NINGUÉM A DEFENDIA

dom em são jose Estamos no 29º domingo do tempo comum, Verde é a cor dos paramentos Outubro é o Mês das Missões, um período de intensificar as iniciativas de animação e cooperação missionária em todo o mundo. O objetivo é sensibilizar, despertar vocações missionárias e realizar a missão entre os cristãos como urgências da Igreja. “Cuidar da Casa Comum é nossa missão”. Este é o tema escolhido para a Campanha Missionária em 2016.

O Evangelho (Lc 18,1-8) ensina que Deus não está ausente nem fica insensível diante do sofrimento do seu povo… Os cristãos descobrem que Deus os ama e que tem um projeto de salvação para toda a humanidade. Essa descoberta se realiza através do testemunho, da solidariedade, da missão evangelizadora, da oração, de um diálogo contínuo e perseverante com Deus. A Igreja reza: “Abri Senhor, os meus lábios para bendizer o vosso santo nome. Purificai o meu coração de todos os pensamentos vãos, desordenados e estranhos. Iluminai o meu entendimento e inflamai minha vontade para que eu possa rezar, compreender e refletir  a Palavra de Deus neste domingo”.

O Evangelho relata uma parábola com dois personagens centrais: um juiz e uma viúva, pobre e injustiçada. “As viúvas, junto com os órfãos e os estrangeiros, eram as categorias mais frágeis da sociedade. Os direitos assegurados a eles pela Lei podiam ser pisados com facilidade porque, sendo pessoas sozinhas e sem defesa, dificilmente recebiam apoio: uma viúva, ali, sozinha, ninguém a defendia, podiam ignorá-la, não eram justos com ela. Assim também o órfão, assim o estrangeiro, o migrante: naquele tempo era muito forte esta problemática”, nos ensina o Papa Francisco. A viúva era o modelo de pobre sem defesa, vítima da prepotência dos poderosos.  Ela passava a vida a queixar-se do desleixo, abandono e prepotência de um juiz que nem “não temia Deus nem os homens”. Mas depois de muita insistência da viúva, o juiz, apesar da sua dureza e insensibilidade acabou por fazer justiça, a fim de se livrar da viúva que o importunava. Não foi um gesto de amor e por amor, mas uma desobrigada, uma forma de descartar aquém lhe incomodava. Se um juiz insensível acaba por fazer justiça a quem lhe pede com insistência com muito mais, Deus, que é rico em misericórdia, que defende os fracos e está atento às súplicas dos seus filhos e filhas. Deus não abandona e nem é insensível aos seus apelos. Ele tem o seu projeto, o seu plano próprio para socorrer a humanidade.

Apesar da manifestação da misericórdia e bondade de Deus permanecem realidades e situações por vezes sem resposta. Porque tantos milhões de homens e mulheres em especial crianças e idosos sobrevivam em condições tão degradantes? Porque os maus e injustos praticam barbáries sem conta sobre os mais frágeis e nenhum mal lhes acontece?  Como aceitar mais 2.800 milhões de pessoas, quase a metade da humanidade vive com menos de dez reais por dia? Como explicar certas doenças incuráveis que ameaçam e dizimam os pobres no mundo inteiro? Porque a guerra na Síria? No Oriente Médio? Na África? Porque os povos indígenas estão cada vez mais esquecidos e abandonados e suas terras invadidas?  Porque as ditaduras ou os imperialismos maltratam povos inteiros?

“Deus não é indiferente aos gritos de sofrimento da humanidade e não desistiu de intervir no mundo, a fim de construir o novo céu e a nova terra de justiça, de paz e de felicidade para todos. A relação com Deus não pode ser um diálogo que interrompemos quando deixamos de perceber as coisas ou quando Deus parece ausente; mas é um diálogo que devemos manter, com perseverança e insistência. Quem ama de verdade, não corta a relação à primeira incompreensão ou à primeira ausência. Pelo contrário, a espera e a ausência provam o amor e intensificam a relação”.

O evangelho, além da justiça, do respeito e acolhida ao pobre e à viúva ensina a perseverança na oração. Colocar-nos diante de Deus e a Ele elevar as preces. Não para ter uma resposta própria ou uma vantagem, mas para criar confiança e perseverança na certeza de que Deus escuta a nossas preces e o clamor de Deus povo. Deus é defensor de seu povo.

A diocese de Rondonópolis-Guiratinga ainda vive a comoção da morte brutal do Pe. João Paulo. E a pergunta que surge é esta: O que eu me disponho a contribuir para vencer a violência e implantar a paz? Onde a sociedade perdeu o RUMO que está gerando tanta violência? Que valores precisam ser resgatados? Por causa da nossa fé, se queremos ser discípulos de Jesus Cristo, temos responsabilidade de levar a paz ao mundo, a fraternidade, a justiça, a revisão dos modelos de sociedade, o perdão e a misericórdia.

Ó Pai de misericórdia, que criaste o mundo e o confiaste aos seres humanos. Guia-nos com teu Espírito para que, como Igreja missionária de Jesus, cuidemos da Casa Comum com responsabilidade. Maria, Mãe Protetora, inspira-nos nessa missão. Amém.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering
Bispo da diocese de Rondonópolis-Guiratinga