BEM-AVENTURADOS

dom com criançaEstamos no 4º domingo do tempo comum. O espaço celebrativo e a cor dos paramentos são verdes. Sinal de esperança, de vida, de crescimento. Apalavra de Deus indica as bem-aventuranças como caminho de todo viver do cristão. (Mt 5,1-12). Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele. Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo: “Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus! Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós”.

Conforme Carlos Mesters: “O primeiro discurso dos cinco nos quais a comunidade de Mateus organiza as palavras de Jesus é o chamado “Sermão da Montanha” (Mt 5­ 7). No mundo antigo, a montanha é considerada lugar sagrado. Conforme a Bíblia, Moisés subiu nove vezes à montanha do Sinai. Jesus também sobe à montanha, continuando o seu papel de “novo Moisés”. “O Sermão da Montanha abre­-se com oito bem-aventuranças. Elas são o portão de entrada deste e dos textos que seguem. Declaram felizes os pobres caracterizados de oito maneiras, pois neles o Reino de Deus já se faz presente como dom e graça de Deus no meio de nós e apesar de nós. Deste modo, as bem-aventuranças nos informam onde devemos olhar para descobrir os sinais da presença deste Reino no mundo em que vivemos”.

O teólogo Pagola no livro “É bom crer em Jesus” assim escreve: “Jesus «proclama a Boa Notícia de Deus” (Mc 1:14). Quando o evangelista faz esta afirmação está, sem dúvida alguma, a recolher uma experiência que as pessoas da Galileia realmente viveram junto de Jesus. Nós, que vivemos numa sociedade atravessada pelo laicismo radical, onde medra o agnosticismo, a descrença e diversas formas de ateísmo, há perguntas que não podemos evitar: como é que Jesus foi capaz de fazer a experiência de Deus e comunicá-la como Boa Notícia? Como é que aquelas pessoas conseguiram perceber, na sua mensagem e na sua atuação, Deus como algo novo e bom? Colocar estas questões não é um jogo supérfluo, já que elas desafiam-nos a procurar respostas a interrogações que, de uma maneira difusa e secreta, nos roem por dentro, a nós os seguidores de Jesus: pode o Mistério de Deus chegar a ser Boa Notícia na nossa sociedade? O que é que tem que acontecer de modo a que Deus possa ser intuído como Boa Notícia pelos homens e mulheres do nosso tempo? À custa de quê é que o Deus que Jesus viveu, anunciou e praticou pôde ter sido entendido como Boa Notícia pelo ser humano? Identificado com os últimos, Jesus começa a transmitir uma mensagem nova e diferente acerca de Deus utilizando uma linguagem surpreendente e provocadora. A compaixão de Deus exige que se faça justiça aos mais indigentes e humilhados. O reino do Pai está destinado, antes de mais ninguém, a eles. O reino de Deus não pertence a todos indiferentemente por igual: quer aos latifundiários que se banqueteiam em Tiberíades quer aos mendigos que morrem de fome pelos caminhos da Galileia. Jesus cruza-se com famílias que de repente ficam sem terras forçadas pela acumulação de dívidas, e grita-lhes: “Bem-aventurados vós que não tendes nada, porque o reino de Deus é vosso”. Vê bem de perto, com os seus próprios olhos, aqueles meninos desnutridos a quem tanto ama, e diz-lhes: “Bem-aventurados vós que agora passais fome, porque Deus vos quer à mesa, a comer”. Vê a chorar de raiva e de impotência os camponeses quando os cobradores de impostos lhes retiram o melhor das suas colheitas, e assegura-lhes: «Bem-aventurados os que agora chorais, porque Deus vos quer a sorrir de satisfação”. As bem-aventuranças de Jesus encerram uma mensagem que nunca pode faltar quando comunica a Boa Notícia de Deus. O conteúdo delas quer dizer o seguinte: «Aqueles que não interessam a ninguém, interessam a Deus; aqueles que estão a mais nos impérios construídos pelos homens, têm um lugar privilegiado no seu coração; aqueles que não têm ninguém que os defenda, têm a Deus como Pai”. Jesus é realista.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering
Bispo diocesano