Igreja Convida Reeducando – Pela Misericórdia de Jesus – Fazer Passagem para uma Situação Melhor

O Bispo diocesano de Rondonópolis-Guiratinga realizou na última quinta-feira, 06/04, uma celebração que deve ser o marco para a volta de atividades mais constantes da Igreja Católica na Penitenciária Estadual Major PM Eldo de Sá Correa, o presidio de Mata Grande, em Rondonópolis.
Durante a Missa do Lava-pés, concelebrada pelos padres Gunther A. Lendbradl, José Eder Ribeiro Lima e Erivelton Almeida Postil; e em companhia de um grupo de seminaristas e membros da Pastoral Carcerária e Pascom, Dom Maurício da Silva Jardim revelou o projeto da Diocese em retomar a realização de missas, retiros, visitas e outras ações, através de um grupo de pessoas que está se organizando para esse trabalho. A também fala foi uma resposta a solicitação de representantes de Mata Grande por, pelo menos, missas quinzenais ou semanais.

AMOR EXTREMO – Na homilia da celebração do Lava-pés o Bispo repetiu que a presença da Igreja em Mata Grade foi motivada pela ordem expressa de Jesus em Mateus 25,36: “Estive preso e foste me visitar”. E alertou que seguir Jesus não é fácil porque “nosso mestre tem um modo de amar que é extremo. Ele não coloca limites ao amor. Até dar sua vida por nós”. Amor tão intenso que Jesus, segundo Dom Maurício, mesmo inocente (que só fez o bem para o mundo) e sendo condenado injustamente, revelou-se misericordioso sem limites no perdão. “Lembram da passagem do povo gritando, crucifica-o, crucifica-o. E ali estava um inocente que foi condenado injustamente a pena de morte e que perdoou seus algozes assassinos”.

QUALQUER UM DE NÓS – Mais uma vez catequético, falando sobre o mal, o pecado e os erros na vida humana, o bispo lembrou que Judas se corrompeu pelo dinheiro e vendeu Jesus, por ação do diabo em sua vida. “O diabo tinha entrado nele e quando a gente deixa, ele entre e nos induz a fazer coisa errada. Judas se corrompeu”, pontuou.
Dom Maurício lembrou que Jesus morreu crucificado entre dois ladrões, um identificado na escritura e outro não: “Um que estava lá era Dimas e o outro a gente não sabe o nome, porque pode ser qualquer um de nós”. Mas, reiterou o Bispo, a misericórdia de Jesus é grande ao ponto de perdoar os que o condenaram e mataram na cruz, bem como ao ladrão que manifestou arrependimento na cruz. “Até na cruz Jesus sabe perdoar sempre. Ele olhou para um e disse: ainda hoje estará comigo no paraíso. É o primeiro santo que nós temos notícia na Igreja. É um ladrão condenado… Deus olha para a gente com essa misericórdia, porque ele quer nos resgatar, quer que a gente tenha vida plena, não fique lá no pecado, no erro. Sempre o olhar de Jesus é para nos promover e para que nos sintamos amados e não condenados. Essa é a Justiça de Deus. Fizeram mal para ele, o julgaram com injustiça, debocharam, bateram, cuspiram e o crucificaram, mas ele ainda disse: Pai perdoa-os porque eles não sabem o que fazem. E a gente aprende com ele e está aqui por causa dele”, completou, repetindo o exemplo ensinado pelo Mestre e Senhor que lava os pés dos seus seguidores. “A gente é que deveria lavar os pés dele, mas é ele que lava nossos pés, num gesto de humildade, serviço, de não querer ser servido, mas servir”, mesmo sendo Deus.

NÃO SÓ PALAVRAS – Dom Maurício destacou ainda que o amor ensinado e praticado por Jesus Cristo não se limita às palavras: “Não é tanto por palavras, porque o amor não é aquilo que diz, mas o que faz. Não adianta dizer a uma pessoa: eu te amo, sem algo prático de bom, de concreto e de real”, resumiu.
O Bispo lembrou ainda que o sentido da Páscoa é justamente essa “promoção” oferecida por Deus: a passagem de uma situação para outra, da morte para a vida, exemplificando o momento atual dos reeducandos que mesmo reclusos têm oportunidades, no presídio, de estudar, ter um ofício e, ao sair de lá, retomar as suas vidas: “Tudo isso é um processo de passagem; a gente tem que viver a passagem; para o nosso bem; sair de uma situação para uma situação melhor”, resumiu.

JOÃO 8 – Dom Maurício encerrou a homilia, antes de lavar os pés de 12 detentos e funcionários de Mata Grande, repetindo as palavras de Jesus em João 8, no episódio da mulher adultera, que os líderes religiosos queriam morta por apedrejamento, como rezava a cartilha judaica. “Então nós estamos aqui, para olhar no olho de cada um para dizer aquilo que Jesus disse: meu filho, eu também não te condeno. Estamos com vocês, repetindo o gesto de Jesus, lavando vocês pés, porque nós também um dia formos perdoados por Deus e quem é perdoado, tem que perdoar, porque quando a gente quer julgar, se coloca no lugar de Deus. Só Deus pode julgar e o faz com misericórdia”.

PARA AMADURECER – Presente a celebração em Mata Grande, Padre Gunther Lendbradl, há tempo conhecedor da realidade local, pediu o esforço de todos reeducandos, funcionários e gestores, em prol de uma “convivência mais humana” no presídio: “Você pode fazer sua convivência mais irmã; fazer o bem uns aos outros”.
Padre Gunther também citou o texto bíblico que recorda que todo ser humano foi feito por Deus sua imagem e semelhança e pediu que, a partir dessa condição, cada reeducando faça o melhor uso possível do seu tempo de reclusão em favor de uma nova vida: “Que não seja um tempo atoa; deve ser um tempo para crescer e amadurecer e descobrir toda a bondade que Deus colocou dentro de vocês, afinal, cada um de nós fomos criados a imagem e semelhança de Deus. Nunca se esqueçam disso”, pediu Padre Gunther.

MILTON MENDONÇA

PASCOM DIOCESANA