Domingo de Ramos

HOSANA AO FILHO DE DAVI

O Domingo de Ramos é o portal da Semana Santa. Entramos hoje numa Semana muito especial, a Semana das Semanas, pois estamos chegando ao final da peregrinação Quaresmal, da travessia do deserto e da chegada à terra prometida, simbolizada na Páscoa do Senhor. Agora vislumbramos a Páscoa do Senhor numa liturgia que reúne todo o mistério pascal, numa espécie de síntese da semana que ora se inicia. Assim, antes de celebrar a Páscoa propriamente dita, passaremos pela morte e ressureição, contida na narração da Paixão.

            Seguimos durante quarenta dia os passos de Jesus até o Calvário.  Caminhamos com ele; vimos e ouvimos os seus ensinamentos; experimentamos muitas emoções durante esses quarenta dias. Hoje, entramos com ele em Jerusalém. Ele entra de modo triunfal e nós estendemos nossos ramos por onde ele passar. Aclamaremos” hosana no mais alto dos céus” e participaremos da Ceia com ele, comungando do seu corpo e do seu sangue na Eucaristia. Porém, temos que tomar muito cuidado de não sairmos por aí crucificando nossos irmãos com nossas palavras e ações.

            Vemos, neste primeiro evangelho, que sua entrada triunfal não consiste em pompas e circunstâncias, mas na simplicidade de um Rei que se mostra cada dia mais diferente de qualquer outro Rei. É o Rei da glória, o Rei do universo, o Rei dos reis, mas humilde como os mais humildes da terra. A supremacia desse rei está no serviço, como bem veremos na Quinta-feira Santa, quando ele lavar os pés dos discípulos.

            Assim esse primeiro evangelho de hoje revela os traços desse Rei. Um Rei que entra em Jerusalém montado num jumentinho, o meio de transporte dos pobres. Não é teatro; não é um político se fazendo de igual aos pobres para angariar o voto dos pobres; não é falsa humildade; é esvaziamento de si, é quenosis. Muitos talvez esperassem a entrada de um rei cheio de aparatos reais, numa carruagem própria de reis, mas ele surpreende entrando montado em um jumentinho, igual a tantos pobres. Enquanto passava, as pessoas estendiam no caminho roupas e ramos de oliveira, gesto que ainda hoje fazemos, enfeitando nossas igrejas com ramos e os abençoando, como memoria simbólica do reconhecimento desse rei. Porém, muitos que fizeram esse gesto, depois gritaram “crucifica-o”, quando ele estava sendo julgado. Alguns o aclamaram rei, equivocadamente, pensando ser ele o Messias da Concepção judaica; outros fizeram porque conseguiram ver nele o verdadeiro Rei, o Filho de Deus.  

            Com qual desses nós nos assemelhamos? Como procedemos?

            Vamos à missa no Domingo de Ramos, benzemos nossos ramos, aclamamos hosanas nas alturas, mas nem sempre somos coerentes com tais procedimentos. De nada adianta praticar todos esses rituais religiosos e devocionais se depois gritamos “crucifica-o”, através de nossos procedimentos com nossos irmãos.

            Nós gritamos “crucifica-o” quando prejudicamos de alguma forma o nosso próximo; quando ignoramos o sofrimento alheio; quando não temos compaixão dos que sofrem; quando não fazemos o bem, nos omitindo diante de situações que clamam a nossa participação, enfim, quando temos atitudes que desagradam a Deus, seja de participação, conivência ou de omissão nas situações que representam a crucificação de Jesus.

            Assim a liturgia do Domingo de Ramos coloca numa mesma celebração a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e a sua condenação, paixão e morte. Tudo isso para nos mostrar o quanto nós podemos ser incoerentes. Os mesmos que gritaram “hosana nas alturas” gritaram, depois,” crucifica-o”.

            O relato da Paixão desse domingo é narrado por Lucas. Na próxima sexta-feira, a Sexta-Feira da Paixão, esse relato volta para nossa celebração, porém narrado por São João. Lucas traz a cena da condenação, com toda humilhação sofrida por Jesus, mas enfatiza a presença de Deus no meio dessa dor, um Deus que não desampara, como não desampara nenhum de seus filhos sofredores. Jesus no ápice de sua dor, entrega ao Pai o seu Espírito. O espírito que guiou cristo na sua missão neste mundo agora volta para junto do Pai, na concretização de sua vida pública. De lá esse mesmo Espírito guia seus discípulos missionários, guia todo aquele que professa que Jesus é o Senhor, Rei dos reis. Assim nós adentramos a Semana Santa, guiados pelo espírito de Jesus. Com ele celebraremos o Tríduo pascal, passando pela paixão morte e ressureição. Que Essas celebrações não sejam meras celebrações de cumprimento do calendário litúrgico, mas celebrações que nos convertam profundamente a Cristo e a sua missão.

 

FREI ROBERTO MIGUEL DO NASCIMENTO

PARÓCO DA MATRIZ FRANCISCANA SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS