Amar de Todo Coração

AMAR DE TODO CORAÇÃO

 

Estamos no 30º domingo do tempo comum, A cor dos paramentos e do espaço celebrativo é verde. Cor da esperança, da vida que renasce.A Palavra de Deus atinge diretamente a nossa vida. O livro do Êxodo ensina: “Não oprimas, nem maltrates o estrangeiro, pois vós fostes estrangeiros na terra do EgitoNão façais mal algum à viúva, nem ao órfão. Se maltratardes, gritarão por mim e eu ouvirei o eu clamor” (Ex 22,21). A preocupação da Bíblia, no Antigo Testamento vai em direção dos pobres, o cuidado pelos sofredores, pelos desvalidos e desamparados. Deus está presente em cada pessoa. E quando ofendemos a pessoas estamos ofendendo ao próprio Deus.

O Evangelho (Mt 22, 34-40) exorta sobre o maior mandamento. Jesus resume tudo em duas frases. O primeiro mandamento é: “Amarás o Senhor teu Deus de toda sua alma e de todo teu entendimento e o segundo mandamentos é este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. E Jesus conclui que nestas duas direções está o resumo de tudo: amar a Deu amar o próximo. Mas amar de verdade, com todo o sentimento, entendimento, corpo e alma. De certa maneira há uma tendência e mesmo a prática de se amar a Deus e exigir que Deus faça tudo por nós, mas de não amar o irmão, especialmente o pobre, aquele que pensa diferente de mim, ou aquele que eu julgo que é pecador. “O amor é o centro da vida nutrida em Deus, pois Deus é amor” (cf 1Jo 4,8).

O apóstolo Paulo ensina que se andamos no caminho de Deus, vivemos o amor que gera vida, “Toda a lei se resume neste único mandamento: amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5,14), pois “o amor é o cumprimento pleno da lei” (Rm 13,10). Somente o amor é absoluto e dá sentido à vida. O amor é critério para a vida, para as ações, julgamento e decisões”. A fé católica está intimamente ligada entre o amor a Deus e o amor aos irmãos. Deus se identifica e está presente em cada irmão. Quem ofende o irmão está ofendendo o próprio Deus. Essa é a novidade trazida por Jesus Cristo: Deus está presente em cada pessoa, em cada rosto humano.

Papa Francisco ensina: “Portanto, quando vivemos a mística de nos aproximar dos outros com a intenção de procurar o seu bem, ampliamos o nosso interior para receber os mais belos dons do Senhor. Cada vez que nos encontramos com um ser humano no amor, tornamo-nos capazes de descobrir algo de novo sobre Deus. Cada vez que os nossos olhos se abrem para reconhecer o outro, ilumina-se mais a nossa fé para reconhecer a Deus. Em consequência disto, se queremos crescer na vida espiritual, não podemos renunciar a ser missionários” (EG, n. 272)

São Paulo aos Tessalonicenses (1Tes 1,5-10) nos instrui: “E vós vos tornastes imitadores nossos e do Senhor Jesus, acolhendo a Palavra com alegria do Espírito Santo, apesar de tantas tribulações”. Pela ação missionária a Palavra de Deus foi chegando às comunidades e elas foram se fortalecendo e se tornando comunidades missionárias. O fruto do amor se traduz em gestos concretos a favor da pessoa: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a criação do mundo. Pois tive fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Era sem teto e me acolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me” (Mt 25,34-36).

Papa Bento XVI recorda: “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1Jo 4, 16). Estas palavras exprimem o centro da fé cristã: a imagem cristã de Deus e a imagem do homem e do seu caminho.  “O amor do próximo fundamenta-se no amor de Deus”. A palavra amor está muito desgastada. Recuperar o verdadeiro sentido do amor a Deus, as pessoas, amor na família, entre o casal, o respeito à dignidade da pessoa, faz parte do projeto de vida dos cristãos. Pois somente ao amor é capaz de transformar a vida, a sociedade.

A Carta Encíclica “Fratelli Tutti (Todos Irmãos) do Papa Francisco ensina: ”O ser humano está feito de tal maneira que não se realiza, não se desenvolve, nem pode encontrar a sua plenitude «a não ser no sincero dom de si mesmo» aos outros. E não chega a reconhecer completamente a sua própria verdade, senão no encontro com os outros: “Só comunico realmente comigo mesmo, na medida em que comunico com o outro». Isso explica por que ninguém pode experimentar o valor de viver, sem rostos concretos a quem amar. Aqui está um segredo da existência humana autêntica, já que «a vida subsiste onde há vínculo, comunhão, fraternidade; e é uma vida mais forte do que a morte, quando se constrói sobre verdadeiras relações e vínculos de fidelidade. Pelo contrário, não há vida quando se tem a pretensão de pertencer apenas a si mesmo e de viver como ilhas: nestas atitudes prevalece a morte”.(FT 87)

Rezemos com a Igreja: Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes bênçãos sobre cada um de nós. Confortai com vossa bondade os que trabalham em favor da vida ajudando os sofredores e abandonados a reencontrarem a dignidade e o gosto de viver. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo de Rondonópolis-Guiratinga