Uma procura um Tesouro

Estamos no 17º domingo do tempo comum. As cores dos paramentos e do espaço celebrativo são verdes. Sinal de vida e de esperança. Ainda continua o desafio da pandemia. Celebrações presenciais reduzidas, muito cuidado com a vida e saúde. Solidariedade com mais de oitenta mil famílias que perderam um ente querido, além do desemprego e desafios sociais que o vírus está trazendo. Mas a esperança nos move.

A Palavra de Deus (Mt 13,44-52) nos remete para encontrar um tesouro e lançar as redes. Parece que há no coração humano um desejo de “busca de tesouro”. Sonho de loterias, de premiação em bingos e outras promoções. Por vezes a vida está condicionada com os bens com fonte de felicidade e bem estar. Há no coração desejo de felicidade, de paz e realização. Buscar um tesouro… Que tesouro é este? Onde se encontra? Quem o encontra?

O evangelho ensina que um homem encontrou um tesouro. Logo quer comprar. Vai e vende tudo o que tem. O comprador entende que o tesouro é coisa que se compra e não algo que se conquista. Para encontrar este tesouro é preciso “vender, desligar-se, deixar de lado” o egoísmo, o individualismo, a falta de amor e de fé, o excessivo agarramento às coisas. Vender significa reconhecer Deus como maior riqueza. E neste encontro com Deus descobrir o irmão que está ao lado.

Sempre estamos a procura de algo que possa nos satisfazer e que venha atribuir sentido à vida. Em razão desta busca por vezes acabamos nos iludindo por acreditar que os bens, a fama, o sucesso profissional, a visibilidade, o aplauso possam preencher a vida. Os que possuem todos os bens se encontram com a mesma sensação de vazio e insatisfação. Segundo o Papa Francisco o tesouro da parábola é como “pequena obra-prima”. E para explicar as reações que alguém tem quando descobre este “grande tesouro” é como o agricultor, “que arando, encontra o tesouro inesperado” e o mercador de pérolas, “que após longa procura encontra a pérola preciosíssima”. Nos dois casos, continua o Papa, “o dado relevante é que “o tesouro e a pérola valem mais do que todos os outros bens”. Assim, os dois, “se dão conta do valor incomparável daquilo que encontraram e estão dispostos a perder tudo para possuí-la”. E continua: “Assim é para o Reino de Deus: quem o encontra não tem dúvidas, sente que é aquilo que buscava, que esperava e que responde às suas aspirações mais autênticas. E é realmente assim: quem conhece Jesus, quem o encontra pessoalmente, permanece fascinado, atraído por tanta bondade, tanta verdade, tanta beleza, e tudo numa grande humildade e simplicidade”. E aconselha o Papa: “Para encontrar o tesouro que Jesus indica é preciso ter um coração aberto. São quando leu o Evangelho, em um momento decisivo de sua juventude, encontrou Jesus e descobriu o Reino de Deus e então todos os seus sonhos de glória terrena desapareceram. O Evangelho faz você conhecer Jesus verdadeiro, o Jesus vivo; fala-te ao coração e transforma a tua vida. E então sim, deixa tudo. Você pode mudar efetivamente o tipo de vida, ou continuar a fazer aquilo que fazias antes, mas você é outra pessoa, você renasceu: encontrou aquilo que dá um sentido, sabor, luz a tudo, mesmo aos cansaços, aos sofrimentos, à morte. Tudo adquire um sentido quando encontras este tesouro, que Jesus chama ‘o Reino de Deus’, isto é, Deus que reina na tua vida, na nossa vida”.

Mas o que está escondido e procuramos? Cada ser humano carrega dentro de si um tesouro precioso. Deus se manifesta na criação, nas coisas, nas pessoas e na Palavra revelada. Ele é esse tesouro que buscamos. Está ao nosso alcance. Jesus Cristo revelou a face do Pai. “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9). São Paulo afirma: “Ó abismo de riqueza, de sabedoria e de ciência em Deus! Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos! Quem pode compreender o pensamento do Senhor? Quem jamais foi o seu conselheiro? Quem lhe deu primeiro, para que lhe seja retribuído? Dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele a glória por toda a eternidade! (Rm 11, 33-16). Pelo batismo e crisma somos imbuídos no mistério deste tesouro e assim podemos dizer “Abbá, Pai” e já não escravos, mas livres. Somos filhos amados de Deus. Essa experiência requer discernimento para não absorver a vida em coisas perecíveis, mas naquilo que verdadeiramente preenche a vida humana.

A parábola fala da realidade de hoje. O mundo é lindo, cheio de novidades, belezas e progresso, mas também de miséria, violência, pobreza, dependências químicas e desigualdades sociais. Nem sempre os caminhos para encontrar o tesouro de vida fraterna, solidária com fé, de amor a Deus e aos irmãos estão presentes nos projetos de vida das pessoas. Há tesouros jogados fora, trocados, esquecidos, perdidos. Como faz bem para o coração humano quando encontro o verdadeiro tesouro para a vida.

“O tesouro escondido ultrapassa todos os outros valores. O bem que está acima de todos os demais bens é o Reino de Deus é o próprio Jesus. Ele é o verdadeiro tesouro”. Pe. Zezinho bem expressa esta profundidade na canção: “A pedra preciosa”:

Eu quisera ter palavras para expressar

Tudo aquilo que se sente ao se encontrar

Uma estrela a nos guiar, uma voz a nos falar

Uma pedra preciosa pela qual a gente deixa

Tudo aquilo que pensava ter

Uma pedra preciosa pela qual a gente deixa

Todo o bem que a gente tem

Eu quisera ter palavras pra dizer

O que existe bem lá dentro do meu ser

Um desejo de saber, uma fome de entender

O porquê de tantos ais, tanta angústia e tanta paz

Nos caminhos a percorrer

O porquê de tanta dor

Tanto amor e desamor

Nos caminhos de viver.

Rezemos com a Igreja “Ó Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Por nosso Senhor Jesus Cristo na Unidade com o Espirito Santo. Amém”

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

 Dom Juventino Kestering.

Bispo da Diocese de Rondonópolis-Guiratinga