Cultivar a semente

Estamos no 16º domingo do tempo comum. Verde é a cor dos paramentos e do espaço litúrgico. Tempo de missão, de esperança, de vida. Mas ainda continua a pandemia que nos impede de uma vida de comunidade mais intensa, em especial com o grupo de risco. 

 

A Palavra de Deus (Mt 13,24-43) encaminha à dinâmica da vida. Jesus faz seu ensino através de parábolas e pequenas comparações: trigo e do joio, grão de mostarda e do fermente. O trigo semeado nasce com erva daninha que precisa ser arrancada, caso o contrário sufoca o trigo. O grão de mostarda é uma pequena semente que ao sopro do vento vai se espalhando na terra e ao germinar se torna um arbusto. E o fermente faz o pão levedar, crescer e se tornar saboroso. Cultivar uma semente exige cuidado e perseverança. Plantar uma árvore como laranjeira, abacateiro… requer paciência. São anos de cultivo e de cuidados até dar frutos. E Jesus falou a linguagem compreensível: o plantio da semente e o seu cultivo; o efeito do fermento na massa de pão e a pequeníssima semente do grão de mostarda. Tudo produz e dá fruto, mas requer tempo, paciência, cultivo e dedicação. 

Através dessas parábolas Jesus ensina a paciência, o cuidado, a dedicação e tolerância de Deus para conosco. Deus é muito mais do que uma semente, mas o cuidado de Deus para conosco é amor e salvação. Cresce a busca do cultivo da vida, da beleza, da corporeidade. É o desejo de permanecer no auge da juventude e prolongar o máximo o tempo de vida. Isso requer esforço, cultivo, perseverança e até renúncias. Há no ser humano uma inclinação para a grandeza, visibilidade, ostentação, superioridade, orgulho, ser vencedor. Por vezes valores como paciência, esperança, perseverança passam esquecidos. Vivemos num mundo inquieto e confuso, onde prevalece o descartável e tudo tem que ser feito às pressas.

O mundo, a comunidade, a família e o coração humano são terrenos onde a semente de Deus é plantada. É nosso dever cuidar a paciência e misericórdia conosco e com os outros, pois as sementes germinam e crescem de maneira diferente. Nem todas as plantas são iguais e crescem ao mesmo tempo. Nem todas as árvores crescem com a mesma rapidez e dão imediatamente frutos. Viver no meio de trigo e joio, fazer a semente crescer e dar fruto é a nossa missão. Esse é o esforça missionário. Daí a importância de nos fortalecer com a oração, caridade, reunir-se em grupo de família, participar da comunidade. Assim somos fortalecidos entre nós.  Por outro lado cresce a tendência de deixar de lado os pobres, dependentes químicos, idosos, doentes, pedintes, cadeirantes, moradores de rua, sem teto, sem amparo.

O papa emérito Bento XVI exorta: “Como o pequeno grão de mostarda, quando se desenvolve, torna-se uma árvore frondosa que oferece hospitalidade aos pássaros do céu, assim também as vossas Igrejas podem oferecer acolhimento àqueles que buscam motivações válidas para a sua vida e para as próprias opções existenciais”.

Papa Francisco ensina sobre a parábola do semeador: “A cena se desenvolve num campo em que o proprietário semeia o grão. Mas, certa noite, vem o inimigo e aí semeia a cizânia,”. Evoca o conceito de divisão. Sabemos que o Demônio é plantador de cizânia: está sempre à procura de dividir as pessoas, as famílias, as nações e o povo. Os empregados pretendiam arrancar logo a erva daninha, mas o patrão os impediu de fazê-lo, com essa motivação: para que não suceda que, ao recolherem a cizânia, vocês acabem arrancando também a boa semente. A cizânia quando cresce, se parece tanto com os bons grãos, que há o risco de confundi-los. A parábola diz que o mal que há no mundo não provém de Deus, mas do seu inimigo, o Maligno. É curioso. Este vai de noite semear a cizânia. De noite, na confusão, lá vai ele a semear a cizânia. Esse inimigo é astuto: semeou o mal em meio ao bem.. Às vezes, temos uma grande pressa para julgar, para classificar, para colocar aqui os bons, lá os maus. Lembrem-se da oração daquele homem orgulhoso que agradece a Deus, “porque eu sou um homem bom, não sou como aquele que é mau”. Ao contrário disso, Deus sabe esperar. Ele olha a vida de cada pessoa com paciência e misericórdia. Vê muito melhor que nós a perversidade e o mal, mas vê também o germe do bem e espera com e com confiança que amadureçam. Deus é paciente e sabe esperar. Como isto é belo! O nosso Deus é um pai paciente, que sempre nos espera, e nos espera com um coração humano, para nos acolher, para nos perdoar. Ele sempre nos perdoa, se vamos até ele”.

Rezemos com a Igreja: Ó Deus, sede generoso para com os vossos filhos e filhas e multiplicai em nós os dons da vossa graça, para que, repletos de fé, esperança e caridade, guardemos fielmente os vossos mandamentos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém

Que o Sagrado Coração de Jesus, patrono da Diocese, derrame abundantes graças e bênçãos sobre cada um de nós. Saúde aos doentes, alegria aos tristes, esperança aos desanimados.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo de Rondonópolis-Guiratinga