidade constitui uma urgente tarefa. Que os discípulos missionários se compadeçam dos que sofrem, estão tristes, abandonados, sem perspectiva de vidas.

São Paulo aos Efésios (5,8-12) nos ensina: Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, condenai-as aberta”

Com a Igreja rezemos a oração da Campanha da Fraternidade 2017: “Deus, nosso Pai e Senhor, nós vos louvamos e bendizemos, por vossa infinita bondade.

– Criastes o universo com sabedoria e o entregastes em nossas frágeis mãos para que dele cuidemos com carinho e amor.

– Ajudai-nos a ser responsáveis e zelosos pela Casa Comum. Cresça, em nosso imenso Brasil, o desejo e o empenho de cuidar mais e mais da vida das pessoas, e da beleza e riqueza da criação, alimentando o sonho do novo céu e da nova terra que prometestes. Amém”!

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

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Dom Juventino Kestering
Bispo da diocese de Rondonópolis-Guiratinga