Palavra do Bispo: “PARA ONDE ELE ENVIAR”

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Estamos no 16ª domingo do tempo comum. Tempo de escuta dos ensinamentos do mestre Jesus. Espaço litúrgico e cor dos paramentos continuam verdes. Sinal de esperança e de vida. Um pensamento de Dalai Lama ajuda a entender a profundidade dessa palavra: “Compaixão é o senso de preocupação, é a noção clara de que todos os seres têm exatamente o mesmo direito à felicidade. Essa compreensão é que nos traz a compaixão. Ela se baseia na compreensão da igualdade de todos os seres, é desprovida de apego, e é verdadeira”.

O Evangelho (Mc 6,30-34) ensina: “Os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer. Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé, e chegaram lá antes deles. Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas”.

Jesus viu a multidão. Estava atendo. Percebe os clamores, as buscas. Viu e teve compaixão, pois percebeu que “estava como ovelhas sem pastor”. Isto é, abandonadas, esquecidas, sem ajuda. Com-paixão. Paixão é um impulso forte que faz o coração vibrar. Jesus teve “compaixão”, sofria junto, e tinha uma empatia com os sofredores, que se transforma numa solidariedade afetiva e efetiva. Este traço da personalidade de Jesus desafia as Igrejas e os seus ministros hoje, para que não sejam burocratas do sagrado, mas irradiadores da compaixão. É a atitude de compadecer-se diante do sofrimento e ao mesmo tempo agir para que o sofrimento seja superado. Há certa tendência de resolver casos. “E uma pessoa que necessita de cirurgia, ou uma passagem, ou um remédio, ou uma casa…” A sociedade se move. É muito lindo. Mas não vai à causa da realidade. A compaixão passa pela mudança estrutural da sociedade que gera o sofrimento, passa pela justiça social, pela preservação do planeta, pela dignidade e primazia da pessoa humana, pela ética, pela distribuição dos bens, pela construção de uma sociedade renovada. Justiça com direitos e deveres iguais.

O evangelho nos aproxima da realidade. Quando abrimos os olhos e queremos ver, percebe-se nas cidades, campo, periferias, vilas e sertão, milhares de pessoas abandonadas. Basta ir num pronto socorro, num ambulatório, nas praças, nas periferias abandonadas. Impostos altos e os serviços públicos de baixa qualidade. E o povo sofre. E os pobres sofrem. Multidões caminham sem rumo, desorientados, sem um norte na vida porque se decepcionaram da vida ou porque a estrutura social, a injustiça e a corrução lhe ceifou possiblidades. Penso na multidão dos dependentes químicos, dos jovens sem opção de lazer sadio, sem oportunidades de profissionalização, penso nas famílias desfeitas, nas crianças sem lar, no desemprego que assusta…

Papa Francisco nos ajuda a entender: “Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos, a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não comprámos, enquanto todas estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo que não nos incomoda de forma alguma” (EG. 54).

Jesus se compadece das multidões e assume o povo sofrido e oprimido, por opressão ao outro, por exploração da mão de obra, por abandono. Jesus quer conduzir toda esta gente para a construção de nova sociedade onde a justiça, a caridade, o respeito à dignidade, a partilha sejam bases da convivência. Servir ao próximo deve ser prioridade. Apesar do cansaço, das dores precisamos ver e entender que existem muitas pessoas necessitadas. É sábia a frase de dom Helder: “As pessoas te pesam? Não as carregue nos ombros. Leva-as no coração”.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese abençoe e proteja nossa família. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados. Vamos irradiar alegria e fé e fazer coisas boas.

 

 Dom Juventino Kestering

Diocese de Rondonópolis-Guiratinga