A VOZ DE DEUS NO GRITO DA HUMANIDADE

dom e jovens

Estamos no segundo domingo da quaresma, tempo de preparação para a celebração da Páscoa de Jesus. A cor dos paramentos e do espaço celebrativo é roxo, sinal de alerta e de conversão.

A Campanha da fraternidade com tema: “Casa comum, nossa responsabilidade” e o lema: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5.24) sinaliza para o  enfoque central que é o saneamento básico como desafio para a sociedade, para a saúde e o desenvolvimento da qualidade de vida. A Campanha da Fraternidade torna-se um grito de evangelização libertadora, provocando, a renovação da vida da Igreja e a transformação da sociedade, a partir de problemas específicos, tratados à luz do Projeto de Deus.

A Campanha da Fraternidade educa para a vida em fraternidade e renova a consciência de todos pela ação da Igreja na Evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária.

A Casa Comum que é o planeta terra exige mudança no estilo de vida e nos valores que orientam nossa ação. O modelo de sociedade está baseado no consumo, na exploração do planeta e para suprir essas necessidades, sacrifica-se a Casa Comum, que é o espaço em que habitamos.

A palavra de Deus (Lc 9,28-36) nos convida “subir à montanha, fazer a experiência da transfiguração, escutar o Filho Amado de Deus para depois descer junto ao povo, ao sofrimento, à dor e gemidos da humanidade”. Aí ser presença anunciadora da vida em Jesus Cristo. Há tendência de subir e fazer três tendas e dizer: “Como é bom ficarmos aqui”, longe dos pobres, da violência, dos desafios da vida, da realidade concreta de cada dia. Mas é para este mundo que Deus nos criou e em Jesus nos chamou para a missão. A voz de Deus na montanha ressoa até hoje; “Escutai-o”. Escutar e seguir Jesus Cristo. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Escutar os clamores dos irmãos que necessitam de uma palavra, de sorriso, de acolhida, de misericórdia. O Papa Francisco nos ensina: “Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão. É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança”. (MV 10)

No Tabor o rosto de Jesus tornou-se luminoso, brilhante, sinal da vida nova, do novo céu e da nova terra. E quem escuta o Filho amado de Deus tem seu rosto transfigurado pela esperança, vida, ética, amor, liberdade. O biblista Sérgio Bradanini escreve: “O rosto luminoso de Jesus revela a sua verdadeira identidade aos discípulos para que, depois da ressurreição, possam entender que o rosto resplandecente do Ressuscitado é o mesmo do Jesus Crucificado. Com efeito, somente à luz da Páscoa eles entendem quem é realmente Jesus e o sentido de sua morte. Assim como o sol é a fonte da luz e “faz ver” as coisas como elas são, a luz da transfiguração de Jesus “faz ver” a sua identidade messiânica: revela a divindade em sua humanidade. Aqui os discípulos ouvem a voz de Deus chamando Jesus de “Filho”, e, durante a paixão, ouvem Jesus chamando a Deus de “Pai”. Neste monte, a humanidade de Jesus deixa transparecer a sua divindade e, no Getsêmani, a divindade assume plenamente a sua humanidade”.

“Este é o meu Filho bem-amado, em quem coloco todo o meu amor; escutai-o”. “É o meu Filho, por Ele tudo foi feito e sem Ele nada foi feito” (Jo 1,3). O Filho de Deus não se apropriou dessa igualdade que tinha com o Pai, não reivindicou o seu direito, mas, sem deixar a glória divina, humilhou-se até à condição de servo e obediente até a morte e morte de cruz. Mas Deus o ressuscitou (Fl 2,6). Nele encontramos a vida, a salvação. A Ele podemos escutar, abraçar e nos aproximar. “Deus não somente ama, mas também quer ser amado”.

No alto do monte Tabor, Pedro falou: “Senhor, que bom seria ficarmos aqui, quer que façamos três tendas”. Por vezes este também é o nosso desejo.  Cansados de viver no meio da multidão, nos afazeres do dia a dia, da realidade que nos cerca e dos compromissos inerentes, temos desejo de ficar no alto da montanha, ir à beira do rio ou ir ao sítio e ali fazer tenda e isolar-se. Não ter preocupação com o outro, com a comunidade, com a missão da Igreja, com os doentes, como a solidariedade com os irmãos. Necessitamos de silencio, de descanso, mas também de compromissos com os irmãos e com a Casa Comum que é este nosso universo.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering
Bispo diocesano