A vocação de conviver e compartilhar

Estamos no 23º domingo do tempo comum. A cor verde é sinal da esperança e da vida que brota das comunidades cristãs. Mês da Bíblia, da Palavra que Deus que penetra nos corações e ilumina os passos a seguir.

Ainda vivemos em tempo de pandemia com o distanciamento social e com apenas 30% da capacidade de ocupação do espaço do templo. Mais de 123 mil famílias perderam seus entes queridos. Muita dor, desemprego, doenças, angustias. Nossa palavra é de esperança e fé.

O evangelho (Mt 18,15-20) encaminha para uma reflexão sobre nossas posturas e atitudes. “Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão. Se não te escutar, toma contigo uma ou duas pessoas, a fim de que toda a questão se resolva pela decisão de duas ou três testemunhas. Se recusa ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano. Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu. Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus. Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”.

Duas atitudes são bem claras neste evangelho. A primeira se refere ao relacionamento com as pessoas, com a família, com a comunidade e com a sociedade. Ninguém está sozinho. Estamos sempre convivendo com pessoas. Esse é o dom maior: Conviver com as pessoas. Mas essa convivência nem sempre é harmoniosa. Quantas desavenças nas famílias, com os vizinhos, nos ambientes de trabalho, no trânsito. Quantas intrigas entre lideranças nas comunidades. Com a facilitação das redes sociais que tem sido um auxilio eficaz, mas que tem gerado discordância, acusações, vinganças, principalmente através de fake News.

 A vocação do ser humano é conviver com as pessoas e isso precisa-se buscar com todas as nossas forças. É preciso restaurar os relacionamentos quebrados e feridos. Como pássaros com azas quebrados já não podem mais voar. Como é triste quando na família ou na comunidade o desamor fere as pessoas, isola e distancia da comunidade. Jesus veio trazer uma nova relação entre as pessoas. O outro não é inimigo ou concorrente, mas irmão. Essa novidade o mundo necessita saber e viver. Diante do quadro da violência e da insegurança as pessoas estão cada vez mais se isolando. A desconfiança toma conta do coração, da mente e das posturas de vida. Isso implica nas relações pessoais, familiares e comunitárias. Cria-se uma sociedade insegura.

Uma segunda atitude diz respeito à oração em comum. “Onde dois ou três estão reunidos”. “A oração é a vida do coração novo. Deve animar-nos a todo o momento”. A Igreja incentiva a oração individual, mas a oração em comum é um aprendizado e força diante das pessoas e de Deus. Deus ouve o clamor e a súplica dos irmãos reunidos em oração. A oração em comum, erguendo a Deus um pedido que brota de corações unidos toca o coração de Deus. E atende os que os filhos e filhas elevam em preces. A razão dessa certeza vem de Jesus que ensina: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou ali, no meio deles” (Mt 18,20). Ninguém deve viver a fé de qualquer maneira ou abandoná-la quando passar por dificuldades ou quando as preces não são atendidas do modo como pedimos. Deus sabe do que necessitamos e nos dá o dom da vida. A oração tem um valor em si, ou seja, ela não é apenas para pedir. Mas a oração é uma forma de nos colocar diante de Deus, de se relacionar com Deus e escutá-lo. A escuta nos fortalece e faz revigorar a vida. A pessoa que reza acalma a sua mente e encontra mais significado para sua vida mesmo em meio às tempestades e desafios.

Papa Francisco nos ensina: “Quando um cristão não reza o seu testemunho é soberbo. Quem não reza é orgulhoso, é seguro de si, busca a própria promoção. Ao invés, quando um cristão reza e não se afasta da fé, fala com Jesus não como quem recita orações, mas falar com Deus de coração a coração. Pedimos ao Senhor a graça de não deixar de rezar, para não perder a fé. A graça de permanecer humildes, e assim não estaremos fechados, não fecharemos a estrada ao Senhor”. E continua. É fácil rezar para pedir bênçãos, mas mais difícil é a oração de louvor. Esta dá alegria e é pura gratuidade, pois a oração é, portanto, antes de tudo oração da alegria, depois oração de memória pela tomada de consciência de tudo o que o Senhor fez por mim! E, enfim, a oração ao Espírito Santo que nos conceda a graça de entrar no Mistério, especialmente quando celebramos a Eucaristia”.

Rezemos com a Igreja: Ó Deus, Pai de bondade, que nos redimistes e adotastes como filhos e filhas, concedei aos que creem no Cristo a verdadeira liberdade e herança eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo de Rondonópolis-Guiratinga