Ouvir o Filho Amado

Estamos no 2º domingo da quaresma. Tempo de oração, de conversão, de mudança de vida. A cor litúrgica é roxa, cor da penitencia, da busca de Deus e da fraternidade.

A Campanha da Fraternidade ilumina de modo particular os gestos fundamentais desse tempo litúrgico: a oração, o jejum e a esmola com o tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e o lema: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14).

Com este tema e lema a Igreja convida os cristãos para a caminhada de conversão neste período de quaresma. Estamos num caminho rumo à Páscoa. Já estamos no segundo domingo da quaresma. Lembramos o rosto sofrido de Jesus, mas também o rosto dos irmãos especialmente neste ano, conforme a Campanha da Fraternidade, os que são vítimas da falta de diálogo, da intolerância, do ódio e da falta de amor.

A Palavra de Deus (Mc 9,2-10) nos adentra num dos textos mais lindos e significativos para a vida: A experiência do Tabor. Assim como Moisés no alto do monte do Sinai recebeu as Tábuas da Lei como base do compromisso e da fidelidade do povo com Deus, assim Jesus sobe ao Monte Tabor e lá Ele se revela como “Filho Amado do Pai, aquém devemos escutá-lo”. Jesus não faz sozinho essa experiência, mas leva consigo Pedro, Tiago e João. Levou-os no alto de uma montanha. Faz parte da prática de Jesus, quando Jesus tinha algo importante e significativo para dizer, levar os discípulos para o alto. Assim unia palavra-ensino-rito e simbologia. Diante deles seu rosto se transfigurou, ou seja, os discípulos perceberam na experiência da fé que eles verdadeiramente estavam diante do Filho de Deus. Quem assume uma missão com amor, na família, na comunidade, na sociedade transmite rosto sereno, transformado, pois sabe que realiza uma missão não para si, mas para a família, a comunidade, para Deus.

No alto da Montanha os três Apóstolos ousaram falar. Estavam tão admirados que disseram: “É bom a gente ficar aqui, vamos fazer tendas e ficar sempre neste lugar”. Neste clima ouviram a voz de Deus “Este é meu Filho muito amado, escuta-o”. Os três Apóstolos perceberam que não estavam apenas diante de um Mestre, mas diante do próprio Filho de Deus que se revela e que anuncia ao mundo a sua missão salvadora.

Em nossa vida, somos chamados a escutar e seguir a voz do Filho Amado Jesus.

Hoje são muitas vozes que falam. E de tantas vozes nem sempre sabemos qual a voz que realmente orienta a vida. Por isso é preciso ter a mente, o coração, o olhar e a vida voltada para Jesus. Ele é a certeza a salvação e da vida plena. Os discípulos queriam ficar no alto da montanha. Mas Jesus desceu a montanha. Este é um simbolismo expressivo. Jesus não quis ficar no alto da montanha, mas descer para dizer aos discípulos que a missão a que eles estavam sendo preparados não era de montanha, de honraria, de grandeza, mas sim, nas baixadas, na realidade da vida do povo, no conflito, no martírio, na doação da vida por causa do Evangelho.

Papa Francisco ensina: O evento da Transfiguração do Senhor oferece-nos uma mensagem de esperança: convida-nos a encontrar Jesus, para estarmos ao serviço dos irmãos. A subida dos discípulos para o Monte Tabor leva-nos a refletir sobre a importância de destacarmo-nos das coisas mundanas, para percorrermos um caminho para o alto e contemplar Jesus. Trata-se de dispormo-nos à escuta atenta e orante de Cristo, o Filho amado do Pai, procurando momentos íntimos de oração que permita o acolhimento dócil e alegre da Palavra de Deus. Neste sentido, somos chamados, observa ainda Francisco, a redescobrir o silêncio pacificador e regenerador da meditação do Evangelho que conduz para uma meta rica de beleza, de esplendor e de alegria.

São Paulo (Rm 8,31-34) ensina que os “discípulos sentem a certeza de que Deus está ao eu lado, mesmo nas tribulações, nos sofrimentos, no martírio, no cansaço, nas fadigas. A missão não é nossa, é de Deus. Ele nos chama e nos convoca para seguir o filho amado do Pai e sermos anunciadores da boa notícia que Jesus veio trazer”. Neste tempo de quaresma, segundo domingo, como um segundo degrau, somos convidados a intensificar nosso compromisso de conversão, de amor aos irmãos e de intensificar o compromisso de evangelizadores.

Rezemos a Oração da Campanha da Fraternidade:

Deus da vida, da justiça e do amor, Nós Te bendizemos pelo dom da fraternidade por concederes a graça de vivermos a comunhão na diversidade.

Através desta Campanha da Fraternidade Ecumênica, ajuda-nos a testemunhar a beleza do diálogo como compromisso de amor, criando pontes que unem em vez de muros que separam e geram indiferença e ódio.

Torna-nos pessoas sensíveis e disponíveis para servir a toda a humanidade, em especial, aos mais pobres e fragilizados, a fim de que possamos testemunhar o Teu amor redentor e partilhar suas dores e angústias, suas alegrias e esperanças, caminhando pelas veredas da amorosidade. Por Jesus Cristo, nossa paz, no Espírito Santo, sopro restaurador da vida. Amém.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes bênçãos sobre cada um de nós. Confortai com vossa bondade os que trabalham em favor da vida ajudando os sofredores e abandonados a reencontrarem a dignidade e o gosto de viver. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo de Rondonópolis-Guiratinga