O Jejum que agrada a Deus

QUARESMA

 

Quaresma, na tradição cristã, é período de conversão e de autorreflexão sobre a vida paixão, morte e ressurreição de Jesus. São 40 dias dedicados à oração, ao jejum, à partilha do pão e à conversão pela revisão de nossas práticas e posturas diante da vida, do planeta e das pessoas.

É a prática da contrição, isto é, o momento de arrependimento dos pecados cometidos e o reconhecimento de que esses pecados são uma ofensa ao Deus amor. A contrição não tem relação com o medo de ser castigado por Deus, mas é resultado da graça de Deus, que nos permite o reconhecimento de nossos pecados e o sincero arrependimento. Deus nos perdoa porque é amor misericordioso. O jejum é parte integrante da espiritualidade quaresmal. Há muitas formas de jejuar, mas o jejum que agrada a Deus é apresentado em Isaías (58,6-8) que nos ensina que jejuar é “desatar os laços provenientes da maldade, desamarrar as correias do jugo, dar liberdade aos que estavam curvados, em suma, que despedaceis todos os jugos”. É partilhar o teu pão com o faminto. E ainda! Os pobres sem abrigo tu os albergarás, se vires alguém nu, cobri-lo-ás: diante daquele que é a tua própria carne, não recusarás. Então a tua luz despontará como a aurora, e o teu restabelecimento se realizará bem depressa. “Tua justiça caminhará diante de ti e a glória do Senhor será a tua retaguarda”.

A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 com o tema: “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2.14) quer ser um convite para viver um jejum que agrada a Deus e que conduz à superação de todas as formas de intolerância, racismo, violências e preconceitos. Queremos que nosso arrependimento contribua para assumirmos outras posturas em relação a cada pessoa que encontrarmos ao longo do caminho e que, ao longo dos 40 dias da quaresma. Perguntemo-nos: nossa prática cristã promove a paz ou potencializa o ódio? Esperamos que este seja um tempo que nos ajuda a testemunhar e anunciar com a própria vida que Cristo é a nossa paz, adotando comportamentos de acolhida, de diálogo, de não violência e antirracistas.

Quaresma é o período de quarenta dias que se inicia na 4ª feira de cinzas e termino com a celebração do tríduo pascal. É um tempo que marca profundamente a vida dos cristãos em especial a conversão, a oração, a solidariedade. Durante os quarenta dias que precedem a Semana Santa, os cristãos dedicam-se à reflexão, à conversão e a gestos concretos. A cruz de Jesus está presente e o olhar do cristão se volta para a cruz e nela vê o sofrimento de Jesus e os sofrimentos da humanidade.

Na Bíblia, o número quarenta é citado, para representar períodos de 40 dias ou 40 anos, que antecedem ou marcaram fatos importantes: Por 40 dias aconteceu o dilúvio e Noé se salvou através da Arca. Por 40 anos o Povo de Israel peregrinou pelo deserto antes de chegar à terra prometida. Moisés permaneceu por 40 dias no Monte Sinai donde trouxe as Tabuas da Lei. Jesus jejuou por 40 dias no deserto, antes do início do seu ministério.

 Conforme ensina o Catecismo da Igreja Católica (CIC), “esses tempos são particularmente apropriados aos exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinações em sinal de penitência, às privações voluntárias como o jejum e à esmola, à partilha fraterna, obras de caridade e missionárias” (CIC, nº 1.438). É um tempo de renascimento espiritual e de renovação na fé, da caridade, em que se pede aos cristãos a conversão, a dedicação e o interesse pelas coisas de Deus, da Igreja, da família, da vida pessoal correta. Pede-se também maior participação na comunidade, na confissão, na participação da missa, da visita aos doentes e sofredores.

Fechar o coração ao dom de Deus que nos fala traz como consequência um coração fechado ao dom do irmão. Não basta somente fazer suas práticas de penitência; se as for fazer, ofereça-as por alguém; se fizer jejum de alguma comida, cuide de oferecê-la a algum pobre; tente também fazer penitência de não falar palavrões ou não falar mal do seu próximo; se tiver brigado com alguém, procure-o nesse tempo e se reconcilie, perdoe, peça perdão e dedique esse tempo para meditar a Paixão de Cristo” nos ensina com palavras simples o Papa Francisco.

 

 

Dom Juventino Kestering

Bispo diocesano

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