O Perdão

UMA ATITUDE DE AMOR

 

Estamos no 24º domingo do tempo comum. Mês da Bíblia. Mais do que homenagear um livro sagrado é um convite para aproximar-se e acolher a Palavra de Deus. Ler a Bíblia em família, intensificar os círculos bíblicos e valorizar a liturgia da Palavra na missa, na celebração da Palavra nas comunidades sem a presença de um padre.

Os cristãos se alimentam das fontes: A Eucaristia, celebrada e vivida; a Palavra de Deus lida e colocada no coração, a fonte do amor aos irmãos em especial aos pobres e sofredores e a fonte do testemunho de vida honesta, ética e fraterna. Quem coloca em sua vida e em sua família estas fontes: Eucaristia-Palavra e amor aos irmãos, vida honesta e sincera é impulsionado ser discípulo missionário de Jesus Cristo com fé e entusiasmo.

A Palavra de Deus neste final de semana, em especial o Evangelho (MT 18,21-35), toca numa das questões profundas da vida do ser humano, em especial ao cristão: O perdão. Saber perdoar. Mas o que se entende por perdoar? Perdoar não é humilhar-se, não é perder. Perdoar é a capacidade de recriar vida nova, de reassumir a missão, de sentir que o amor e a bondade são maiores do que o ódio.

O catecismo da Igreja Católica (2838) ensina que ao rezarmos “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido” estamos convictos de que Deus é a fonte da bondade, da misericórdia e do perdão. Perdoai-nos as nossas ofensas. É pedido de manifestação de confiança, mas “como nós perdoamos”. Por vezes exigimos o perdão de Deus, mas nosso coração fica empedernecido, cheio de ódio e rancor. É interessante perceber diante da violência que reina em nosso país, os sentimentos das pessoas e da mídia. Parece que a palavra “vingança” tomou novo rumo. Vingança através de guerras, vinganças numa simples discussão, vingança por uma ofensa recebida. Vingança que gera violência ativa. A palavra “reconciliação” e busca de novos caminhos de concórdia perderam o significado. E isso traz consequência graves para a sociedade. Papa Francisco ensina: “Rezar ao Pai perdoando todos, esquecendo os insultos – disse -, é a melhor oração que você pode fazer”: “É bom que às vezes façamos um exame de consciência sobre isso. Para mim, Deus é Pai, e eu o sinto Pai? E se não o sinto assim, mas peço ao Espírito Santo que me ensine a senti-lo assim. E eu sou capaz de esquecer as ofensas, de perdoar, de deixar para lá e se não, pedir ao Pai, ‘mas também estes são seus filhos, eles me fizeram uma coisa ruim… ajude-me a perdoar’? Façamos esse exame de consciência sobre nós e nos fará bem, muito bem. ‘Pai’ é ‘nosso. É ele que nos dá a identidade de filhos e filhas e nos dá uma família para “caminhar” juntos na vida”.

No Evangelho (Mt 18,35), Jesus ajuda a comunidade a entender a questão do perdão, do ódio e da inimizade. Pedro pergunta a Jesus “Senhor, quantas vezes devo perdoar se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes”. Veja a resposta de Jesus: “Não te digo até sete vezes, mas setenta vezes sete”, isto é: o perdão não depende de uma somatória matemática, mas é uma atitude permanente na vida. “O perdão é fundamental para que a comunidade não caia na ruina”. No livro do Eclesiástico (27, 33ss) assim Deus nos fala: “O rancor e a raiva são coisas detestáveis. Se alguém guarda raiva contra o outro/a como poderá pedir o amor a Deus? Se não tem compaixão de seu semelhante como poderá pedir perdão dos seus pecados”. Frases lindas que merecem reflexão para se transformarem em atitudes concretas de conversão

Há dentro do âmago do ser humana certa resistência ao perdão. Quantas pessoas guardam rancor no coração! E o pior que isto não ajuda a viver melhor. O coração humano precisa crescer numa dimensão da alegria e do perdão que traz vida. Às vezes as pessoas querem ser felizes, mas tem o coração carregado de rancores e inimizades. Isto é muito comum no casamento, nas relações com as pessoas, no cotidiano da vida. O rancor leva ao fechamento do coração, a um olhar triste, a uma situação de insatisfação interior, a uma situação de não se sentir feliz. Na medida em que o perdão vai se tornando uma atitude de vida o coração humano vai encontrando alegria e paz. Jesus é o modelo do perdão. Sempre está aberto para acolher aquele que se volta para ele, pois Ele é a vida e se manifesta com amor, perdão e misericórdia.  Perdoe meu irmão, perdoe minha irmã que sua vida vai ser mais feliz.

 Rezemos com a Igreja: “Ó Deus, criador de todas as coisas, volvei para nós o vosso olhar, para sentirmos em nós a ação do vosso amor, fazei que vos sirvamos de todo o coração. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo”. Amém.

 Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo de Rondonópolis-Guiratinga.