O TEMPO QUE DEUS NOS CONCEDE

Estamos no 26º domingo do tempo comum. A cor litúrgica do espaço celebrativo e dos paramentos é verde. Dia da Bíblia, livro da Palavra de Deus. O evangelho, neste domingo, (Lc 16, 19-31) adentra num dos mistérios da vida humana. E depois da morte? Para refletir sobre esta realidade Jesus conta uma parábola. O rico avarento e o pobre Lázaro. O rico levava uma vida egoísta, fechada em si, em suas festas, honras e riquezas ao lado do pobre Lázaro, doente, faminto, morador de rua, pedinte, corpo com feridas. Mas o pobre tinha um cachorro amigo que cuidava dele, especialmente limpando as feridas com a língua. Os dois morreram. E daí vem o núcleo do Evangelho. Um foi para o céu e o outro para o inferno. O mesmo abismo que separava na terra, agora separa os dois entre o céu e o inferno. Nesta realidade, padecente de inferno inicia um grito de súplica. Quando estava vivo na terra não queria dialogar, nem conversar com os mais simples e pobres. Era auto-suficiente. A dor, o sofrimento e a solidariedade nos tronam humanos. Mas o egoísmo fecha o coração. Santa Tereza de Calcutá ensina a importância de limpar as feridas dos desvalidos e caídos nas sarjetas da sociedade. Dizia: “é confortável estar ao lado de um pobre moribundo, dar-lhe um banho, segurar na mão, falar palavras de carinho para ao menos morrer com dignidade”.

Catequistas Paróquia Bom Jesus
Catequistas Paróquia Bom Jesus

A parábola confirma que o tempo de vida é oportunidade para preparar os bens do céu. A conjuntura do rico e do Lázaro oferece uma mostra do julgamento de Deus. “Não podemos confundir achando que a riqueza é uma coisa má, no entanto, há uma condição imprescindível para que ela seja um instrumento para a nossa salvação: a de partilhar os bens e nossos “terrenos da terra” com os outros moradores”. O mal é quando se quer tudo só para si e se despreza àqueles que vivem à porta implorando por migalhas, emprego, moradia, porque não possuem o suficiente para viverem com dignidade.

Pe. Zezinho canta: “Agora está a suplicar. Leva este moleque pra longe, interna este menino sem ninguém, Na rua ele atrapalha as pessoas, Diz que não, que não dá; Diz que dar não faz bem; Dar esmola atrapalha. Melhor é interná-lo na FEBEM”. O Papa Francisco adverte: “Algumas vezes reclamamos com quem nos pede esmola ou, então até mudamos de calçada para não ser abordado pelo irmão que está mendigando. Isso não é do agrado de Deus. Ignorar as imensas multidões de mendigos, sem teto, sem cuidados médicos e, sobretudo, sem esperança de um futuro melhor, significaria parecer-nos ao rico que fingia não conhecer o mendigo Lázaro, prostrado à sua porta”.

A riqueza honesta não é má nem condenável, assim como a pobreza não é garantia de salvação. Mas ambas despertam atitudes éticas que podem facilitar ou dificultar a procura de Deus. Alguém pode ser rico e ter um coração simples, cultivando o desapego, a humildade, a caridade, como alguém pode ser pobre, mas ter um coração apegado, sem caridade e nem humildade. Quem usa os bens para ter uma vida luxuosa e esquecendo-se das necessidades dos outros, está a defraudar os seus irmãos que vivem na miséria. Nesta parábola Jesus ensina que não somos donos dos bens que Deus colocou em nossas mãos. Ainda que alguém tenha adquirido de forma legitima é apenas administrador, encarregado de partilhar com os irmãos aquilo que pertence a todos.

Timóteo (1Tm 6,11-12)  ajuda a refletir sobre a riqueza e a pobreza de nosso coração: Você, porém, homem de Deus, fuja dessas coisas. Procure a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão. Combata o bom combate da fé, conquiste a vida eterna, para a qual você foi chamado. Isso, você o reconheceu numa bela profissão de fé diante de muitas testemunhas. Diante de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Jesus Cristo, que deu testemunho diante de Pôncio Pilatos numa bela profissão de fé, eu ordeno a você: Guarde o mandamento puro, de modo irrepreensível, até a Aparição de nosso Senhor Jesus Cristo”.

A Palavra de Deus deste domingo é interpelação para os sistemas econômicos, os grandes aglomerados que acumulam a riqueza concentrada nas mãos de poucos. Os bens especialmente os alimentos, não são tratados como bens para saciar a fome dos famintos e dar-lhes condições de resgatar a dignidade, mas sim, com a finalidade da especulação, do lucro, da acumulação.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

Dom Juventino Kestering
Bispo diocesano