Trabalhar na vinha do Senhor

Estamos no 25º domingo do Tempo Comum. Cor dos paramentos e do espaço celebrativo é verde. Cor de vida, de esperança. Ainda no tempo de pandemia com o distanciamento social e cuidados ordenados pela vigilância sanitária para evitar a proliferação do Covid 19.

 

O evangelho (Mt 20, 1-16) nos convida a refletir sobre a diferença  entre “A justiça humana, por vezes tendenciosa em favor do favorecido e a justiça do Reino de Deus”. Quando a justiça é justiça? Por que por vezes é tendenciosa em favor dos poderosos?  Qual o seu parecer sobre a justiça que se vem praticando no Brasil? Por que tantas diferenças entre as classes sociais? Por que alguns são penalizados e outros recebem privilégios? Encontramos no Evangelho as bases da justiça do Reino de Deus. No centro da justiça está a pessoa humana, imagem e semelhança de Deus, na sua dignidade, não no mercado e no lucro.

“Porque estais todo o dia sem fazer nada”?  Essa é a pergunta que inquieta o coração humano, pois na realidade atual são milhões de pessoas, que talvez um dia foram batizadas, mas não cresceram no processo de iniciação à vida cristã e pararam ao longo do caminho. E hoje estão o dia todo a não fazer nada. “Que os fiéis leigos escutem o chamamento de Cristo para trabalharem na Sua vinha, para tomar parte viva, consciente e responsável na missão da Igreja”. “O Espírito Santo continua a rejuvenescer a Igreja, suscitando novas energias de santidade e de participação em tantos fiéis leigos na participação ativa na liturgia, no anúncio da Palavra de Deus e na catequese; a multiplicidade de serviços e de tarefas confiadas aos fiéis leigos e por eles assumidas; o florescimento de grupos, associações; a participação cada vez maior e significativa das mulheres na vida da Igreja” (cf SJP II).

Convite importante: “Ide também vós para minha vinha”. Todos os batizados são convidados a trabalhar na vinha, que é este vasto mundo onde a Igreja está inserida. Tem a mesma missão de Jesus Cristo: Anunciar o Evangelho da vida, da esperança da salvação a todos os povos, culturas e raças. “A participação dos fiéis leigos na missão de Cristo – Sacerdote, Profeta e Rei encontram a sua raiz primeira na unção do Batismo, o seu desenvolvimento na Confirmação e a sua perfeição e sustento na Eucaristia. É uma participação que se oferece a cada um dos fiéis leigos, enquanto formam o único corpo do Senhor. Com efeito, é a Igreja que Jesus enriquece com os seus dons. Assim, os cristãos participam na missão de Cristo enquanto membros da Igreja” (cf João Paulo II). Ser chamado, enviado em missão, produzir frutos. Ide vós também, para a minha vinha” (Mt 20, 4). Assim fala no Evangelho o dono da vinha, aos operários que ele contrata para trabalhar em distintas horas do dia. Assim fala também, desde o início da história do homem sobre a terra o Deus-Criador, o Dono Absoluto do universo: “Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e dominai-a” (Gn 1, 28). Esta frase do livro do Gênesis, indica as diretrizes essenciais da vocação do homem sobre a terra: família e trabalho. De fato, todos os homens e mulheres devem nascer e crescer numa família, que encontra o sustento no trabalho de seus membros”.

O Papa Francisco ensina: “Na página evangélica de hoje encontramos a parábola dos operários chamados a trabalhar ao dia, que Jesus narra para comunicar dois aspetos do Reino de Deus: Deus quer chamar todos a trabalhar para o seu Reino; e no final deseja oferecer a todos a mesma recompensa, ou seja, a salvação, a vida eterna. O senhor da vinha, que representa Deus, sai ao romper da manhã e contrata um grupo de operários, concordando com eles o salário de um denário por dia: era um salário justo. Com esta parábola, Jesus quer abrir o nosso coração à lógica do amor do Pai, que é gratuito e generoso. Trata-se de nos deixarmos surpreender e fascinar pelos pensamentos e pelos caminhos de Deus que, como recorda o profeta Isaías, não são os nossos pensamentos, não são os nossos caminhos (Is 55, 8). Os pensamentos humanos são muitas vezes marcados por egoísmos e interesses pessoais, e as nossas veredas estreitas e tortuosas não são comparáveis com os caminhos largos e retos do Senhor. Ele é misericordioso — não nos esqueçamos disto: Ele é misericordioso — perdoa amplamente, está cheio de generosidade e de bondade, que derrama sobre cada um de nós, abrindo a todos os territórios ilimitados do seu amor e da sua graça, os únicos que podem conferir ao coração humano a plenitude da alegria. Jesus quer levar-nos a contemplar o olhar daquele senhor: o olhar com que vê cada um dos operários à espera de um trabalho, chamando-os para a sua vinha. Trata-se de um olhar cheio de atenção e de benevolência; é um olhar que chama, que convida a erguer-se, a pôr-se a caminho, porque deseja a vida para cada um de nós, quer uma vida plena, comprometida, resgatada do vazio e da inércia. Deus não exclui ninguém e quer que cada um alcance a sua plenitude. Este é o amor do nosso Deus, do nosso Deus que é Pai.

Rezemos com a Igreja: Ó Pai, que resumistes toda a lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

 Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo diocesano