Jesus eu Confio em Vós

Leituras: Atos 5,12-16; Sl 117; Apo 1,9-11a.12-13.17-19; Jo 20,19-31

As três leituras de hoje são tomadas do Novo Testamento. Contam as experiências dos ‘seguidores e seguidoras do Caminho’, chamado agora de ‘cristãos’. São ‘galileus’, pescadores, não letrados; estão assustados, escondidos; não respeitam a ‘religião oficial’, e são perseguidos e mortos. Gente sem privilégios, sem ‘templos’, sem poder. Quando se escrevem essas narrativas, depois dos anos ’70, já havia muitos ‘mártires’, em Jerusalém e em Roma, e em muitos outros lugares da terra conhecida.

O que faziam esses homens e mulheres? O que ganhavam com crer em Jesus? Era uma promessa de uma vida melhor além da morte? Não, pois havia muitas as religiões e filosofias naquele tempo que prometiam a ‘vida além da morte’, a ‘imortalidade da alma’.

A sua força vem do encontro com Jesus ressuscitado e vivo. Ele é o “meu Deus (Adonai) e meu Senhor”. É o Salvador prometido que perdoa pecados, dá sentido ao viver e uma ‘vida plena’. Eles contam como Jesus olhou para os ‘pequenos e humildes’, olhou para os/as ‘escravos/as do Senhor’, e os encheu de dons e de bens. Aqui. Na terra. Agora. Ele lhes deu uma dignidade e uma privilégio imenso: os tornou seus ‘enviados’, para anunciar o Reino que ‘está no meio de nós’. Eles vivem essa fé, num mundo conturbado e perigoso. É uma virada na vida pessoal; e uma virada na vida social: uma Comunidade de Vida Nova, onde impera a Fraternidade e a Solidariedade.

A primeira leitura ressalta a experiência do povo. Contam que agora, entre nós, está acontecendo o mesmo que acontecia no tempo de Jesus: as pessoas sentem o amor de Deus na presença dos discípulos e discípulas, que curam e fazem ‘prodígios, como Jesus e em seu nome. Até a ‘sombra’ de Pedro, a orla de seu manto, tem a mesma força da sombra de Deus, do manto de Jesus. O ‘jeito de viver’, as curas e prodígios, são ações gratuitas em favor dos ‘necessitados’, em nome de Jesus. Não em seu nome. É o sinal da presença curadora de Deus, que nunca abandonará seu povo.

Só se aproximam deles os necessitados. Alguns outros os elogiam, pelas suas boas obras. Mas, nem todos se unem e se aproximam, porque falar em Jesus levará à prisão e, inclusive, à morte. É o que aconteceu com Pedro e João, que foram presos, julgados e condenados; e com Estevão e Tiago, que foram martirizados. A fidelidade a Jesus e à sua comunidade custa muito caro.

No Apocalipse, o escritor se apresenta como o ‘discípulo perseguido’. O escritor se iguala a todos os outros discípulos e discípulas: perseguido por causa de Jesus e do anúncio do Evangelho. E eles permanecem firmes, fiéis porque Jesus está vivo, porque Jesus entregou  o Espírito que o levou pela vida; e esse mesmo Espírito age na Comunidade dos discípulos e discípulas, com obras de amor, de cuidado e de serviço.

No Evangelho, João nos conta que no Dia do Senhor, Jesus aparece trazendo a paz e enviando-os a levar a paz que vem de Deus, e a anunciar o Reino, vivendo o Evangelho.Tomé não aceita a palavra de Comunidade; nem acredita na Palavra de Jesus. Também os outros não tinham aceitado a ‘conversa das mulheres’. Tomé quer tocar nas feridas do ‘ressuscitado’. Tocar nas feridas do ‘Cristo Crucificado’ Vivo produz um efeito surpreendente. Tocar nas feridas de Cristo faz com que um judeu crítico confesse e se entregue ao ‘meu Deus e Senhor’. O ‘incrédulo’ Tomé desperta para a fé ao tocar as feridas do ‘Cristo crucificado’. Confessa que aquele homem é “meu Deus (‘Adonai’) e meu Senhor”. Esse homem crucificado está vivo, o chama, o procura, se deixa tocar, o trata com carinho, com ternura, e o levanta à maior altura de uma pessoa humana. Tocar nas feridas de Jesus é condição indispensável para ter fé.

Tomé é nosso irmão querido. Sua incredulidade determina que Jesus faça a declaração mais importante para nós hoje: “Felizes os que crerão sem ter visto”. Nós teremos a alegria de crer pelo ‘testemunho’ da comunidade de irmãos e irmãs. Tomé só teve fé porque ‘tocou nas feridas do crucificado’. “A incredulidade de Tomé beneficiou mais nossa fé do que a fé dos outros discípulos”, escreveu o Papa São Gregório Magno.As feridas de Cristo. Cristo Ressuscitado não sofre mais perseguição e morte. Mas seus ‘irmãos menores’ sofrem hoje muito e com muita crueldade. A fé só virá se tocarmos as feridas dos crucificados de hoje.Este domingo foi declarado pelo papa S. João Paulo II como o Domingo da Divina Misericórdia. Pois Deus é o Pai de todas as misericórdias. Jesus anuncia e realiza o Reino da Misericórdia. E o Espírito Santo é por essência a pura Misericórdia. Neste domingo, é bom escutar o convite de Jesus “sejam misericordiosos como o Pai é misericordioso” (Lc 6,36) e na sua declaração “Felizes os misericordiosos” (Mt 5,7)

“Não acredito em “fé sem feridas“, em uma igreja sem feridas, em um Deus sem feridas. Somente o Deus ferido poderia curar o nosso mundo ferido, através de nossa fé ferida”. (Halik)

 

Pe. José Fernandes Cobo

Vigário da Paróquia São Francisco de Assis