Palavra do Bispo: Eucaristia, Dom e Vida

 

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No dia 04 de junho de 2015 a Igreja Católica celebra a “Festa do Corpo de Cristo”. Tem sua origem em 1264 quando o papa Urbano IV oficializou esta celebração para toda a Igreja. É uma manifestação pública da fé, pois os cristãos católicos acreditam que Jesus Cristo está verdadeiramente presente na Hóstia Sagrada. O sentido da procissão pelas ruas da cidade, com enfeites, bandeiras, cantos, flores é uma manifestação que brota da fé e da certeza de que Jesus caminha conosco. Ele que está presente em todas as realidades da vida.

Já no Antigo Testamento os Hebreus faziam as ofertas e os sacrifícios a Deus como sinal de gratidão, de súplica e de reparação pelos males e infidelidades. Normalmente estas celebrações aconteciam num clima de refeição, de oferta dos frutos da terra e de louvor pela bendição de Deus. Celebração que manifestava a alegria, a partilha e o compromisso do povo para com Deus.

No Evangelho de Marcos (14,12-26) lemos a palavra de Jesus sobre a instituição da Eucaristia: “Partiram os discípulos para a cidade e acharam tudo como Jesus lhes havia dito, e prepararam a Páscoa. Chegando a tarde, dirigiu-se ele para lá com os Doze. E enquanto estavam sentados à mesa e comiam, Jesus disse: Em verdade vos digo: um de vós que come comigo me há de entregar. Começaram a entristecer-se e a perguntar-lhe, um após outro: Porventura sou eu? Respondeu-lhes ele: É um dos Doze, que se serve comigo do mesmo prato. O Filho do homem vai, segundo o que dele está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do homem for traído! Melhor lhe seria que nunca tivesse nascido… Durante a refeição, Jesus tomou o pão e, depois de o benzer, partiu-o e deu-lho, dizendo: Tomai, isto é o meu corpo. Em seguida, tomou o cálice, deu graças e apresentou-lho, e todos dele beberam.  E disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos.  Em verdade vos digo: já não beberei do fruto da videira, até aquele dia em que o beberei de novo no Reino de Deus. Terminado o canto dos Salmos, saíram para o monte das Oliveiras”. A instituição da Eucaristia aconteceu num clima de refeição. Presença real e viva de Jesus que se faz alimento e permanece na hóstia sagrada.

A Eucaristia aponta para dois horizontes presentes na vida dos cristãos. De um lado a certeza da presença de Jesus na hóstia sagrada como alimento, sustento, remédio e vida. A Eucaristia merece reverencia, dignidade, solenidade, aclamações e adoração. Por outro lado a Eucaristia é comum-união, pão partilhado que aponta para a fraternidade, para a partilha, a solidariedade e a justiça. O Concílio Vaticano II recomendou a recepção da Eucaristia de pé e de mãos abertas exatamente para evidenciar este lado da eucaristia. Assim a Eucaristia torna-se sustento diário para uma vida fraterna e solidária.

Por um pedaço de pão e por um pouco de vinho eu já vi um irmão se desviar do caminho. Por um pedaço de pão e por um pouco de vinho eu já vi irmãos partilharem e celebrarem a fraternidade”. Sábias e profundas palavras de Pe. Zezinho. Há uma oposição radical entre Eucaristia e fome; Eucaristia e injustiça, exploração, concentração de bens, egoísmo, coração fechado para a dor, o grito e o gemido do irmão. Todas as vezes que celebramos a Eucaristia proclamamos que o projeto de Deus é vida e partilha. Participar da Eucaristia é assumir o compromisso de vida, de justiça, de solidariedade. É o grito permanente de que a fome machuca, destrói a vida, corrompe a dignidade da pessoa humana.

Nesta 5ª feira, na Festa do Corpo de Cristo, os cristãos católicos são convidados a participarem da Eucaristia e da procissão pública pelas ruas da cidade como manifestação do compromisso com Cristo e a busca de um mundo melhor, de estruturas mais justas, de vida e dignidade para todos.

 

Dom Juventino Kestering
Bispo de Rondonópolis-Guiratinga