PONTIFÍCIO CONSELHO PARA O DIÁLOGO INTERRELIGIOSO

Budistas e cristãos: Juntos no combate da escravidão moderna

Mensagem para a Festa do VESAKH – 2015   papa e budistas

Cidade do Vaticano

Caros amigos Budistas,

  1. O Conselho Pontifício para o diálogo inter-religioso se sente feliz em endereçar, mais uma vez, uma mensagem aos irmãos budistas, desejando os melhores votos por ocasião da celebração do Vesakh. A comemoração jubilosa de três acontecimentos importantes na vida de Gautama Bouddha – seu nascimento, sua iluminação e sua morte – é uma ocasião de nos tornar próximos daqueles que sofrem e de renovar nosso compromisso de levá-los nosso conforto e felicidade através de gestos de amizade e de compaixão.
  1. Neste ano, a mensagem do Pontifício Conselho aos budistas se inspira na “Mensagem para o dia Mundial da Paz 2015”, de sua Santidade o Papa Francisco, intitulada “Já não escravos, mas irmãos”. Nela, o Santo Padre observa que, historicamente, a instituição da escravidão, a um tempo admitida, causou a rejeição do outro, maus tratos às pessoas, violação da dignidade e dos direitos fundamentais, e a institucionalização das desigualdades. Consequentemente, “o escravo podia ser vendido e comprado, cedido e adquirido como se fosse uma mercadoria qualquer”.

O Santo Padre ressalta ainda que não obstante a escravidão tenha sido oficialmente abolida em todo o mundo, existem, ainda hoje, milhões de pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – que são privadas da liberdade e são obrigadas a viver em condições semelhantes às da escravidão.

  1. O Papa Francisco cita exemplos de escravidão em nossos dias: homens, mulheres e crianças trabalhadores, migrantes que sofrem abusos físico, emocional e sexual, que são submetidos a condições de trabalhos deploráveis; pessoas, muitas delas menores, obrigadas a se prostituirem e à escravidão sexual, masculina e feminina; pessoas sequestradas por terroristas e obrigadas a tornar-se combatentes;  para não falar das que são torturadas, mutiladas e mortas. Segundo o Pontífice, a causa destes males terríveis contra a humanidade são os corações humanos deformados pela corrupção e pela ignorância. Quando os corações humanos são corrompidos, os seres humanos não consideram mais os outros “como seres de igual dignidade, como irmãos e irmãs em humanidade, mas como objetos”.
  1. Prezados amigos, partilhamos a convicção de que a escravidão moderna e o tráfico de seres humanos são crimes graves, feridas abertas no corpo da sociedade atual. Numa seção do “Caminho Octuplo”, – ou seja sobre o direito da criança – Buda declara que o comércio de seres vivos, incluindo escravos e prostitutas, é uma das cinco ocupações não permitidas (NA 5,177). Ele ensina a adquirir os bens de forma pacífica, honesta e por meios legais, sem coerção, violência ou fraude, e com meios que não provoquem danos ou sofrimentos (cf. NA 4,47; 5,41; 8,54). Desta maneira, o budismo promove o respeito pela vida e pela liberdade de cada pessoa.
  1. “Como budistas e cristãos, solícitos em respeitar a vida humana, devemos colaborar juntos para que se coloque fim a esta chaga.

O Santo Padre nos convida a superar a indiferença e a ignorância, a socorrer as vítimas, cuidando de sua reabilitação psicológica, da sua formação e da sua reintegração na sociedade destino ou de origem.

  1. Solicitamos que vossa celebração do VESAKH, que compreende esforços especiais para levar a felicidade aos menos afortunados, possa ser um momento de reflexão aprofundada sobre as variadas modalidades de colaboração entre cristãos e budistas a fim de que não haja mais escravos, mas irmãos e irmãs que vivem na fraternidade, bondade e compaixão por todos.

Renovando nossas cordiais saudações, desejamos a todos uma boa festa do  VESAKH.

 

Cardeal Jean-Louis Tauran – Presidente

Père Miguel Ángel Ayuso Guixot, MCCJ – Secretário