Palavra do Bispo: “O QUE DISCUTIS PELO CAMINHO?”

DSC09372

Estamos no 24º domingo do tempo comum. A cor litúrgica é verde. Sinal da esperança depositada em Jesus Cristo. Setembro é o mês da Bíblia, o livro da Palavra de Deus, fonte de vida e salvação.

A Palavra de Deus (Mc 9,27-35) nos questiona sobre atitudes, interrogações e dúvidas que podem surgir na vida do cristão. Jesus estava atravessando as terras de Cesaréia de Felipe. Vinha instruindo os discípulos sobre realidades complexas e dizia: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão, mas três dias após sua morte ele ressuscitará”. É um tema desafiador: a morte e ressurreição de Jesus e consequentemente a nossa morte e a nossa vida eterna.

Porém os discípulos não estavam atentos a estes ensinamentos. Jesus percebeu que eles estavam com o coração, a mente e a atenção muito distante e perguntou: “O que discutis pelo caminho”? Os discípulos ficaram calados, pois eles estavam discutindo quem seria o maior entre eles. Jesus durante anos ensinara sobre o serviço, o amor, o perdão, o Reino de Deus, mas os discípulos estavam preocupados com sua projeção pessoal. Quem seria o maior, quem é o primeiro. O mais importante. Vamos olhar para a nossa realidade, para as famílias, para a sociedade e para nós mesmos. Diante dos desafios que a Igreja vive, diante da necessidade dos cristãos serem evangelizadores, de tantos que necessitam de pão, de instrução, de um lugar na vida, das realidades vividas na família; diante da violência que assola nossa sociedade, o drama dos refugiados e migrantes, diante da realidade dos povos indígenas, diante do sofrimento, da doença, da dor… por vezes o cristão passa ao lado  deste desafios e fica preocupado com sua projeção social, cria intrigas porque quer ser o maior, o chefe, aquele que manda. Fica conversando novelas, futilidade no whatsApp e os problemas concretos continuam.

Jesus toma a palavra e diz: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos”. Nessas poucas palavras Jesus define o núcleo central da missão e do seguimento: a atitude do serviço, da gratuidade, do amor aos irmãos sem interesses pessoais ou vantagem na sociedade.

O Apóstolo Tiago (3,16) alerta dizendo: “Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e todas as espécies de obras más”. A competição entre pessoas, entre lideranças, entre as comunidades geram a rivalidades e as invejas. Não é este o caminho que o cristão é chamado a seguir. O próprio apóstolo Tiago aconselha: “A sabedoria que vem do alto, antes de tudo pura, depois pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidades e sem fingimento. O fruto da justiça semeado na paz, para aqueles que promovem a paz”.

Fazer a experiência da fé, viver como cristão católico na comunidade, na família e na sociedade requer moldar a vida segundo os ensinamentos de Jesus. Quem segue Jesus Cristo carrega no coração e nas posturas de sua vida um novo jeito de viver, de ser e de agir. O coração do cristão é moldado por valores do evangelho: O serviço, a paz, a modéstia, a honestidade, a caridade, a reconciliação. Quem vive estes valores sente a beleza de ser cristão e a alegria de servir aos irmãos. A atitude do serviço gratuito à comunidade é o maior testemunho de vida e gera verdadeira conversão, pois o testemunho de vida irradia nos corações humanos. Em todas as comunidades, as pastorais e movimentos eclesiais encontramos muitas pessoas que prestam um serviço à comunidade e à evangelização numa atitude de silencio, de gratuidade e de serviço aos irmãos.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

Dom Juventino Kestering
Bispo de Rondonópolis-Guiratinga