Palavra do Bispo: “RECOLHERAM OS PEDAÇOS”

 

Estamos no 17º Domingo do tempo comum. Verde é a cor litúrgica. Desde jovem marca minha vida a canção de Pe. Zezinho: “Por um pedaço de pão e por um pouco de vinho; Eu já vi mais de um irmão se desviar do caminho; Por um pedaço de pão e por um pouco de vinho; Eu também vi muita gente encontrar novamente o caminho do céu; Eu também vi muita gente voltar novamente ao convívio de Deus. Por um pedaço de pão e um pouquinho de vinho Deus se tornou refeição e se fez o caminho. Por um pedaço de pão, por um pedaço de pão”. Essa canção nos remete para tempos difíceis. A luta pelo pão. Pão feito pelas mãos da mãe. Pão ainda quente repartido para os filhos. Era um ritual simbólico, significativo, misterioso, comunicador de realidades profundas e amorosas.

E Jesus fez da realidade do pão um dos núcleos de sua mensagem. Gestos significativos, reveladores. Partir o pão. Rito realizado na ceia, rito identificador com os discípulos de Emaús, rito da manifestação de Jesus à beira mar, rito que marca a vida das comunidades cristãs. Em Jo 6,1-15 encontramos esse relato: Jesus foi para o outro lado do mar da Galiléia, também chamado de Tiberíades. “Uma grande multidão o seguia, porque via os sinais que ele operava a favor dos doentes. Jesus subiu ao monte e sentou-se aí, com os seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão estava vindo ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: ‘Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?’ Disse isso para pô-lo à prova, pois ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer. Filipe respondeu: ‘Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um’. Um dos discípulos, André, o irmão de Simão Pedro, disse: Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?’ Jesus disse: ‘Fazei sentar as pessoas’. Havia muita relva naquele lugar, e lá se sentaram, aproximadamente, cinco mil homens. Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes. Quando todos ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: ‘Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca!’ Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães, deixadas pelos que haviam comido. Vendo o sinal que Jesus tinha realizado, aqueles homens exclamavam: ‘Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo’. Mas, quando notou que estavam querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte”.

Jesus lhes pede que façam as pessoas acomodar-se, sentar-se. Estar bem à vontade. Estar junto, conversar, aguardar.         “As pessoas livres, fraternas sentam-se juntos às outras para partilhar a refeição”. Repartir é somar, é incluir mais gente. E o pouco de pão e peixes sacia a multidão. Saciar a multidão em todas as necessidades, tanto materiais, humanas, espirituais, familiares. Depois de saciados, um relato simples chama atenção: A sobra dos pães. Jesus tem uma insistência: “recolhei os pedaços que sobraram para que ‘nada se perca”. Esse nada tem um sentido amplo. Em primeiro lugar está a pessoa humana. Deus não quer que ninguém se perca. Enviou seu Filho Jesus para que nele todos encontrem a salvação e a redenção. Mas também estão incluídos os bens produzidos pela terra, as águas, os rios, o planeta. Nada se perca. Tudo está a serviço da pessoa humana.

Papa Francisco assim nos alerta: “Ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocuparmos com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciarmos sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos” (EG 183).

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese abençoe e proteja nossa família. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados. Vamos irradiar alegria e fé e fazer coisas boas.

 

Dom Juventino Kestering
Diocese de Rondonópolis-Guiratinga.