Lâmpadas acesas para iluminar

Estamos no 32º domingo do tempo comum. A cor litúrgica dos paramentos e do espaço celebrativo é verde. Cor da esperança, da vida que se renova cada dia.

 

No evangelho, (Mt 25,1-13) Jesus contou a seus discípulos esta parábola: “0 Reino dos céus é como a história das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo e saíram ao encontro do noivo. Cinco delas eram imprevidentes e as outras cinco eram previdentes”. Como filhos e filhas de Deus, através do nascimento e em especial através do batismo recebemos o dom de ser previdente, de cuidar, de deixar a lâmpada acesa. Assim no dia do batismo, da crisma e em outros momentos significativos se segura uma vela acesa simbolizando que não caminhamos nas trevas, mas na luz, iluminados pela luz que é Jesus. Na realidade atual, multidão de homens e mulheres, adultos, jovens e crianças vivem uma realidade social, econômica, cultural e familiar de forma complexa. É o desemprego que desfigura a dignidade da pessoa humana; é a pandemia Covid19 que gera medo, perdas e insegurança; é a corrupção que corrói a economia; é a má administração pública que joga pelo ralo, recursos que depois faltam para saúde, educação, segurança, lazer. Há muitos caminhos e artimanhas para deixar o povo sem azeite, sem salário, sem segurança e sem força para viver com dignidade.

As jovens imprevidentes, além de deixar a lâmpada apagar também adormeceram. E o papa Francisco ensina: “É um convite a não adormecer, para não se esquecer de Deus” – porque “a vida dos cristãos adormecidos é uma existência triste”.

A luz da fé, em especial dos mais simples tem um coração generoso quando alguém suplica: “Dai-nos um pouco de óleo, porque nossas lâmpadas estão se apagando”. A caridade, a solidariedade, a partilha é uma das características dos seguidores de Jesus Cristo. Na Igreja primitiva o sinal externo do ser cristão era a caridade com os pobres, peregrinos, caídos à beira da estrada. E o evangelho conclui: “Entraram com ele para a festa de casamento. E a porta se fechou”.  Porém Jesus veio nos dizer: “Eu sou a portaQuem bater ela se abrirá”. Para quem tem esperança e procura seguir os caminhos de Jesus não há porta fechada. Sempre há esperança de uma fresta aberta por onde passa um raio de luz. É pelas frestas e rachaduras que passam os raios de luz.

Cada pessoa reflete em sua vida uma lâmpada. É alimentada pela fé, pela participação na comunidade, com uma vida ética, com oração, com justiça, com a participação nos sacramentos, na caridade, na justiça e no anúncio do evangelho. Assim a lâmpada da fé permanece acesa, “mesmo que soprem ventos contrários”. Mas quando desleixamos a vida cristã, nos afastamos de Jesus, da comunidade cristã, dos valores cristãos, da justiça, para a lâmpada de nossa vida corre o risco de faltar o azeite. E a chama vai se apagando, a fé vai se enfraquecendo e a comunidade vai sendo abandonada. E assim aos pouco a vida cristã torna-se fria e estéril. “Daí a importância da vigilância enquanto estamos a caminho para não desperdiçar as oportunidades que Deus nos dá para estarmos sempre em comunhão com Ele, com lâmpadas acesas”. Isso requer conforme nos ensina o livro da Sabedoria (6,12-16), “sabedoria que é resplandecente e sempre viçosa. Ela é facilmente contemplada por aqueles que a amam, e é encontrada por aqueles que a procuram. Ela até se antecipa, dando-se a conhecer aos que a desejam”.

Neste domingo a liturgia ensina a buscar também a sabedoria que vem de Deus. São Paulo nos exorta: “Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria” (1Cor 12,8). No sacramento da crisma, na oração da imposição das mãos, invoca-se o dom da sabedoria que nos concede a graça de saber apreciar as coisas de Deus. Sabedoria para compreender os mistérios da criação em especial da pessoa humana.

A liturgia lembra que já estamos caminhando para o final do ano litúrgico. Na carta de São Paulo aos Tessalonicenses (1Tes 4,13-18), São Paulo exorta: “Irmãos, não queremos deixar-vos na incerteza a respeito dos mortos, para que não fiqueis tristes como os outros, que não têm esperança. Se Jesus morreu e ressuscitou -e esta é nossa fé, de modo semelhante Deus trará de volta, com Cristo… Exortai-vos, pois, aos outros com essas palavras”. Faz bem uma reflexão sobre o sentido da vida, mas acima de tudo a fé e a certeza de que em Cristo viveremos.

Rezemos com a Igreja: Deus de poder e misericórdia, afastai de nós todo obstáculo para que, inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filhona unidade do Espirito Santo. Amém….

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes bênçãos sobre cada um de nós. Confortai com vossa bondade os que trabalham em favor da vida ajudando os sofredores e abandonados a reencontrarem a dignidade e o gosto de viver. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo de Rondonópolis-Guiratinga