1º Encontro Interdiocesano das CEBs

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 1º ENCONTRO INTERDIOCESANO DAS CEBs
RONDONÓPOLIS-GUIRATINGA / PRIMAVERA PARANATINGA
16 e 17/05/2015 – PRIMAVERA DO LESTES/MT

“Evangelizadores com espírito quer dizer evangelizadores que rezam e trabalham”
(A Alegria do Evangelho no 262)

Com a alegria de Irmãos e Irmãs que se reencontram na caminhada da construção do Reino de Deus, anunciado e testemunhado por Jesus Cristo, nas terras frutíferas da Diocese de Primavera do Leste – Paranatinga, inicia-se o 1º Encontro Interdiocesano das CEBs com os representantes desta diocese e da Diocese de Rondonópolis – Guiratinga.

O Reginaldo da diocese anfitriã acolheu a todos e todas e discorreu sobre a programação do encontro. Em seguida Dom Derick, bispo da Igreja Particular de Primavera-Paranatinga, acolheu os participantes e externou sua alegria em receber este encontro. Falou da primeira vez que ouviu falar sobre as CEBs, ainda no seminário na Irlanda, seu País de origem, e das experiências vividas nas CEBs, sobretudo no incentivo ao povo em assumir junto com seus pastores a missão da Igreja. Falou também da missão assumida pelo Papa Francisco, nosso primeiro Papa vindo da América Latina. Versou também sobre o contexto das CEBs no período da ditadura militar e sobre o documento atual da Igreja do Brasil que incentiva e valoriza esse jeito de ser igreja, experimentado nas comunidades, valorizando e incentivando o povo em testemunhar a fé, a esperança e o amor encontrado em nossa caminhada eclesial. Na sequencia, o Padre Marcos, da diocese que acolhe este encontro, deu as boas vindas aos participantes e proferiu um testemunho vivenciado pelo adolescente Deivid, da diocese, sobre o desejo dele em se encontrar com Deus. Essa experiência concreta se deu com a partilha dos salgadinhos e refrigerante na praça em frente à catedral, com um senhor desconhecido, que ali perambulava, e uma afetuosa troca de abraços. Disse o Padre Marcos que esse espírito acolhedor e de partilha deve permear os nossos trabalhos nas nossas CEBs. Em seguida o Padre Divino acolheu os participantes e falou da riqueza que é a busca de viver em comunidade, buscando a experiência vivida nas primeiras comunidades cristãs relatada nos Atos dos Apóstolos.

Depois o Reginaldo teceu orientações sobre a estrutura física da Paróquia São Cristóvão, que nos acolhe e conduziu a Oração Inicial, constante na página no 578, do Ofício Divino das Comunidades. Neste momento fora proclamada a leitura bíblica do livro dos Atos dos Apóstolos, que retrata as primeiras comunidades cristãs, a qual na sequencia fora objeto de partilha das reflexões dela obtida. A alegria do encontro resplandeceu nos cantos da equipe de animação que motivou todos/as a entrarem no “Trem das CEBs” com o “Nosso Jeito de Ser Igreja”.

Dando início a temática o Pe. Divino discorreu sua assessoria com o foco nas Paróquias Missionárias, versando sobre como as CEBs podem contribuir nessa “Igreja em saída”. Devemos buscar sempre ser uma Igreja discípula e missionária. A missão é o coração da Igreja (Rm 62). A razão da missão vem da vontade de Deus (1Tm 2,4-6). Jesus, o Missionário do Pai, foi enviado para salvar o mundo e não para condená-lo. Com sua encarnação, fez-se por nós necessitado para que nos tornássemos ricos da sua pobreza (Fl 2, 6-11). Jesus nos deixou o Espírito Santo, que é o protagonista da Missão (Rm 21), que anima os missionários decididos e valentes. Jesus Cristo chamou a Si alguns (12) e os enviou em missão. A Igreja por sua natureza é peregrina, missionária. O fundamento e a dinâmica da missão. (DAp 348). (EG 24). (DGAE 2011-2015, 30 p. 42). O missionário renuncia a si mesmo e se coloca a serviço dos irmãos nas comunidades e na sociedade em geral. A renovação missionária das paróquias se impõe (DAp 172-173).

Após o intervalo a Itelvina do Movimento dos Sem Terra, que também compareceram no encontro, versou sobre a comunhão de tantas lutas em comum travadas pelas nossas comunidades e pelo MST. Falou também que o MST está completando vinte anos e que a mais nova conquista nessa região foi a assentamento Egídio Bruneto na cidade de Juscimeira.

Em seguida o Pe. Divino retornou e entrou na seara da Paróquia Missionária, suscitando o que versa no DAp 170 e 172, que nos remete a reestruturação da paróquia em rede de comunidades, onde o eixo é a missão. A vida e a missão da paróquia consistem no exercício do tríplice múnus, recebido no batismo: Serviço da Palavra, Liturgia e Caridade. Exemplificou o modelo de uma igreja centralizadora e discorreu sobre os desafios que ainda permanecem nas paróquias tais como, a centralização pastoral e administrativa na pessoa do padre, a falta de valorização do trabalho do leigo/a, a superação do comodismo, dificuldade dos leigos/as em se dispor a assumir compromissos, o atendimento às pessoas mais necessitadas, a miséria e violência urbana, dependência química, acolhimento, etc. O Pe. Divino também falou das experiências que estão fazendo aqui na Paróquia São Cristóvão com vistas ao alcance de uma igreja que caminha na direção da construção de rede de comunidades, tais como a setorização das comunidades e valorização dos trabalhos realizados pelos leigos/as, como as celebrações e reuniões.

Após o almoço, sob a coordenação do Juvenal, da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga, reiniciamos os trabalhos com um momento orante conduzido pela equipe de animação.

Em seguida o Professor Doutor Ademar de Lima Carvalho, assessor no período da tarde, iniciou sua assessoria convidando-nos a cantarmos e interiorizarmos o que diz a cação “Samba Social” do cantor Zé Vicente (anexo II), que em sua análise sintetiza o protagonismo do leigo/a. Enfatizou que o que ele vai expor é a partir da sua experiência na Teologia da Libertação e em diversos documentos de nossa Igreja. A partir do Concílio Vaticano II a Igreja passa ter outra concepção pastoral, assumindo o leigo/a, como sujeito, um papel de fundamental importância no processo de evangelização. A Igreja organizada a partir das CEBs configura como novo jeito de ser igreja. Tendo o protagonismo do leigo suporte básico no seguimento de Jesus Cristo. Tem a missão de ser semeador de esperança; ser testemunha qualificada do projeto do Reino de Deus; intervir na realidade injusta, visando à construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária. Protagonismo=principal personagem=pessoa que desempenha papel e função principal num acontecimento=aquele que recebe a condição de sujeito. O cristão leigo precisa: tomar consciência de que é sujeito ativo e membro do Povo de Deus; Formação, conhecimento e vivência da espiritualidade do projeto de Jesus Cristo histórico e libertador. O sentido e seguimento do protagonismo do cristão leigo na igreja e sociedade se sustentam na espiritualidade encarnada, na entrega total a causa missionária. Isso implica um grande amor a Jesus Cristo e paixão pelo seu Reino. Ou o cristão assume uma prática da justiça social ou ele não “leu” de fato o Evangelho de Cristo. Um dos maiores desafios na sociedade atual é a perca do sentido de viver (luta pelas causas). A separação do Cristo histórico do Cristo da Fé é um grande problema teológico. Nossa fé sobra quando casamos Fé e Ação. A espiritualidade se dá com a mescla de oração – conteúdo (formação) – ação. Nesse tempo de sociedade em mudança e crise de paradigma precisa de uma razoável formação teológico-pastoral. À luz da Palavra de Deus que postura e atitude eu devo assumir?

Após o lanche da tarde os participantes foram agrupados em cinco grupos e motivados a responderem 10 perguntas (anexo III) como segue:

Grupo 1 – Pe. Onesto

Grupo 2 – Dom Sebastião

Grupo 3 – Pe. Guiomar

Grupo 4 – Pe Miguel

Grupo 5 – Catequista Vó Eny

Síntese, do apresentado pelos grupos, feita pelo assessor:

  • Através de estudos (formação) e oração buscar trabalhar o pluralismos, união entre as pastorais partilhando objetivos em comum;
  • “Saber” é importante na construção do Reino;
  • Valorizar as diferentes identidades da comunidade, fundamentada na Palavra de Deus;
  • Ter atitude de diálogo sempre;
  • Planejar em comunhão nas paróquias com vistas a formação de rede de comunidades (linhas de ação: missão, jovem, catequese, liturgia, ministérios;
  • Testemunhar o conhecimento de Jesus Cristo, com ética, e participar da sua missão;
  • Assumir a missionariedade;
  • Deixar o medo de buscar os/as irmãos/ãs afastados/as;
  • Divulgar mais os trabalhos;
  • Ser cristão precisa ter uma identidade que passa pela cruz de Jesus Cristo (conhecê-lo);
  • Ser atuante (ação) no projeto de construir o Reino de Deus;
  • Sair da superficialidade a aprofundar nas relações;
  • Rever o modelo cultural que o mundo vive hoje (cultura do descartável/relativismo);
  • Ser mais próximo e acolhedor junto ao povo;
  • A mudança na sociedade passa pela organização de base;
  • Não dá pra ficar trabalhando o “leigo ideal”;
  • O que existe são cristãos reais articulados e embebidos num modelo de sociedade relativista;
  • Quem e o que os nossos seminaristas estão ouvindo?
  • É preciso nos preparar para falarmos da forma que vislumbramos o jeito da igreja ser;
  • Não precisamos pensar em massa, mas, pequenos grupos;
  • É preciso que se tenha uma coordenação diocesana forte para poder dinamizar os trabalhos;
  • A democracia no Brasil deve muito à atuação da CNBB;
  • O cristão leigo é um sujeito esperançoso.

No sábado à noite participamos de uma linda e enriquecedora Celebração Eucarística na Comunidade matriz da Paróquia Nossa Senhora da Salete, sob a presidência do Bispo Diocesano de Primavera do Leste – Paranatinga, Dom Derick. Em seguida, no Salão Paroquial da mesma paróquia, participamos de uma Noite Cultural com a presença da comunidade local, regada de apresentação teatral e cantos dos grupos do oratório da paróquia e da equipe de animação do encontro e um delicioso chá com bolo.

No domingo, após o café-da-manhã, oferecido na Paróquia anfitriã, participamos de uma calorosa Celebração do Ofício Divino das Comunidades, página 632 – Encontros Pastorais, conduzida pelos representantes da Diocese de Rondonópolis – Guiratinga. Na sequência foi elevada uma oração ao Deus da Vida em intenção ao acolhimento junto a Ele da nossa Irmã Mariza (Cuiabá) que acabara de ser comunicado o seu falecimento.

Dando continuidade, o Reginaldo fez uma memória de nossa caminhada, enfocando a organização e execução deste 1º Encontro Interdiocesano.

Na sequencia o Professor Ademar continuou com a assessoria. Teceu considerações sobre o desgaste das lideranças que são engajadas nos trabalhos pastorais em nossas comunidades. É importante vislumbrarmos a conversão do Povo de Deus (leigos/as e clero) para uma caminhada em comunhão. Precisamos superar a visão sectária de nossas CEBs, de que elas são uma Pastoral ou um Movimento. Metaforicamente, as CEBs são como uma mãe, que embora celebramos uma vez no ano, ela está presente no dia-a-dia de todas as pastorais e movimentos. Refletimos sobre a leitura bíblica que contava sobre os discípulos de Emaús. Enfatizou que não estamos “perdidos”, embora algumas vezes pareça que fecha-se o ciclo da história. Temos que ter convicção de que a “revolução” de nossa sociedade passa pelas mulheres. A Igreja profética denuncia e anuncia. Onde fere o que está no centro do Evangelho, a Vida (Jo 10,10), deve ser denunciado. Aí mexe com as estruturas de poder da sociedade. Para entendermos é preciso da Palavra de Deus em sua dimensão histórica e não meramente doutrinária. Para isso os documentos da Igreja nos auxilia no entendimento da realidade social em que vivemos, sob a Luz da Palavra de Deus. O Evangelho da Alegria (88) suscita-nos a buscar a superar (transformar), o Cristo meramente espiritual, sem carne e sem cruz. O Evangelho convida sempre a assumirmos o risco do encontro com o outro. A pertença à Comunidade é indispensável. Segundo o Concílio Vaticano II a Igreja é Povo de Deus, com o nosso batismo nos tornamos responsável por esta Igreja também. Nas CEBs tudo deve ser colocado em comum (At 2, 42-44) e não deve haver o aleijamento de ninguém à Vida em abundância.  O Documento de Aparecida (30 e seguintes) revela um Deus que está sempre presente na história. Se eu pertenço a Igreja Católica Apostólica Romana eu sou seguidor de Jesus Cristo. Ao mesmo tempo somos anunciadores e recebedores da Boa Notícia. O cristão tem a vocação para a liberdade (Gálatas 5, 13). A Igreja deve estar a serviço de todos. O sentido da missão do leigo é tornar JC protagonista da liberdade humana. Pois Ele transforma o sujeito. A missão é transformar as realidades humanas. Ninguém pode ser exonerado do compromisso com os pobres. Há necessidade de resolver as causas estruturais da pobreza (Evangelho da Alegria 200 e seguintes). Devemos deixar as marcas do amor e da esperança. A Terra é nosso lugar comum, a Comunidade é o lugar comum da Igreja. Todos os cristãos são chamados ao compromisso transformador e sinal da esperança que brota no amor de Jesus Cristo. Aqui está o protagonismo do leigo/a.

Após o lanche, retornamos ao auditório e foi lida uma reflexão do texto trazido pela Laiz Zanatta, de Rondonópolis, intitulado “O Limão e Eu” (anexo IV).

Em seguida por Diocese refletimos as questões (anexo V):

1 – Como podemos dar continuidade ao encontro em nossa Diocese, Interdiocesano e Regional?

2 – O que levamos do Encontro?

3 – O que podemos melhorar para o próximo?

Considerações Finais:

  • Consultado os participantes, a maioria optou por realizar a segunda etapa da formação juntamente com a Diocese de Barra do Garças e com a Prelazia de São Félix do Araguaia, na cidade de Barra do Garças, na mesma data acertada na Ampliada Regional das CEBs.
  • Professor Ademar: Tudo o que a gente sabe ou aprende deve ser colocado a serviço. Devemos assumir a condição de sujeito na ação evangelizadora, sempre apoiados em Jesus Cristo.
  • Pe Divino: O Papa retomando o que está na base profunda da Igreja, a missionariedade, nos insita a levarmos a Boa Nova a todas as pessoas. Como as CEBs podem colaborar para que as paróquias saia da estrutura burocrática e seja transformada em uma Igreja em saída (missionária)? Agradeceu a todos/as e desejou a continuidade desse trabalho.

O Reginaldo agradeceu a todos, fez a memória da Dona Maria, de Primavera do Leste, e conduziu a celebração de envio com a unção dos participantes com óleo e utilizando os símbolos do fermento e do sal para que sejamos sempre o “Sal da Terra” como está na leitura do Evangelho Mt 5, 13-16 e conduziu a Oração da Unidade das Igrejas Cristãs (CONIC), em virtude da abertura da Semana Nacional da Unidade das Igrejas Cristãs do Brasil.

Finalizamos nosso Encontro com a certeza de estarmos em sintonia com o Papa Francisco, com a proteção de Nossa Senhora, a “Mãe das Américas”, no seguimento de Jesus Cristo, inspirados pelo Espírito Santo e com as bênçãos da Santíssima Trindade, a melhor Comunidade.

Amém! Axé! Awire! Aleluia!

 

Primavera do Leste/MT, 17 de maio de 2015, em memória de São Pascoal Baylon.

 

ANEXO I

O PROTAGONISMO DOS CRISTÃOS LEIGOS E LEIGOS NA IGREJA E NA SOCIEDADE

Prof. Dr. Ademar de Lima Carvalho

 

Pensar a questão do protagonismo do leigo no mundo de hoje implica em refletir a  concepção de mundo, de civilização cinge o pensamento dos Cristãos na atualidade. Implica ainda mergulhar ainda  na história da Igreja, sobretudo no que se refere o seu ensinamento pastoral do Vaticano II e documentos Latino-americanos e da Igreja no Brasil.

Por outro lado, é também importante refletir sobre que compreensão de Eclesiologia, Cristologia, teologia, espiritualidade e missão na dimensão ético-política  que ilumina a ação e prática de evangelização do cristão leigo na comunidade. Mediação da ação evangelizadora no mundo.

Antes de dialogar sobre essa questão já afirmo que o protagonismo do leigo tem como foco a missão de ser semeador de esperança; testemunha qualificada do projeto do Reino de Deus; intervenção na realidade injusta, visando a construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária.

Determina revolucionária para transformação da  vida na comunidade: 1-  inclusão pelo o amor; 2- temor e prática da justiça. Porque o amor e a prática da justiça constituem o de mais original do protagonismo dos leigos na igreja e sociedade.   O Evangelho de Jo 15, 9-17 enfatiza que Jesus nos chama para dentro do amor, para que assim possamos administrar e gerenciar a nossa vida pelo ato amoroso. Porque diz D. Erwin a missão “ é caminho, é itinerância de busca. É proclamação de esperança e denuncia de toda injustiça. É escuta e testemunho. É uma radical entrega da própria vida ao Projeto de Deus”.

Da mesma forma, ainda é importante dizer que o Vaticano II (LG) a igreja é estabelecida como o Povo de Deus. Partindo do entendimento de uma eclesiologia a partir do povo de Deus. Assim a “Igreja caracterizada como o próprio Reino de Deus ela passa a ser sinal, sacramento, instrumento desse Reino”. Daí deduz que para a Igreja ser plenamente igreja, torna-se necessário que os leigos  e leigas se constituíssem plenamente como sujeitos eclesiais para exercer sua missão recebida no Batismo.

Igreja, diz o Documento nº 100 da CNBB (98-100) é comunidade. A comunidade torna a igreja visível. A comunidade eclesial é o lugar de educação da fé.  A CEBs é uma forma privilegiava de vivência comunitária da fé, inseridas no seio  da sociedade em perspectiva Profética (Diretriz Cnnb, n.102; DAP n. 178-80).  Diante da realidade do mundo atual  o Papa Francisco afirma que […] não quero uma igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa em um emaranhado de obsessões e procedimentos” (EG 49). Quero uma Igreja em saída (EG 20) Igreja em estado de missão (DAP 213). A igreja organizada a partir das Cebs configura como novo jeito de ser igreja , que leva a sério a participação e caminho de todos os batizados tem respaldo bíblico-teológico.

A questão real é que a imensa maioria do povo de Deus é construída de leigos. Seguir Jesus Cristo é o primeiro passo para se tornar discípulo  e missionário (DAP 278; 131)- Imita o exemplo de Jesus e dar testemunho. Ser sal da terra e Luz do mundo (Mt 5,13-14). Portanto, o protagonismo dos cristãos leigos nas cebs – igreja e sociedade- tem como suporte básico o seguimento de Jesus Cristo Libertador, por que a igreja missionária se abastece do profetismo.

Protagonismo significa: principal personagem. Pessoa que desempenha papel e função principal num acontecimento. Aquele que recebe a condição de sujeito. Logo, para o desenvolvimento de seu protagonismo  na igreja e sociedade o cristão leigo precisa tomar consciência que é sujeito ativo e membro do Povo de Deus. Para tanto necessita de formação, conhecimento e vivência da espiritualidade do projeto de Jesus cristo histórico e libertador.

O sentido e seguimento do protagonismo do cristão leigo na igreja e sociedade se sustentam na espiritualidade encarnada, na entrega total a causa missionária. Isso implica um grande amor a Jesus Cristo e paixão pelo seu Reino.

O cristão leigo na igreja e sociedade somente constitui um sinal de libertação se tiver imbuído do compromisso de sujeito organicamente engajado na cebs para mover o ser humano como um todo no envolvimento nos valores  do projeto do Reino de Deus. Lembre-se que o missionário está sempre inserido numa comunidade.

O sujeito da missão é a igreja comunidade. A igreja missionária se sustenta no protagonismo dos cristãos leigos envolvidos na missão. A vivência do evangelho se dar na comunidade, por que é aí que as pessoas vivem, partilha a vida. É na comunidade que “acontece a exclusão e a não participação de pessoas que a compõem”.

Refletir sobre o protagonismo dos cristãos hoje, tem um sentido e um significado muito importante  para os leigos, porque nos obriga a olharmos no retrovisor da história para compreendermos quem somos hoje e ao mesmo tempo visualizar o para-brisa aberto para um futuro ao ser construído  pelo protagonismo da igreja em estado de missão.

Pode-se então dizer que para a Igreja povo de Deus e Leigo no mundo, o marco referência é o vaticano II (LG 1, 8-9; GS)- Lumen Gentium(Igreja povo de Deus), Gaudium et Spes (foca sobre a igreja no mundo de hoje), seguido de Medellín, Puebla, Aparecida.

Diz o texto base da CF/2015, o retorno aos documentos da Igreja a partir  vaticano II é fundamental para o exercício do protagonismo dos Cristãos leigos, tendo em vista que  aí está o marco referencial de reconhecimento como sujeito, bem como os “ensinamentos que nos levam a ser uma igreja atuante, participativa, consoladora, misericordiosa, samaritana. Sabemos que  todas as pessoas que formam a sociedade são filhos e filhas de Deus. Por isso, os cristãos trabalham para que as estruturas, as normas, a organização da  sociedade esteja a serviço de todos”. “A comunidade dos fieis, os cristãos, é uma igreja  em saída. As comunidades de base e pequenas comunidades, movimentos constituem a riqueza da Igreja”. ‘“Os cristãos são presença do Evangelho na sociedade”.

Pensando na sociedade- mundo contemporâneo. Na tessitura do vaticano II, o mundo com o qual dialogou, configurado pela chamada modernidade. A modernidade – iluminismo séculos XVII e XVIII-é a crença no progresso contínuo e na construção de uma história cada vez melhor. É o período que o homem toma para sai construção do próprio paraíso- É a construção do homem racional. A modernidade  transforma a civilização da produção de mercadoria.

O fato é que a Igreja vive e precisa dialogar com o mundo em transição para outra época. Hoje a partir da crise da modernidade o mundo passa por transformação, estamos diante da mundialização globalizada configurada na esfera da pós-modernidade. Diz o vaticano II que igreja está inserida nessa realidade como sinal de salvação (LG) e como servidora da humanidade (GS). Diante do contexto do mundo, ontem, hoje e sempre é preciso caracterizar um posicionamento eclesiológico.

O protagonismo dos cristãos leigos e leigas na igreja e sociedade,  em mudança e crise de paradigma, como disse antes, precisa de uma razoável formação teológica, cristológica, eclesiologia e pastoral, faz-se necessário construir uma visão de mundo, porque os documentos da Igreja afirmam que o mundo da política também é um precioso lugar de missão do cristão. É importante estudar na comunidade: O que diz a palavra de Deus sobre a relação igreja- sociedade: Povo de Israel, Jesus e a organização da sociedade de seu tempo? O que você conhece da relação igreja e sociedade á luz de seu magistério? O que fala a igreja na America latina sobre a opção pelo ser humano e opção preferencial pelos os pobres?   (ter estudos da CNBB- cristãos leigos e leigas na igreja e sociedade).

O mundo contemporâneo está envolto em desafios. No caso do Brasil estamos marcados por profundas mudanças, no aspecto: demográfica, urbanização, econômica e sua articulação com as políticas publicas, violência, minorias etc.(EG, p.47-75, estudos da CNBB- 107, cap I)

Diante de uma realidade social de crise no sistema de representações para o exercício do dinamismo do protagonismo dos cristãos leigos é fundamental discernimento a luz da Palavra de Deus, Teologia e ciências humanas e sociais.

No campo das representações religiosas é muito forte a determinação da postura assumida a partir de uma visão intimista de fé como a mesma lógica conduzida pelo projeto neoliberal de sociedade com o foco no individuo e negação do sujeito coletivo. Há uma volta a ideia cristã antes do vaticano II de uma visão de Igreja como sociedade perfeita focado no clericalismo e dês-foco do leigo. O que na linguagem popular chamamos de estética da batina.

O texto base preparatório do encontro do laicato de 2012, destaca que  neste tempo de crise de representações religiosas em que as pessoas se perguntam sobre a razão de sua existência, sente que o sentido da vida tem a ver com uma profunda aspiração religiosa. Porém nos dias atuais, “ o conceito de salvação sofreu um processo de materialização e passou a ser entendida como cura”. A exortação Evangelii Gaudium (n.6) assim manifesta “na cultura dominante, ocupa o primeiro lugar aquilo que é exterior, imediato, visível, rápido, superficial, provisório. O real cede o lugar á aparência”.

Hoje a fé católica de muitos  povos está sendo problematizada pelo “desafio da proliferação de novos movimentos religiosos, alguns tendentes ao fundamentalismo e outros que parecem propor uma espiritualidade sem Deus” (EG 63, 78). Como superar a visão religiosa pressa à aparência, o superficial, a exterioridade do formalismo com predominância o aspecto administrativo, sacramentalização sobre o pastoral sem a profundidade que se requer essencialidade da evangelização no cristianismo?  

Diz Antoniazzi que neste momento histórico  da crise da modernidade que “a compreensão de nossa relação com Deus sofre uma inversão. Em lugar de servir a Deus, a religião passa a servir-se de Deus, transformada num espaço para a resolução de problemas pessoais, consolo, compensação”. O que tem marco o tempo presente, por um lado,  é a busca de um sagrado sem religião, por outro, a “ religião passou a ser uma mercadoria a ser vendida a um público alvo específico, que  deve ser abordado da forma adequada, estabelecida por marqueteiros, fazedores de opinião”. O cristianismo tem um produto primordial para ser vendido a esse mercado: o cristo da fé descolado do Jesus cristo histórico libertador. A lógica é fidelizar o individuo, de diferentes maneiras, desde a sobrevivência seja percebida  no universo de aglomerado de massa.

O que o texto – base do CNLB está dizendo é “ o cristianismo é uma religião, mas também uma completa visão de mundo. E está visão de mundo está também em crise, que se localiza na necessidade de uma  nova forma de diálogo com novas realidades e os novos anseios que surgem da crise civilizacional”. Penso que aqui está a encruzilhada do protagonismo dos cristãos leigos e leigas na igreja e sociedade. Acredito que os sinais dos tempos apontam para um ressurgimento das CEBS com mais vigor, porém alicerçada a uma eclesiologia a partir do povo de Deus como novo jeito de ser igreja, sobretudo uma igreja no mundo urbano. Uma Igreja pobre com os pobres. Uma cristologia a partir da prática de Jesus que revela o Reino. Uma teologia do espírito  entendido a partir doo evento de Jesus (DAP 33).

Na singela compreensão a realidade de nosso tempo, o protagonismo dos leigos na igreja e na sociedade,  deve ser  compreendido como um para-brisa que se abre ao horizonte do mundo que precisa ser construído. Mas, o compromisso e ação evangelizadora dos leigos para transformar em mais ardorosa, alegre, ousada precisa ser  reconduzido  ao caminho da teologia e espiritualidade da libertação, porque o protagonismo dos leigos não sobrevive se renunciar ao realismo da dimensão social do Evangelho. (EG 201) “a vocação e missão próprias dos leigos é a transformação das diversas realidades terrenas para que toda a atividade humana seja transformada pelo evangelho, ninguém pode sentir-se exonerado da preocupação pelos pobres e pela justiça social”.

Para a Exortação Gaudium (88),  […] “o evangelho convida-nos sempre a abraçar o risco do encontro com o rosto do outro, com a sua presença física que interpela, com os seus sofrimentos e suas reivindicações, com a sua alegria contagiosa permanecendo lado a lado. A verdadeira fé  no Filho de Deus feito carne é indispensável do dom de si mesmo, da pertença á comunidade, do serviço, da reconciliação com a carne dos outros. Na encarnação, o Filho de Deus convidou-nos á revolução da ternura”. Logo, “a tarefa da evangelização implica e exige uma promoção integral de cada ser humano”. Neste sentido, “todos os cristãos, incluindo os pastores, são chamados a preocupar-se com a construção de um mundo melhor”. Assim uma “fé autentica- que nunca é cômoda nem individualista-  comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois de nossa passagem por ela” (EG 182-183). O protagonismo dos cristãos leigos na igreja e sociedade é “ser um sinal de esperança que brota do coração amoroso de Jesus cristo”.

 

ANEXO II

 

SAMBA SOCIAL

Venha irmã, venha irmão  partilharmos/Os saberes e o sonho do povo/ no esforço de sermos família/ construindo a beleza do novo/ somos muitos e tão diferentes/ mas formamos um povo de irmãos/ carregamos  mil sonhos na mente/ temos nosso futuro nas mãos.

Defender o direito/ respeitar a justiça/ promover a vida/ eis a nossa missão  neste chão.

A união e a dignidade/vão curar a violência e a miséria/ a justiça e a fraternidade/ é o que o mundo de nós  mais espera/ outro mundo mais justo é possível/ todos cremos é a nossa bandeira/ quando a fé se tornar compromisso/ a esperança será verdadeira.

A reforma urbana e agrária/ a saúde e a educação/os projetos que geram trabalho/são caminhos de paz e inclusão/ venham todos, há um longo caminho/ muita coisa pra se construir/ somos pó se lutamos sozinho/ somos tocha se o amor nos unir.

 

BANDEIRA DA VIDA

 Vou levando a bandeira da vida, eu vou! Vou pra festa bonita da vida, eu vou!

Vem meu povo de artistas para a festa animar/ crianças e adolescentes nesta festa vão brincar/ gente idosa, povo afro tem muito que partilhar/ quem possui deficiência e quem sofre dependência tem muito que ensinar.

 

Catadores, povo forte, hoje é festa e animação/ gente que mora na rua vem dançar novo baião/ pastorais e movimentos tem na festa seu lugar/ quem é de comunidade busca a nova sociedade/ vem também participar.

 

Uma nova consciência nossa festa vai gerar/ comunhão nas diferenças, vida nova faz brotar/ uma festa tão bonita lembra o céu aqui no chão/ Deus conosco festejando, nosso amor alimentando/ viva a vida, povo irmão.

 

Em nome de Deus que é vida, criador de todo o bem/ em nome de Jesus Cristo que nasceu lá em Belém/ em nome do Espírito Santo, nossa luz e nosso guia/ quem planta e cuida da vida, esta festa é merecida/ viva o amor! Viva a alegria!

 

ANEXO III

Para refletir em grupo:

1 – Como construir uma identidade cristã libertadora frente ao pluralismo ético-cultural na sociedade atual?

2 – O que diz e pode dizer a boa nova de Jesus Cristo para o protagonismo dos cristãos leigos na igreja e sociedade?

3 – Como os cristãos leigos estão desenvolvendo o seu protagonismo nas comunidades e movimentos da igreja? 

4 – Que desafios os cristãos leigos estão encontrando para dinamizar o seu protagonismo na igreja e sociedade?

 5 – O que significa ser cristão leigo para nós hoje?

6 – Que ação concreta os cristãos leigos, a partir desse encontro, pode desenvolver para  dar visibilidade na igreja e sociedade o seu protagonismo?

7 – O Reino de Deus anunciado por Jesus é central para a vida cristã e missão da igreja Povo de Deus no mundo. O que podemos fazer hoje para dar visibilidade ético-política a esse projeto na sociedade? 

8 – No documento de Aparecida, leigos e leigas são chamados luz do mundo (n. 209-215), o que fazer para que essa luz não se apague na comunidade?

9 – O que pode ser feito de concreto para dinamizar o protagonismo dos cristãos leigos/as no mundo da política?

10 – Quem são os cristãos leigos e leigas de hoje?


 

ANEXO IV

 

O Limão e Eu

Num castelo muito distante, morava um Rei muito sábio. Suas terras eram muito bem cuidadas. Em sua horta não faltava nenhum tipo de verdura e legume. Em seu jardim milhares de flores, muitas borboletas e beija-flores, etc. O lago era limpo com peixes, patinhos e outros animais que iam saciar a sede, enfim, um sonho.

A família do Rei acordava muito cedo para acompanhar e ajudar os empregados nas diversas atividades do castelo.

Certo dia, a Rainha adoeceu, e o Rei precisava ausentar-se para tratamento da esposa, tendo que contratar mais empregados.

Entre eles havia um que vivia reclamando, sempre de cara fechada, tudo era difícil, trabalhava dia sim, dia não ou dormia na sombra de uma árvore distante do castelo, toda a missão dada e tratada pelo Rei, nunca terminava, havendo sempre uma desculpa.

O Rei que o observava, encontrou-o dormindo na sombra de um limoeiro, muito constrangido disse que estava cansado, deitou e adormeceu. Não se passava das nove horas da manhã daquele dia.

Mas com toda sabedoria o Rei apanhou um limão e deu ao empregado dizendo:

– O senhor conhece essa fruta?

– Sim senhor. É um limão. Respondeu o empregado. Mas não gosto. É difícil descascar, é azedo, as sementes são amargas, enfim, pra mim não serve.

Então o Rei disse:

– Observe-o melhor e faça o comparativo contigo, sua família e seu trabalho.

Dias depois, o Rei viu mudanças boas no empregado, e perguntou:

– Então o que tem a me dizer sobre o fruto?

Envergonhado, o empregado falou:

– Falei com minha família, meus amigos e fizemos a experiência. O azedo representa nossa cara fechada. O suco uma gostosa limonada, um toque especial na alimentação e faz bem para a saúde. A casca, quando ralada é utilizada nos bolos e doces. A semente, bem representa uma nova vida (nova planta). O bagaço, este será o adubo da nova planta. E concluímos que o mais importante é envolver-se com o produto e com a missão, transformando e recriando novos rumos.

O Rei ficou muito feliz por ajudar uma pessoa a melhorar sua visão sobre a vida.


ANEXO V

 

Avaliação

1 – Como podemos dar continuidade ao encontro em nossa Diocese, Interdiocesano e Regional?

2 – O que levamos do Encontro?

  • O reforço de conteúdo e mais animação motivou a agir mais e melhor na Comunidade;
  • Aprofundamento do conteúdo (esclarecedor e de fácil compreensão) foi significativo e instigador;
  • Motivou a buscar fazer o repasse nas comunidades;
  • Novo ardor sobre as CEBs Missionárias;
  • Despertou a consciência desse jeito de ser Igreja ( Evangelho de Libertação buscando a promoção da dignidade da pessoa humana)
  • Instigou-nos a nos organizarmos melhor e buscar a concretização da Pastoral de Conjunto no Plano Diocesano;
  • Organizar uma equipe para estudar mais os conteúdos e levar para as Comunidades;
  • Despertou a necessidade de dar continuidade na formação sobre a temática desenvolvida;
  • Motivou-nos a buscar organizar melhor as nossas Comunidades;
  • Despertou-nos a dar mais suporte aos sacerdotes;
  • Elaborar subsídios (cartilha) para os Grupos das Santas Missões Populares sobre as CEBs;
  • Despertou-nos a sermos mais acolhedor ainda;
  • Mostrou-nos o quanto nossa Igreja é rica;
  • Colaborou para aumentar nossa convicção e na superação do medo;
  • Elaborar subsídios de formação (sobre as CEBs) para ser trabalhado nas CEBs;
  • Evidenciou a necessidade de a equipe diocesana ter uma Assessoria com respaldo junto ao Clero Diocesano;
  • Promover Encontro Diocesano de Formação;
  • Promover os Encontros Interdiocesanos a cada 2(dois) anos.

 

O que podemos melhorar para o próximo?

  • Não explorar exaustivamente o dia (pensar nos idosos);
  • Convidar mais pessoas (mobilizar mais / envolver mais paróquias);
  • Inserir na programação a Fila do Povo;
  • Partilhar mais as experiências;
  • Solicitar a leitura prévia do documento a ser aprofundado;
  • Envolver mais jovens no encontro.