A casa lugar de acolhida

JESUS SE ACONCHEGAVA NOS LARES  

 

Estamos no 5º domingo do tempo comum. Verde é a cor litúrgica. Tempo de esperança.

As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (CNBB 2015-2019) ressaltam a casa como espaço para evangelização. A casa é simbólica, significativa. Expressa vida. Segurança. Aconchego. Ter uma casa, residir numa casa, ter um endereço é o sonho de toda pessoa. Nesta perspectiva situa-se a Palavra de Deus neste 5° domingo do tempo comum.

Jesus saiu da Sinagoga… e foi para a casa de Simão (Mc 1,29-39). Sinagoga era lugar de oração e de leitura das Escrituras, mas lugar coletivo e por vezes seletivo. Saiu da sinagoga e foi para a casa de Simão e André. Sair da sinagoga e ir para casa como lugar da acolhida, da proximidade, das relações familiares, do diálogo interpessoal, do tom de conversa e de troca de experiência. Um fato marcou a presença de Jesus na casa de Pedro. A sogra estava doente, com febre e acamada. Quem tem a experiência de uma pessoa doente em sua casa sabe do cuidado e da atenção que ela necessita. Não foi diferente com Pedro. Logo contaram a Jesus que havia uma pessoa doente na casa. Jesus toma a iniciativa e se aproximou e segurou-a com a mão. Que belo gesto: Aproximar-se! Tornar-se próximo. Sim as relações fraternas e humanizadas requerem esta atitude de aproximar. É gesto de despojamento, de querer bem do outro. “Jesus aproximou-se, estendeu a mão, ajudou-a sentar-se. Então a febre desapareceu e ela começou a servi-los”.

Quando Jesus realiza uma cura ou faz um milagre não o faz simplesmente para realizar uma cura ou um milagre, muito menos para fazer um espetáculo. A mulher curada, como gesto de gratidão passa a servir, a ajudar e a fazer algo na comunidade. Somos testemunhas de fatos semelhantes. Quantas famílias têm pessoas doentes e pedem por telefone, internet, por WhatsApp e outros meios para que todos se ponham em corrente de oração. Até aqui tudo bem. Depois de alguns dias a pessoa recupera a saúde. Por vezes ninguém pede para agradecer e muitas vezes a pessoa que estava doente, em vez de se tornar mais fraterna, ajudar os necessitados, ir ao encontro dos irmãos, fazer um processo de conversão pela graça recebida, por vezes novamente se fecha em si mesma e nem profere obrigado a Deus. Não foi esta a atitude da sogra de Pedro. Ela foi curada e passou a servir.

Papa Francisco na Encíclica “Laudato Si” amplia a visão de casa dizendo “somos chamados a redescobrir o sentido do respeito sagrado pela terra, porque não é apenas a nossa casa, mas também a casa de Deus”.

Relata o Evangelho que diante deste fato “a cidade inteira e reuniu em frente da casa”. Como é bonito quando as pessoas se reúnem nas casas para ler a Palavra de Deus, para uma reflexão bíblica, rezar um terço, reunir-se num grupo de família. Assim a igreja se torna viva a partir da casa. A fé cristã nasceu nas casas. Os apóstolos pregavam nas Sinagogas, mas foi nas casas que o Evangelho se irradiou e de difundiu.

Após presença na casa de Pedro, Jesus, ainda de madrugada, foi para o deserto e se pôs a rezar. As multidões vieram procurá-lo. Os apóstolos diziam: “Mestre, todos estão te procurando“. Porem Jesus, consciente de sua missão respondeu: “Vamos a outros lugares, às ladeias da região. Devo pregar também aí, pois foi para isso que eu

vim. E andava por toda Galiléia“. Jesus era um peregrino que andava por todas as regiões. Assim ele ensina como deve ser  os missionários e missionárias. Às vezes queremos que os outros venham ao nosso encontro, mas de nossa parte não vamos ao encontro dos irmãos.

São Paulo, consciente do compromisso e da missão assim se expressava: “Pregar o Evangelho não é para mim um motivo de glória. É antes uma necessidade para mim. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho” (ICor 9,16). O mesmo compromisso que Paulo tinha com suas comunidades é o nosso compromisso. Ele se sentiu chamado por Jesus e enviado em missão. Somos chamados por Jesus pelo batismo e temos a missão de evangelizar, de promover a vida, de ir ao encontro. Cada cristão é chamado a ser evangelizador. Essa é a necessidade do tempo atual da Igreja. O papa Francisco insiste na Igreja em saída: Ir ao encontro, sair da vida cômoda, acompanhar, discernir, organizar, articular, integrar, animar para superar a anemia pastoral.

A Igreja continua a ação evangelizadora de Jesus: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa-Nova a toda criatura” (Mc 16,15). “A Igreja preserva com grande cuidado esta pregação, esta fé que recebeu, como se habitasse uma só casa; embora disseminada por todo o mundo, acredita em tudo isto de forma idêntica em toda a parte, como se tivesse ‘um só coração e uma só alma’ (At 4,32), prega, ensina e transmite esta mensagem com voz humana, como se tivesse uma só boca. As línguas faladas no mundo são diversas, mas a força da tradição é uma e a mesma”  (Diretrizes CNBB).

Rezemos com a Igreja: Velai, ó Deus, sobre a vossa família com incansável amor; e como só confiamos na vossa graça, guardai-nos sob a vossa proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”. Amém

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes bênçãos sobre cada um de nós. Confortai com vossa bondade os que trabalham em favor da vida ajudando os sofredores e abandonados a reencontrarem a dignidade e o gosto de viver. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo de Rondonópolis-Guiratinga.