CARTA ENCÍCLICA “LAUDATO SI’

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DO SANTO PADRE FRANCISCO SOBRE O CUIDADO DA CASA COMUM

 

Na manhã do dia 18 de junho o Papa Francisco lança ao mundo uma Encíclica com o titulo “Louvado sejas meu Senhor”, sobre o cuidado com a natureza e em especial o cuidado com a pessoa humana,

  1. «LAUDATO SI’, mi’ Signore – Louvado sejas, meu Senhor», cantava São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços: «Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”.
  1. Dado que o mercado tende a criar um mecanismo consumista compulsivo para vender os seus produtos, as pessoas acabam por ser arrastadas pelo turbilhão das compras e gastos supérfluos. O consumismo obsessivo é o reflexo subjectivo do paradigma tecno-económico. Está a acontecer aquilo que já assinalava Romano Guardini: o ser humano «aceita os objectos comuns e as formas habituais da vida como lhe são impostos pelos planos nacionais e pelos produtos fabricados em série e, em geral, age assim com a impressão de que tudo isto seja razoável e justo».[144] O referido paradigma faz crer a todos que são livres pois conservam uma suposta liberdade de consumir, quando na realidade apenas possui a liberdade a minoria que detém o poder económico e financeiro. Nesta confusão, a humanidade pós-moderna não encontrou uma nova compreensão de si mesma que a possa orientar, e esta falta de identidade é vivida com angústia. Temos demasiados meios para escassos e raquíticos fins.
  1. A situação actual do mundo «gera um sentido de precariedade e insegurança, que, por sua vez, favorece formas de egoísmo colectivo».[145] Quando as pessoas se tornam auto-referenciais e se isolam na própria consciência, aumentam a sua voracidade: quanto mais vazio está o coração da pessoa, tanto mais necessita de objectos para comprar, possuir e consumir. Em tal contexto, parece não ser possível, para uma pessoa, aceitar que a realidade lhe assinale limites; neste horizonte, não existe sequer um verdadeiro bem comum. Se este é o tipo de sujeito que tende a predominar numa sociedade, as normas serão respeitadas apenas na medida em que não contradigam as necessidades próprias. Por isso, não pensemos só na possibilidade de terríveis fenómenos climáticos ou de grandes desastres naturais, mas também nas catástrofes resultantes de crises sociais, porque a obsessão por um estilo de vida consumista, sobretudo quando poucos têm possibilidades de o manter, só poderá provocar violência e destruição recíproca.
  1. Mas nem tudo está perdido, porque os seres humanos, capazes de tocar o fundo da degradação, podem também superar-se, voltar a escolher o bem e regenerar-se, para além de qualquer condicionalismo psicológico e social que lhes seja imposto. São capazes de se olhar a si mesmos com honestidade, externar o próprio pesar e encetar caminhos novos rumo à verdadeira liberdade. Não há sistemas que anulem, por completo, a abertura ao bem, à verdade e à beleza, nem a capacidade de reagir que Deus continua a animar no mais fundo dos nossos corações. A cada pessoa deste mundo, peço para não esquecer esta sua dignidade que ninguém tem o direito de lhe tirar.
  1. Uma mudança nos estilos de vida poderia chegar a exercer uma pressão salutar sobre quantos detêm o poder político, económico e social. Verifica-se isto quando os movimentos de consumidores conseguem que se deixe de adquirir determinados produtos e assim se tornam eficazes na mudança do comportamento das empresas, forçando-as a reconsiderar o impacto ambiental e os modelos de produção. É um facto que, quando os hábitos da sociedade afectam os ganhos das empresas, estas vêem-se pressionadas a mudar a produção. Isto lembra-nos a responsabilidade social dos consumidores. «Comprar é sempre um acto moral, para além de económico».[146] Por isso, hoje, «o tema da degradação ambiental põe em questão os comportamentos de cada um de nós».[147]

 

ORAÇÃO PELA NOSSA TERRA

Deus Omnipotente,

que estais presente em todo o universo

e na mais pequenina das vossas criaturas,

Vós que envolveis com a vossa ternura

tudo o que existe,

derramai em nós a força do vosso amor

para cuidarmos da vida e da beleza.

Inundai-nos de paz, para que vivamos como irmãos e irmãs

sem prejudicar ninguém.

Ó Deus dos pobres, ajudai-nos a resgatar

os abandonados e esquecidos desta terra que valem tanto aos vossos olhos.

Curai a nossa vida, para que protejamos o mundo

e não o depredemos, para que semeemos beleza e não poluição nem destruição.

Tocai os corações daqueles que buscam apenas benefícios

à custa dos pobres e da terra.

Ensinai-nos a descobrir o valor de cada coisa, a contemplar com encanto,

a reconhecer que estamos profundamente unidos com todas as criaturas

no nosso caminho para a vossa luz infinita.

Obrigado porque estais conosco todos os dias.

Sustentai-nos, por favor, na nossa luta pela justiça, o amor e a paz.

Nós Vos louvamos, Pai, com todas as vossas criaturas,

que saíram da vossa mão poderosa.

São vossas e estão repletas da vossa presença e da vossa ternura.

Louvado sejais! Filho de Deus, Jesus,

por Vós foram criadas todas as coisas.

Fostes formado no seio materno de Maria, fizestes-Vos parte desta terra,

e contemplastes este mundo com olhos humanos.

Hoje estais vivo em cada criatura com a vossa glória de ressuscitado.

Louvado sejais! Espírito Santo, que, com a vossa luz,

guiais este mundo para o amor do Pai e acompanhais o gemido da criação,

Vós viveis também nos nossos corações a fim de nos impelir para o bem.

Louvado sejais! Senhor Deus, Uno e Trino,

comunidade estupenda de amor infinito, ensinai-nos a contemplar-Vos

na beleza do universo, onde tudo nos fala de Vós.

Despertai o nosso louvor e a nossa gratidão por cada ser que criastes.

Dai-nos a graça de nos sentirmos

intimamente unido a tudo o que existe.

Deus de amor,

mostrai-nos o nosso lugar neste mundo como instrumentos do vosso carinho

por todos os seres desta terra, porque nem um deles sequer

é esquecido por Vós.

Iluminai os donos do poder e do dinheiro para que não caiam no pecado da indiferença,

amem o bem comum, promovam os fracos, e cuidem deste mundo que habitamos.

Os pobres e a terra estão bradando:

Senhor, tomai-nos sob o vosso poder e a vossa luz,

para proteger cada vida, para preparar um futuro melhor,

para que venha o vosso Reino de justiça, paz, amor e beleza.

Louvado sejais! Amen.

Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 24 de Maio – Solenidade de Pentecostes – de 2015, terceiro ano do meu Pontificado.

Franciscus