Dia Nacional dos Povos Indígenas

DIA DO ÌNDIO 

 

O dia 19 de abril é dia nacional dos Povos indígenas. Apesar de avanços e retrocessos em relação à politica indigenistas os preconceitos as ainda impedem a aproximação com a pessoa do índio brasileiro e, assim, nem sempre se consegue efetivar o objetivo proposto para esta data cívica que é de refletir a presença dos Povos indígenas espalhados praticamente em todos os estado da Federação.

Neste dia realizou-se Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado no dia 19 de abril de 1940, no México. Neste evento foi criado o Instituto Indigenista Interamericano com a meta de fazer valer os direitos dos índios nas Américas. Apenas em 1943, com a intervenção de Marechal Rondon, que o presidente Getúlio Vargas instituiu através do decreto-lei 5.540  o dia 19 de abril com sendo o “Dia do Índio” no Brasil.

Segundo o Senso do IBGE 2010, “a população indígena no Brasil aproxima-se a 896.917 pessoas, destes, 324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais, o que corresponde aproximadamente a 0,47% da população total do país”. Estão distribuídos em 305 etnias, falando por meio de 274 línguas tradicionais diferentes e que, pelo menos 77 grupos de índios isolados vivem na parte brasileira da floresta amazônica. No Mato Grosso, os números revelam que há em torno de 43 mil pessoas indígenas de 42 diferentes etnias. Entre elas, está o Povo Boe Bororo, que soma em torno de 1.600 pessoas distribuídas em 10 aldeias em nossa região, nas reservas Tereza Cristina, Perigara e Tadarimana. Onde ainda existem áreas verdes, trata-se de reservas indígenas. Para os povos indígenas, preservar a natureza é o primeiro princípio de vida.

No decorrer da Semana dos Povos indígenas, nas aldeias celebram e fortalecem sua cultura por meio de atividades tradicionais. É tempo de refletir  sobre a luta dos povos que dia após dia, séculos e séculos, buscam sobreviver as mais diversas situações degradantes da vida. Esta  busca por condições dignas de vida, deixa marcas profundas no âmago de cada etnia que tem seus direitos violados.

O preconceito machuca a vida dos indígenas, pois pessoas, grupos e politicas publicas consideram os índios como incapazes; tutelados pelo Estado, recebendo ‘pensão’ por ser índio; e classificando-os como todos beberrões e desocupados. Esquecem que a base da nação brasileira é a mistura de Índios, Europeus e Negros que formou esta nação marcada pela pluralidade e diversidade cultural. Além disso, moramos na mesma Casa Comum, e temos a mesma Mãe Terra, por isso, somos todos responsáveis pela sua preservação como aponta a Encíclica do Papa Francisco “Laudato Si: Cuidado com a casa comum” e também, a Campanha da Fraternidade 2020 com o lema “Viu, teve compaixão e cuidou dele”. O sínodo com o tema: “Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma Ecologia Integra”, bem como a Exortação Apostólica Pós-sinodal – Querida Amazônia”, o Papa Francisco insiste na valorização dos povos nativos, seus direitos, sua cultura, suas expressões religiosas. “É a partir das nossas raízes que nos sentam à mesa comum, lugar de diálogo e de esperanças compartilhadas. Desse modo, a diferença, que pode ser uma bandeira ou uma fronteira, transforma-se em uma ponte. A identidade e o diálogo não são inimigos. A própria identidade cultural aprofunda-se e enriquece-se no diálogo com os que são diferentes, e o modo autêntico de conservá-la não é um isolamento que empobrece. Por isso, não é minha intenção propor um indigenismo completamente fechado, a-histórico, estático, que se negue a toda e qualquer forma de me ti agem. Uma cultura pode tornar-se estéril, quando se fecha em si mesma e procura perpetuar formas antiquadas de vida, recusando qualquer mudança e relação com a verdade do homem. Isso poderia parecer pouco realista, já que não é fácil se proteger da invasão cultural. Por isso, cuidar dos valores culturais dos grupos indígenas deveria ser interesse de todos, porque a sua riqueza é também nossa”. (QA 37)

A falta de atualização e aproximação entre culturas, empobrece o diálogo afastando a sociedade ocidental das diversas sociedades indígenas, impedindo assim, o entendimento sobre as questões da demarcação de suas Terras, a preservação do meio ambiente, a falta de qualidade da saúde e educação e a ineficiência das políticas públicas. O Dia do Índio deveria ser um momento propício para lembrar a origem do povo brasileiro.

A diocese de Rondonópolis-Guiratinga tem presença nas aldeias Boe Bororo desde a década de cinquenta com as irmãs Catequistas Franciscanas especialmente na educação, saúde e testemunho do evangelho. Atualmente a presença da Igreja Católica se faz com o objetivo de preservar e promover a vida através do fortalecimento da cultura e com olhar cuidadoso para a cada pessoa. Assim, a aldeia Tadarimana, é acompanhada pelo Padre Arthur da Paróquia São José do Povo, com presença do Mestre Mário. Em Córrego Grande com a missionária Silvia Valentim Pinheiro, em Piebaga com a Irmã Valdina que reside na aldeia. Em Perigara, no alto Pantanal, a assistência é através de uma equipe entre eles Mestre Mário, Silvia e Padre Lauri Rodrigues, pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima.

Na semana dos Povos Indígenas deste ano procuremos entender mais sobre os desafios e anseios que estas pessoas vivem. O dia dos Povos Indígenas nos convida a olhar para o índio como uma pessoa que sente, se emociona, se angustia e sofre, que ama sua família, cuidam das crianças e dos idosos, experienciam o coletivo, que tem sonhos e esperanças de um futuro melhor para seus filhos.

“Antes de julgar, tente aproximar-se, dialogar e enxergar com seus próprios olhos, exercitando a empatia, a tolerância e a misericórdia. Não olhe para o índio como folclore, como incapaz”. Mudar o modo de olhar, aproxima, exercita a tolerância, valoriza as culturas, ajuda os grupos étnicos a crescerem. É o que ensina a Campanha da Fraternidade deste ano: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”.

 

Dom Juventino Kestering

Bispo diocesano