“Ouço uma voz lá no deserto”

JOÃO BATISTA, ANUNCIA O SENHOR

 

            Estamos no terceiro domingo do advento. Tempo de preparação para o Natal. A Palavra de Deus (Jo 1,6-28) apresenta João Batista, sua missão, seu testemunho. “Homem enviado por Deus… veio como testemunha da luz… Voz que grita no deserto… Aquele que aponta para Jesus e adverte: Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis e que vem depois de mim. Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias”.

Conforme Pe. Paulo Bazaglia, “O terceiro domingo do Advento é conhecido como “domingo da alegria” e nos convida a alegrar-nos no Senhor, pois sua vinda se aproxima. A alegria cristã tem um fundamento: a certeza de que Jesus é a Luz que ilumina os caminhos e as realidades, é o Messias e Profeta que batiza no Espírito Santo para recriar a humanidade segundo o projeto de Deus.

João Batista testemunhou, como ninguém, a vinda dessa Luz. Sua missão inspira cada cristão a viver como testemunha da Luz. Pois é Jesus o início, o fim e o centro; e nossa missão só tem sentido se fundamentada em Jesus e direcionada a ele.

O verdadeiro encontro com Jesus nos leva a reconhecê-lo como aquele que vem da parte de Deus na dignidade de Messias. É encontro que leva necessariamente ao encontro dos outros, sobretudo dos pequenos, a quem Jesus veio revelar a Boa-nova.

O Advento é tempo especial para preparar o caminho do Senhor. Preparamos a vinda preparando nosso coração, com a conversão da mente, assumindo hoje os mesmos sentimentos de nosso Senhor. Podemos ser então, como João Batista, voz profética que, transformando o coração, ilumina e transforma as realidades. Pois no batismo é no Espírito, que transforma e santifica. E não pode haver maior alegria, para os cristãos, do que encontrar Jesus encontrando os menores do Reino.

O mundo está cansado de palavras e carente de testemunhos. Evangelizar é testemunhar a alegria de seguir Jesus, é expressar a certeza de que Deus vem caminhar conosco e nos ajuda a espalhar a luz do seu projeto de vida, vencendo as trevas da injustiça e da morte. De fato, a alegria cristã é uma das mais autênticas expressões de nossa fé, e chegamos a ela assumindo atitudes fundamentais como a do Bom Pastor ou a do Bom Samaritano. Pois a verdadeira e duradoura alegria nós sentimos somente pela via dos pobres e mais necessitados, e isso só é possível se buscamos e incluímos tais pessoas em nossa vida”. (Pe. Paulo Bazaghia, ssp, in Liturgia diária, pagina 52 ano 29 nº 348).

João tem convicção de sua identidade e proclama sua missão como: “Eu sou a voz que clama no deserto”. Clamar no deserto é fazer ecoar mais longe, é fazer brotar vida de onde parece que tudo está seco. A voz no deserto anuncia que “o orvalho, a gota de chuva” que é Jesus vai cair na terra árida da humanidade e vai fazer brotar vida, esperança, fraternidade, salvação. Voz no deserto, cujo grito gera esperança. Por isso “aplainai os caminhos” da sociedade, dos corações humanos para acolher Aquele que é Caminho: Jesus. Aqueles que acolhem a Palavra, “receberam o poder de se tornarem filhos de Deus, os que creem em seu nome” (Jo 1,12). João Batista veio para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem. Crer na Luz é deixar-se iluminar por Ela para seguir os passos da luz que é Jesus.

O profeta Isaias (61,1-11) nos ensina: “O espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para dar a boa-nova aos humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção para os cativos e a liberdade para os que estão presos; para proclamar o tempo da graça do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que choram, apara reservar e dar aos que sofrem por Sião uma coroa, em vez de cinza, o óleo da alegria, em vez da aflição”. Aquele que foi apontado por João Batista no deserto, aquele que é a luz que brilha, aquele que nasce na noite de natal, vem ao mundo como filho amado de Deus e salvador da humanidade. Ele é esperança, vida, salvação. Vem trazer ao mundo o “óleo da alegria”, o “tempo da graça”, “curar as feridas”, “salvar a humanidade”. É Jesus.

Rezemos com a Igreja: “Ó Deus de bondade, que vedes o vosso povo se preparando fervoroso para o natal do Senhor, dai chegarmos às alegrias da salvação e celebrá-las sempre com intenso júbilo na solene na liturgia”. Por nosso Senhor Jesus Cristo…

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes bênçãos sobre cada um de nós. Confortai com vossa bondade os que trabalham em favor da vida ajudando os sofredores e abandonados a reencontrarem a dignidade e o gosto de viver. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo de Rondonópolis-Guiratinga.