Caminhar para o Diálogo e a Fraternidade

QUARESMA E FRATERNIDADE 

 

Quaresma. “Eis o tempo de conversão. Buscai o Senhor Deus”. Estamos no 1º domingo da quaresma, tempo de fraternidade e de reconciliação com Deus e com os irmãos/ãs. A quaresma lembra os quarenta anos do Povo de Deus no deserto e nos convida a reviver os quarenta dias que Jesus passou no deserto em jejum e penitencia, preparando-se para a missão. Apresenta-se como tempo de conversão e de renovação em preparação à Páscoa. Tempo de abrir o coração e voltar a Deus, aos irmãos, à comunidade, à família para retomar o caminho e se abrir à graça de Deus que nos ama, acolhe e perdoa. A Campanha da Fraternidade ilumina de modo particular os gestos fundamentais desse tempo litúrgico: a oração, o jejum e a esmola. Neste ano, o tema da Campanha é “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e o lema: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade (Ef 2,14).

A Palavra de Deus (Mc 1,12-15) situa Jesus durante quarenta dias no deserto em contato com o Pai e se preparando para a missão. Estava em Jejum. No deserto. Em silencio. Deserto é espaço do silencio, do despojamento, de sobreviver com o mínimo. E nesta realidade Jesus foi tentado pelo demônio.

Também somos convidados por Jesus para ir ao deserto da quaresma para nos fortalecer contra as tentações, do desanimo, da falta de fé, da falta de diálogo, da intolerância, do ódio, do abandono da comunidade, da injustiça e de toda forma de violência. Superar as tentações da corrupção, do roubo, da infidelidade, da violência, da exploração, da destruição da natureza. Precisamos sair do deserto e caminhar para terras da fraternidade, da Palavra de Deus, da vida nova em Jesus Cristo.

Somos amados e salvos por Jesus Cristo. A graça de Deus está dentro de nós. Porem, sente-se a tentação do poder, da última palavra, da ganância, do esquecimento dos pobres, dos povos indígenas, dos maltrapilhos. Por vezes o orgulho ocupa nossa vida. Abandona-se a comunidade. Advém o desleixo com a família, cruzamos a linha dos valores, da ética e adentra-se na corrupção. Deixarmo-nos vencer pela tentação que desfigura o homem e a mulher criados à imagem e semelhança de Deus. Nossa vida é fruto do sopro divino do Criador. Por vezes, somos tentados a abandonar o projeto de Deus, o caminho de Jesus, a vida da comunidade eclesial para deixamos nos envolver com quem tem suas bases na corrupção, no poder, na dominação e no egoísmo. Esse não é o caminho do cristão.

A Palavra de Deus reflete em torno das tentações de Jesus e das nossas tentações. Jesus retirou-se para o deserto. Espaço para ler a realidade e perceber no coração o que Deus está falando. Há certos momentos na vida em que o ser humano necessita de deserto para dar um tempo para si, para rever a vida, olhar para seu interior, colocar-se no caminho de conversão e perceber a vontade de Deus. “Deserto é lugar de passagem e não de permanência”. E Jesus foi ao deserto. Durante 40 dias se colocou em jejum, oração, em penitência e em contato com Deus para sentir a abrangência de sua missão. “O deserto é lugar de fortalecer as decisões e tornar as convicções mais sólidas. Deserto é lugar de descobrir as atitudes que marcam a vida”.

Depois de quarenta dias no deserto Jesus enfrentou a tentação entre ser fiel ao projeto do Pai, ou realizar o seu próprio projeto por caminhos mais fáceis. Jesus venceu as tentações e através de sua morte e ressurreição, torna-se para nós aquele que nos livra das tentações, do erro e do pecado. A quaresma é tempo para olhar dentro de nós e reconhecer quais as tentações que desalinham a nossa vida e que necessitam de conversão.

São Pedro (1Pd 3,18-22) nos reanima dizendo que “Cristo morreu afim de nos conduzir a Deus”. Jesus é a fonte da vida e nele encontramos forças para viver com alegria e superar as tentações que por vezes assolam a vida.

O Papa Francisco nos recorda: “Não é um bom cristão quem não faz justiça com as pessoas que dependem dele”. E não é um bom cristão aquele que não se despoja de algo necessário para dar ao próximo, que precisa. É necessário olhar para a Quaresma como o tempo de abrir o coração “para quem errou”. “O que posso fazer pelas crianças, pelos idosos que não têm possibilidade de ter uma consulta com um médico; que esperam horas e horas e depois têm que voltar uma semana depois”?

Nesta perspectiva a Igreja Católica no Brasil iniciou a 57º Campanha da fraternidade ecumênica com o tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e o lema: “Cristo é a nossa paz: do que era dividi fez uma unidade (Ef 2,14). E o povo canta o hino CF 2021:

  1. Venham todos, vocês, venham todos, Reunidos num só coração, (cf. At 4, 32)

/: De mãos dadas formando a aliança, Confirmados na mesma missão. (bis)

Em nome de Cristo, que é a nossa paz! Em nome de Cristo, que a vida nos traz:

Do que estava dividido, unidade ele faz!(bis) (cf. Ef 2,14a)

  1. Venham todos, vocês, meus amigos, Caminhar com o Mestre Jesus,

/: Ele vem revelar a Escritura Como fez no caminho à Emaús. (cf. Lc 24) (bis)

  1. Venham todos, vocês, testemunhas, Construamos a plena unidade

/: No diálogo comprometido Com a paz e a fraternidade. (bis)

  1. Venham todos, mulheres e homens, Superar toda polaridade,

/: Pois em Cristo nós somos um povo, Reunidos na diversidade. (bis)

  1. Venham jovens, idosos, crianças E vivamos o amor-compromisso

/: Na partilha, no dom da esperança E na fé que se torna serviço. (bis)

 

Rezemos a Oração da Campanha da Fraternidade:

 

Deus da vida, da justiça e do amor, Nós Te bendizemos pelo dom da fraternidade por concederes a graça de vivermos a comunhão na diversidade.

Através desta Campanha da Fraternidade Ecumênica, ajuda-nos a testemunhar a beleza do diálogo como compromisso de amor, criando pontes que unem em vez de muros que separam e geram indiferença e ódio.

Torna-nos pessoas sensíveis e disponíveis para servir a toda a humanidade, em especial, aos mais pobres e fragilizados, a fim de que possamos testemunhar o Teu amor redentor e partilhar suas dores e angústias, suas alegrias e esperanças, caminhando pelas veredas da amorosidade. Por Jesus Cristo, nossa paz, no Espírito Santo, sopro restaurador da vida.

Amém.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes bênçãos sobre cada um de nós. Confortai com vossa bondade os que trabalham em favor da vida ajudando os sofredores e abandonados a reencontrarem a dignidade e o gosto de viver. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

 Bispo de Rondonópolis-Guiratinga.